Em causa está o concurso aberto recentemente pelo SNS para a contração de 1.639 recém-especialistas, sendo 432 para a área de Medicina Geral e Familiar.
No entanto, cerca de metade das vagas são para a Região de Lisboa e Vale do Tejo, onde tradicionalmente muitos dos lugares a concurso ficam por preencher, existindo várias regiões no Norte e Centro do país, onde as vagas previstas não são suficientes para colmatar as saídas devido ao elevado número de aposentações.
“Como há poucas vagas a Norte e Centro, e os médicos que terminam o internato são maioritariamente destas regiões, o que vai acontecer, e que já aconteceu no concurso passado, é que estes colegas até entram numa vaga no Sul, mas acabam por se desvincular do SNS”, disse à Lusa Eurico Silva, médico de família e um dos organizadores da vigília.
Este profissional diz que “há um erro de distribuição das vagas”, dando como o exemplo o caso do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) do Baixo Vouga, que “tem neste momento 18 ficheiros sem médico de família e só foram abertas cinco vagas”.
“Vamos ficar com 13 ficheiros a descoberto e 24 mil utentes que ficam sem médico de família à espera de um próximo concurso”, observou o médico, que trabalha na Unidade de Saúde Familiar João Semana, em Ovar.
O profissional referiu ainda que, dos 10 internos que se formaram este ano no ACeS do Baixo Vouga e que vivem nesta região, “vão ficar, quando muito, cinco”, adiantando que os colegas que não conseguirem ficar numa vaga, acabam por ingressar na Medicina privada.
Na opinião deste responsável, a situação ainda vai piorar no futuro, porque, de acordo com as previsões, “nos próximos três a quatro anos há mais 61 médicos que vão entrar na reforma neste ACeS”.
“Se já estamos em deficitário, pior será para a frente. Não estou a imaginar, no próximo concurso, a abrirem 20 vagas no nosso ACeS”, disse.
O médico defende que o número de vagas abertas para cada ACeS deve corresponder às aposentações nesses locais: “Porque não abrir sempre uma vaga a concurso por cada ficheiro a descoberto, quando o sistema está justo em termos do número de utentes?”, questiona.
A vigília que está marcada para o sábado à noite junto às instalações do Centro de Saúde de Aveiro tem em vista “esclarecer a população e deixar bem claro que a degradação dos cuidados de saúde primários que se perspetiva para o ACeS Baixo Vouga num futuro próximo – e que não será mitigada com a ajuda deste concurso, muito pelo contrário – não pode ser vista como responsabilidade dos profissionais de saúde”, refere uma nota publicada na página da internet da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
LUSA/HN
0 Comments