“O facto de não ter um caso autóctone de paludismo em três anos indica que havia um grande trabalho feito, em termos do controlo do vetor e da doença”, avaliou o representante da OMS em Cabo Verde, Daniel Kertész, em nome de uma missão da organização que iniciou hoje, na Praia, uma visita de trabalho ao país para a pré-certificação para eliminação do paludismo.
Durante duas semanas, a equipa vai avaliar os avanços conseguidos no quadro da implementação das recomendações anteriores da OMS, orientar os profissionais e as autoridades de saúde, rever toda a documentação do país nesta matéria e apoiar na elaboração de um plano de ação e um cronograma para a certificação, em colaboração com as autoridades nacionais.
“O Ministério da Saúde e todos os profissionais de saúde neste país fizeram muito trabalho para assegurar a eliminação de circulação do paludismo”, prosseguiu, lembrando que uma das condições para obter a certificação é não ter nenhum caso autóctone durante três anos, sendo que o país já vai em mais de quatro anos sem casos de transmissão local, e no ano passado foram registados 21 casos importados.
Por esse facto, o representante da OMS disse acreditar que o país vai obter a certificação de eliminação, embora sem se comprometer com datas para isso acontecer, já que Cabo Verde vai ainda receber uma missão de certificação independente final.
O mesmo responsável insistiu que a atual missão vai identificar lacunas e desafios do país, enfatizando que outras das condições é a certeza que Cabo Verde não vai voltar a ter transmissão local da doença.
“Outra condição para a certificação é assegurar que o país pode gerir qualquer importação no futuro, para evitar o reestabelecimento do paludismo aqui”, apontou Daniel Kertész, para quem o país está em “boa condição” para obter a certificação.
A equipa iniciou os trabalhos com uma audiência com secretário de Estado-adjunto da Saúde, Evandro Monteiro, seguindo-se a participação num ‘workshop’ com as autoridades cabo-verdianas e responsáveis do Programa Nacional de Luta Contra o Paludismo (PNLP).
Além de encontros com várias instituições, os técnicos vão visitar as ilhas de Santiago, Boa Vista e São Vicente, tudo no âmbito do apoio da OMS ao Ministério da Saúde para a preparação de Cabo Verde para o processo de certificação da eliminação do paludismo.
Quem também acredita na obtenção do certificado de eliminação do paludismo é o diretor do programa nacional, António Moreira, referindo que para isso contribuiu o envolvimento do sucessivos governos, da população e de diferentes atores da sociedade civil.
“Acho que demos um passo grande na direção da eliminação do paludismo em Cabo Verde”, considerou o responsável, lembrando que Cabo Verde continua a ser um “país de risco e vulnerável”, por estar aberto e estar próximo de países endémicos e há condições climáticas para desenvolver o mosquito vetor.
“Tudo isso constitui um risco. Daí a necessidade, juntamente com a OMS, de elaborar um plano para evitar a reintrodução do paludismo, ou seja, todos os ganhos devem ser consolidados e exige a mudança de ‘chip’ a nível geral, da população, em relação a essa doença”, pediu.
Em maio, o Ministério da Saúde de Cabo Verde criou um comité consultivo independente para apoiar o processo de certificação, que é constituído por nove elementos, como académicos, especialistas em saúde pública, profissionais de saúde envolvidos noutros programas de controlo de doenças e representantes de setores da saúde, entre outros, tendo um mandato de dois anos, com o presidente a ser eleito pelos seus pares.
Segundo o Programa Nacional de Luta Contra o paludismo da Direção Nacional da Saúde, a doença caracteriza-se em Cabo Verde como sendo instável, de transmissão sazonal dependendo fortemente da pluviosidade, que se encontra presente em quatro ilhas (Santiago, Boa Vista, São Vicente e Maio).
A malária, uma doença curável, é transmitida entre humanos através da picada de um mosquito infetado, sendo uma das principais causas de morte a nível global.
LUSA/HN
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