Biópsia da Próstata: saiba quando fazer

20 de Julho 2022

O cancro da próstata é assintomático na fase inicial e os sintomas podem aparecer numa fase de doença avançada. Por isso, o acompanhamento médico a partir dos 40 anos é recomendado na presença dos principais fatores de risco. Para a restante população, começa aos 50.

O urologista José Sanches Magalhães, fundador do Instituto de Terapia Focal da Próstata, diz que “deve ser proposta a hipótese de deteção precoce do cancro da próstata a todos os homens entre os 40 e os 50 anos, bastando para tal a realização de análise ao sangue: o teste do PSA (Antigénio Específico da Próstata – Prostate Specific Antigen), especialmente aqueles com familiares diretos com cancro da próstata”.

Um valor do PSA aumentado implica o despiste de cancro da próstata. No entanto, outras situações podem ser responsáveis pelo resultado, tais como prostatite (aguda ou crónica), infeção urinária, retenção urinária, aumento benigno da próstata (HBP) ou realização de uma endoscopia, biópsia ou cirurgia da próstata. Assim, o diagnóstico apenas se confirma com uma biópsia positiva para células malignas.

Classicamente, para valores de PSA elevados, realizava-se a biópsia prostática transrectal aleatória (com 6 a 12 fragmentos). Mediante os resultados, podia-se avançar para cirurgia ou radioterapia.

No novo paradigma, para valores de PSA elevados, realiza-se a ressonância magnética multiparamétrica, por forma a auxiliar a biópsia transperineal de fusão.

A ressonância magnética multiparamétrica permite localizar com elevada fiabilidade o local dos tumores. Quando o seu resultado é normal, é pouco provável a existência de cancro da próstata clinicamente significativo (valor preditivo negativo na ordem dos 95%).

Já a biópsia transperineal de fusão utiliza um sistema tipo matriz com intervalos de 5 mm, o que permite uma localização tridimensional precisa e uma classificação adequada. Baseia-se num sistema de realidade aumentada em que a imagem da ressonância magnética multiparamétrica é sobreposta na imagem ecográfica em tempo real. Pelo facto de não ser transrectal, a taxa de infeções é praticamente nula. Mediante os resultados, tal como no método clássico, pode-se avançar para cirurgia, radioterapia, terapia focal ou vigilância ativa.

Em homens assintomáticos com um nível de PSA entre 3 a 10 ng/mL e um DRE normal, deve ser repetido o teste PSA antes de ser realizada investigação adicional. Se o novo PSA continuar elevado, realiza-se uma ressonância magnética ou recorre-se à calculadora de risco para indicação de biópsia.

Se a biópsia for considerada, a ressonância magnética pré-biópsia é obrigatória. Se a ressonância magnética for positiva (PIRADS>=3), deve ser realizada uma biópsia dirigida/fusão e sistemática.

Por fim, realiza-se a biópsia de próstata, usando a abordagem transperineal, devido ao menor risco de complicação infeciosa.

Tratamento

A técnica de diagnóstico é fundamental para identificar com precisão o foco a tratar.

“Enquanto as terapias radicais, como a prostatectomia radical ou a radioterapia, têm efeitos secundários muitas vezes irreversíveis, a terapia focal tem a vantagem de preservar as funções urinária e sexual, para além de ser uma técnica minimamente invasiva e com uma recuperação muito rápida”, explica Sanches de Magalhães.

Atualmente, muitos tumores são tratados adotando uma estratégia focal (mama e rim, por exemplo). As vantagens desta abordagem prendem-se com uma recuperação muito mais rápida e efeitos secundários praticamente nulos. A eletroporação irreversível – também conhecida por Nanoknife – é posta em prática com base na fusão das imagens de ressonância magnética e ecografia.

Trata-se de uma técnica que não danifica os tecidos e estruturas adjacentes às lesões, porque, em vez de usar calor ou frio extremos, utiliza impulsos elétricos para destruir as células cancerígenas. Por ser um tratamento focal, guiado por tecnologia de fusão de imagens de ressonância magnética e ecografia, permite tratar apenas a zona com doença clinicamente significativa.

Para Sanches de Magalhães, também médico no Instituto Português de Oncologia do Porto, “saídos de uma pandemia, em que os cuidados de saúde foram adiados ou até passados para segundo plano, é mais do que nunca, de extrema importância, alertar para a importância da prevenção do Cancro da Próstata. É o mais frequente no homem, no nosso país, e onde o seu diagnóstico precoce pode ser decisivo para ultrapassar a doença”.

Os dados mais recentes indicam que existem mais de seis mil novos casos por ano em Portugal. Cerca de 90% dos cancros deste tipo são detetados quando o tumor está localizado na próstata ou em torno dela, pelo que as taxas de sucesso do tratamento são elevadas, comparativamente com outros tipos de doença oncológica.

Apesar de a maioria destes tipos de cancro ser de evolução lenta, existem casos em que a doença se manifesta de forma mais agressiva. No entanto, a deteção do cancro da próstata numa fase precoce permite o tratamento, com uma taxa de cura que pode ultrapassar os 95%.

PR/HN/RA

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