A pandemia COVID-19 e a tecnologia disponível trouxeram algumas mudanças em muitos sectores da sociedade e cultura modernas. Da mudança dos procedimentos tradicionais de trabalho e escola para o sector da saúde, algumas transformações trazidas pela COVID vieram para ficar e outras vieram para ajudar a repensar os modelos. As organizações de saúde têm sido rápidas a aceitar e a adotar a maioria destas mudanças porque não podem ser apanhadas desprevenidas novamente se acontecer outra crise de saúde global. Por outro lado, o utente ou utilizador já não abdica de algumas dessas mudanças, ou chamem-lhes evoluções. Com esta aceleração da transformação digital na área da saúde, vislumbramos a criação de novos ecossistemas de saúde e a adoção mais rápida de soluções digitais; no entanto, ainda é difícil de vislumbrar que mudanças vieram para ficar e conquistar muitos utilizadores.
Vamos continuar a assistir a muitas mudanças no sector dos cuidados de saúde, de momento, as mais visíveis e importantes são: “Big Tech Health”; “E-Health”; “Alemanha, O paraíso da saúde digital”; “Prevenir para antecipar”; “Geração C”; “Está a chegar o metaverso?”.
As pesquisas relacionadas com saúde no motor de busca da Google representam 7% (70.000 pesquisas por minuto). Será óbvio prever que a Google pretende ser um gigante na Saúde. Desde muito cedo, em 2008, a Google lançou o seu 1º projeto nesta área Google Health, uma aplicação (app) que pretendia apenas registar e organizar os dados de saúde dos seus utilizadores. No entanto, os últimos desenvolvimentos indicam que as vias mais promissoras para a empresa são as relacionadas com a IA (Inteligência Artificial), software de monitorização remota e Cloud Computing. Mas a Google também é notória por descontinuar até os projetos mais ambiciosos dos seus planos.
Outra mudança estrutural na área da saúde é a aceleração do e-Health e, em particular, da Telemedicina. O e-Health é um mundo muito vasto que se define por uma prestação de cuidados de saúde que usa tecnologia de informação e comunicação eletrónica quando o prestador de cuidados e o doente não estão em contacto direto (definição retirada de Alvin B. Marcelo, … Boonchai Kijsanayotin, in Roadmap to Successful Digital Health Ecosystems, 2022). Neste tipo de comunicação, também se inclui ferramentas tão simples como o uso de e-mail, mensagem de texto, notificação push, websites e aplicações baseadas em dispositivos móveis.
A Covid-19 deixou a medicina virtual “sair do armário” e ser aplicada sem grandes regras. Agora é hora de repensar a sua aplicação. Se não o fizermos, existe o perigo de se tornar um pilar sem regras dos nossos cuidados médicos. Implementar a telemedicina de forma alargada ou demasiado rápido, poderá levar a uma prestação de cuidados mais pobres, com desigualdades e com mais suspeitas negativas para uma área tão sensível. A pandemia demonstrou que a medicina virtual é ótima para muitas visitas simples, de triagem inicial ou de seguimento. No entanto, precisamos ter consciência que há sinais e sintomas que a medicina virtual pode não detetar, sugerem alguns estudos.
A Alemanha tornou-se um modelo na gestão de inovação da saúde digital. Já no final de 2019, o parlamento alemão aprovou a Lei dos Cuidados de Saúde Digital (Digitale-Versorgung-Gesetz – Lei de Fornecimento Digital, ou DVG). Esta lei pretende facilitar a introdução e determinação dos benefícios destas novas ferramentas. Os pontos mais importantes, talvez sejam, a formalização de “prescrição de aplicações”, que incluem software padrão, SaaS e mobile, bem como aplicações baseadas no browser, e a criação de processos fast-track, um caminho regulamentar acelerado para as empresas levarem as suas aplicações digitais de saúde para o mercado.
No rescaldo imediato da passagem da DVG, a pandemia Covid-19 sublinhou ainda mais a necessidade de ferramentas digitais seguras e eficazes para apoiar a monitorização remota e a prestação de cuidados em todo o mundo. A introdução oportuna da DVG significa que a Alemanha está pronta a dar o exemplo para outros países na adoção e difusão de tecnologias digitais para melhorar os resultados dos seus utilizadores.
Outra tendência muito visível no mercado é a previsão da doença. As tecnologias digitais de saúde oferecem formas de autogestão da saúde, com foco na previsão de doenças em vez de simplesmente tratá-las. Os dispositivos digitais mais simples já estão a ajudar a controlar a frequência cardíaca e o açúcar no sangue. Ao receber estes alertas, o utente pode visitar um prestador de cuidados de saúde e assim reduzir as idas às urgências.
Os hábitos de saúde gerados no pós-covid – Geração C. Os zillennials valorizam cada vez mais a sua saúde e bem-estar. A crise na saúde acelerou esta tendência que já começava a tomar conta dos jovens dos 20 e 30 anos. Segundo o INE (de Espanha), quase 12% da população faz parte desta faixa etária composta por zillennials (os millennials mais jovens). Esta geração gere a pandemia numa fase vital marcada por novos começos e mudanças constantes, pelo que é comum nestes “nativos digitais” preocuparem-se especialmente com o seu próprio bem-estar (online ou offline).
As novas gerações entendem a saúde como um elemento integral, que engloba a aptidão física, alimentação, exercício, aparência. Para os jovens, estar bem implica um equilíbrio entre todos estes fatores.
Está a chegar o metaverso? – a jornada de fornecedores de saúde para o mundo virtual. «O metaverso é um conjunto de espaços virtuais que podem ser criados e explorados com outras pessoas que não estão no mesmo espaço físico. Será possível sair com amigos, trabalhar, brincar, aprender, fazer compras, criar e muito mais. Não se trata necessariamente de passar mais tempo online mas tornar o tempo que passa online mais significativo. O metaverso não é um único produto criado apenas por uma empresa. Tal como a internet, o metaverso existe quer o Facebook esteja lá ou não. E não será construído de um dia para o outro. Muitos destes produtos só estarão completos nos próximos 10-15 anos.» Definição do Facebook, blog corporativo de 27 de setembro 2021.
Todo o ecossistema da Saúde está a mexer a vários níveis. Ainda é difícil definir um cenário claro a médio prazo, e, deste modo, torna-se ainda mais importante continuarmos atentos. Em jeito de conclusão, estas seriam as principais tendências de 2022 a realçar e a seguir com alguma atenção:
As tecnológicas crescem, e ameaçam tomar o lugar de prestadores de saúde tradicionais, empoderados por dados e pela sua capacidade de atendimento ao cliente.
A telemedicina passa de moda a necessidade com a entrada de governos, start-ups, empresas de telecomunicações e outras para regular e aproveitar as oportunidades deste novo caminho. O cliente aplaude este tipo de soluções, mas continua a querer ver o médico.
A figura do doente autónomo cresce, e adere facilmente a ferramentas para gerir a sua própria saúde.
Aparecem novos formatos de serviços de saúde, especialmente em alguns países, como forma de resposta a uma medicina ou a uma prestação de cuidados de conveniência.
O conceito de saúde continua a expandir, empurrado para um novo tipo de doente/utente – especialmente os millennials e geração Z – que se preocupa mais com o seu bem-estar de forma geral.
A realidade virtual e aumentada veio para ficar no sector da saúde nas áreas da reabilitação, educação e relação com doente/utente.
Robôs assumem cada vez mais tarefas tradicionalmente atribuídas a pessoas e aportando redução de custos, omnipresença, monitorização e mesmo emotividade.
Da prevenção à antecipação: serviços para identificar potenciais doenças no futuro.
As novas gerações têm uma relação diferente com o médico: eles sabem mais e pedem mais rapidez, transparência e controlo.
Na comunicação e ligação com o doente/utente, o Tiktok e o metaverso abrem novas possibilidades.
Artigo baseado no Relatório health & trends – relatório de tendências de saúde, de Juan de los Ángeles (C4E)
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