Beber um digestivo ajuda e torna a digestão mais rápida? Ciência não confirma e aconselha caminhadas

27 de Agosto 2022

A oferta é variada: licores, brandies, cognac ou um vinho do Porto? A etiqueta indica que os digestivos sejam consumidos no final da refeição. O nome dado a esta categoria de bebidas alcoólicas permite associar ao processo de digestão. Mas será verdade que ajudam no processo ou será apenas uma coincidência?

O termo digestivo é uma tradução do francês “digestif” e esta categorização aplica-se a bebidas que se consomem no final da refeição. Antigamente, acreditava-se que o álcool ajudava na produção da enzima pepsina para digerir os alimentos, assim como potenciava as secreções libertadas pelo pâncreas e pela bexiga. Além disso, a composição à base de ervas podia também atuar no processo da digestão.

Por outro lado, as bebidas apelidadas de aperitivos – também do francês “aperitif” – são consumidas antes da refeição devido ao sabor amargo que, segundo se acreditava, faz aumentar o apetite.

O consumo de aperitivos e digestivos está muito ligado à cultura mediterrânea, região onde se produzirem alguns mais afamados licores. Itália, França, Espanha e Portugal são produtores e diferentes tipos de digestivos – do cognac aos pomace brandies, passando pelos vinhos frutados do Porto e da Madeira.

No entanto, um estudo publicado no “Journal of Gastrointestinal and Liver Diseases”em 2008, analisou o impacto do consumo de bebidas alcoólicas digestivas no tempo de digestão de alimentos sólidos e não identificou uma aceleração do período necessário para a digestão. Neste estudo, foram analisados os vários digestivos – brandy, licores à base de ervas, aquavit, brandy Williams de pera. O valor tido como referência foi o de uma refeição acompanhada com água.

No mesmo estudo, os investigadores descobriram que uma caminhada lenta – a cerca de quatro quilómetros por hora – depois da refeição acelera o processo de digestão. Também o consumo de café expresso no final da refeição foi analisado, não obtendo uma diferença significativa do valor de referência. “O consumo pós-prandial de digestivos alcoólicos não afeta a taxa de esvaziamento gástrico de uma refeição sólida nem as queixas dispépticas pós-prandiais. No entanto, uma caminhada pós-prandial acelera o esvaziamento da refeição, mas não tem efeito nos sintomas dispépticos”, concluíram os investigadores.

Um outro estudo, de 2005, sobre o impacto do consumo de álcool durante a refeição no processo de digestão, concluiu que o consumo de álcool – vinho ou cerveja – aumenta o tempo que a digestão demora a concluir.

Isso significa que, de facto, o termo digestivo foi atribuído a este tipo de bebidas por se acreditar que ajudavam a produzir uma enzima digestiva. No entanto, um estudo que analisou o impacto do seu consumo depois das refeições mostra que o tempo para atingir metade de esvaziamento gástrico não diminui significativamente.

Texto publicado ao abrigo da parceria entre a plataforma de Fact Checking Viral-Check e o Heathnews.pt

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