Um novo estudo liderado por Luís Graça, Investigador Principal do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e por Manuel Carmo Gomes, Professor Associado com Agregação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e ambos membros da Comissão Técnica de Vacinação contra a COVID-19 da Direção Geral de Saúde, mostra que pessoas vacinadas que foram infetadas pelas primeiras subvariantes Ómicron do vírus SARS-CoV-2, em circulação em janeiro e fevereiro de 2022, têm uma proteção considerável contra a infeção pela subvariante Ómicron BA.5, que circula desde Junho, sendo agora a variante dominante na maioria dos países.
Este é um dos primeiros estudos a nível mundial que analisa, em pessoas vacinadas, a probabilidade de se infetarem com a subvariante atualmente em circulação, estimando o grau de proteção conferido por infeções com variantes anteriores e utilizando dados do mundo real.
“As pessoas vacinadas que foram infetadas pelas subvariantes Ómicron BA.1 e BA.2 têm uma proteção contra a infeção com a subvariante BA.5, em circulação desde junho, cerca de quatro vezes superior a pessoas vacinadas que não foram infetadas em nenhuma ocasião”, começa por explicar Luís Graça, colíder do estudo. “As infeções em 2020 e 2021, que ocorreram pela infeção com variantes anteriores do vírus SARS-CoV-2 (linhagem ancestral, variante Alfa e Delta) também conferem proteção contra a infeção para a variante Ómicron mais recente, embora essa proteção não seja tão elevada quanto a dos indivíduos infetados com as variantes BA.1 e BA.2, no início de 2022”, continua Luís Graça.
“Estes resultados são muito importantes porque as vacinas adaptadas que estão em desenvolvimento clínico, bem como a vacina bivalente da Moderna, recentemente autorizada no Reino Unido, são baseadas na variante BA.1 do vírus que causa COVID-19, que foi uma variante dominante nas infeções em janeiro e fevereiro de 2022. Até agora, não se sabia qual o grau de proteção que esta subvariante confere contra o vírus que está neste momento em circulação. Estes resultados mostram que a proteção é muito significativa e permitem antecipar o benefício das vacinas que se encontram neste momento em desenvolvimento clínico”, acrescenta Luís Graça sobre a relevância do estudo.
Para realizar este estudo, os investigadores tiveram acesso ao registo dos casos de COVID-19 a nível nacional. “Usámos o registo nacional de casos de COVID-19 para obter a informação de todos os casos de infeções por SARS-CoV-2 na população com mais de 12 anos residente em Portugal. A variante do vírus de cada infeção foi determinada tendo em conta a data da infeção e a variante dominante nessa altura. Considerámos as infeções causadas pelas primeiras variantes de Ómicron BA.1 e BA,2 em conjunto porque a transição entre ambas foi muito lenta, não permitindo a sua distinção”, explica Manuel Carmo Gomes, responsável pela compilação e tratamento dos dados usados neste estudo. “Com estes dados, analisámos a probabilidade de uma pessoa infetada voltar a ser infetada pela variante atual, o que nos permite calcular a percentagem de proteção conferida pelas infeções prévias”, explica João Malato, estudante de doutoramento do grupo de Luís Graça e primeiro autor do estudo.
“Este estudo permite ainda desconstruir a perceção de que as variantes anteriores de SARS-CoV-2 não conferem proteção para a variante atual, que foi motivada pelo elevado número de pessoas infetadas no início de 2022 que foram de novo infetadas nos últimos meses. Na verdade, esta análise da população portuguesa mostra que a aparente falta de proteção se devia ao facto de que a proteção ainda que significativa não era de 100% e ao elevado número de casos em Portugal no primeiro trimestre de 2022.”, salienta Válter Fonseca, coautor deste estudo e coordenador da Comissão Técnica de Vacinação da DGS.
Este trabalho foi realizado no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes e pela Direção Geral de Saúde, em colaboração com investigadores do Centro de Estatística e Aplicações da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa .
Este trabalho foi financiado pelo programa Horizon 2020 Research and Innovation da União Europeia, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT, Portugal) e pelo National Institute of Health.
Fonte: Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
FMUL/HN
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