Segundo o estudo, o mais abrangente a analisar a mortalidade maternal e neonatal naquela região em guerra, o número de mulheres que morrem durante a gravidez ou os 42 dias após o parto é atualmente cinco vezes superior ao que era antes da guerra.
Já as crianças até aos 5 anos estão a morrer duas vezes mais frequentemente, muitas vezes por razões facilmente evitáveis, revela o estudo, ainda não publicado, mas cujas conclusões foram partilhadas pelos autores com a agência Associated Press (AP).
A guerra entre o Governo da Etiópia e as forças do Tigray isolou o estado etíope do resto do mundo, privando-o de serviços básicos como eletricidade, telefone, Internet e banca.
Investigadores apoiados pelas Nações Unidas concluíram no mês passado que todos os lados do conflito cometeram abusos e acusaram o Governo etíope de usar a fome como arma de guerra.
O chefe da diplomacia europeia disse esta quinta-feira que a guerra no Tigray é “uma das piores crises humanitárias provocadas pelo Homem no mundo”.
As partes em conflito foram convidadas para conversações de paz mediadas pela União Africana este fim de semana na África do Sul.
Uma pausa na guerra no início deste ano permitiu que milhares de camiões de ajuda humanitária entrassem em Tigray, mas os combates recomeçaram em agosto e interromperam a ajuda a uma região onde suprimentos médicos essenciais como insulina e vacinas infantis acabaram.
Há uma “extrema escassez” de medicamentos e equipamentos, concluíram os investigadores apoiados pela ONU.
As grávidas e as crianças estão entre os mais vulneráveis.
O estudo agora conhecido, realizado entre maio e junho por autoridades de saúde locais com apoio financeiro de duas agências da ONU, analisou mais de 189.000 famílias em seis das sete zonas da região.
Segundo as conclusões, a mortalidade materna foi de 840 mortes por 100.000 nascidos vivos, quando antes da guerra era de 186.
Hemorragia obstétrica e hipertensão foram as causas mais comuns.
“Esse nível é inaceitavelmente alto e é comparável ao nível de 22 anos atrás”, diz o estudo.
Mais de 80% das mães morreram fora de uma unidade de saúde, alerta ainda o estudo.
Antes da guerra, mais de 90% das mães tinham cuidados pré-natais e mais de 70% beneficiavam de parto qualificado, de acordo com uma análise publicada na revista BMJ Global Health no ano passado.
O aumento da mortalidade materna em Tigray foi “fenomenal”, disse o Fundo de População da ONU este ano.
A mortalidade neonatal – crianças que morrem nos primeiros 28 dias de vida – foi de 36 em 1.000 nascidos vivos, o que representa um aumento de quatro vezes em relação aos níveis anteriores à guerra, e mais da metade das mortes ocorreram em casa sem intervenção médica.
As causas mais comuns foram prematuridade, infeções e asfixia perinatal, ou a incapacidade de estabelecer a respiração ao nascimento.
A mortalidade infantil (menos de 5 anos) foi de 59 em 1.000 nados vivos, o dobro do que era antes da guerra.
“Doenças evitáveis com vacinas, como a diarreia, a pneumonia ou a pertussis foram a maioria das causas”, conclui o estudo.
Os investigadores querem partilhar os seus resultados com a comunidade internacional e a ministra da Saúde da Etiópia, Lia Tadesse, que também é ginecologista.
Questionada sobre as conclusões do estudo pela AP, a ministra escusou-se a comentar.
LUSA/HN
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