Jaime Melancia: “Médicos de família podem e devem tratar as formas leves de psoríase”

14 de Outubro 2022

O desenvolvimento das tecnologias digitais tem-nos ajudado a disseminar o conhecimento sobre a doença junto de um público mais amplo. Usamos esses meios com a ajuda de figuras públicas e, nos últimos tempos, na realização de campanhas muito dirigidas aos jovens, motivando-os a procurar ajuda e tratamento

A Medicina Geral e Familiar “pode e deve” avançar com o tratamento das formas leves da psoríase, defende Jaime Melancia. O presidente da PSO Portugal – Associação Portuguesa da Psoríase sublinha o esforço feito pela associação na formação dos médicos de família e na divulgação da doença junto da sociedade, designadamente com o mais recente concurso de talentos “PSO Friends – Faz uma Cena”, com foco nos mais jovens.

HealthNews (HN) – Quais são as maiores dificuldades dos doentes com psoríase em Portugal?

Jaime Melancia (JM) – A psoríase é uma doença com um forte estigma social. Por vezes é confundida com uma mera condição da pele mas, na realidade, é uma doença autoimune que, embora se manifeste na pele, tem muitas implicações ao nível de outros sistemas do corpo humano e da saúde mental. Fruto de algum desconhecimento que persiste na população em geral, apesar dos esforços de divulgação por parte da PSOPortugal, há pessoas que ainda pensam que é uma doença contagiosa, quando não o é, de todo. Por outro lado, é também muito comum o próprio doente sentir vergonha da sua doença.

Para além do desconforto e mal-estar que provoca, o estigma associado à psoríase conduz frequentemente a situações de perturbação da ansiedade nos doentes e até, nalguns casos, a depressão e tentativas de suicídio.

Em termos médicos, o grande desafio consiste num diagnóstico o mais precoce possível de uma doença crónica que irá acompanhar o doente durante toda a sua vida e no tratamento mais adequado.

Felizmente, hoje, há tratamento para quase todas as formas de psoríase. O difícil é chegar lá pela dificuldade de acesso à consulta de especialidade de dermatologia nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Os doentes que têm capacidade económica ou seguros de saúde recorrem ao setor privado mas todos os outros pedem ajuda, em primeiro lugar, ao médico de família, nos centros de saúde.

HN – Considera que as formas mais leves de psoríase podem ser tratadas pelos médicos de família?

JM – Podem e devem. Felizmente, a maioria dos casos são leves e podem ser tratados com medicamentos que conseguem controlar a doença nessa fase. Desde que sejam os medicamentos adequados, claro está.

Os médicos de família têm vindo a adquirir um conhecimento da doença cada vez maior, fruto até da sua participação em ações de formação dinamizados pela PSOPortugal, em colaboração com dermatologistas.

HN – Quais são as outras vertentes de atuação da PSO Portugal?

 JM – A nossa ação incide sobretudo na sociedade e junto do poder político. Temos, designadamente, uma grande preocupação com os mais jovens, devido ao estigma social.

A psoríase é muito prevalente nos jovens adultos e, mais adiante, aos 50/60 anos. Mas os mais velhos lidam melhor com os aspetos psicológicos da doença. Já para os jovens, é uma situação muito perturbadora e com forte impacto na sua vida.

O desenvolvimento das tecnologias digitais tem-nos ajudado a disseminar o conhecimento sobre a doença junto de um público mais amplo. Usamos esses meios com a ajuda de figuras públicas e, nos últimos tempos, na realização de campanhas muito dirigidas aos jovens, motivando-os a procurar ajuda e tratamento.

No ano passado realizámos uma série de seis episódios bem humorados, o  PSOFriends, criados pelo apresentador e guionista de televisão Luís Filipe Borges, que também sofre da doença, e protagonizados por “atores” escolhidos entre os próprios doentes.

Nesses episódios colaboraram ainda especialistas (dermatologista, reumatologista, psicólogo, nutricionista, etc.) que explicam os vários aspetos da psoríase, fazendo ver aos jovens que o facto de se sentirem isolados é muito prejudicial.

HN – O isolamento foi um dos aspetos mais marcantes que a PSOPortugal encontrou nos focus groups que precederam a realização dessa campanha?

JM – Sim. Reunimos focus groups por escalões etários (entre os 15 e 35 anos) e fomos conversar com eles. Só o facto de estarem reunidos já foi, para os doentes, uma terapia. Todo esse ambiente comprovou como é importante a convivência entre os jovens. Sentem-se integrados junto dos seus pares.

Este ano levámos o PSOFriends às escolas, em formato de concurso de talentos. São os próprios jovens que se candidatam a recrear algumas das cenas que estão à sua disposição num site criado para o efeito (www.fazumacena.pt). A iniciativa, que teve a aprovação e colaboração da Direção-Geral da Educação e que tem sido um sucesso em termos do número de pessoas envolvidas, culminará com uma final e um grupo vencedor.

Brevemente, iremos dar a conhecer o “PSOFriends – Faz uma Cena” no Encontro de Jovens da Europso (federação das associações europeias de doentes psoriáticos), e também no Dia Mundial da Psoríase, que se celebra no próximo dia 29 de outubro com o lema “Unidos para a ação”.

 

 

 

 

 

 

 

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