A Associação Rede Portuguesa de Humanidades Médicas pretende “a promoção de encontros regulares e colaborações interinstitucionais para a promoção, desenvolvimento e consolidação desta área emergente, as humanidades médicas”, disse à agência Lusa Manuel Quartilho, um dos elementos da comissão organizadora do encontro.
“Acreditamos nos potenciais impactos benéficos que esta área emergente tem para a saúde”, ao nível da investigação e formação dos profissionais de saúde, mas também nas intervenções no terreno, seja nos hospitais, centros de saúde ou outras associações de doentes, afirmou Manuel Quartilho, professor auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e responsável do hospital de dia do Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC).
Segundo o médico, o que de alguma forma justifica o encontro tem a ver com “uma certa tendência de desumanização nos cuidados médicos e também com a comercialização dos cuidados de saúde”.
“Disto resultou um tempo insuficiente para vermos os doentes (…). A tecnologia, que é útil, naturalmente, pode desviar a atenção para as máquinas, para os computadores, em desfavor daquilo que é a comunicação clínica”, declarou.
Por outro lado, referiu haver “incentivos crescentes que colocam o lucro acima dos doentes”, assinalando ainda que “o reducionismo biomédico presta atenção à dor, mas não valoriza a importância e o impacto do sofrimento”.
“E depois há culturas institucionais que, de alguma forma, favorecem o aparecimento de problemas psicopatológicos nos estudantes e também nos professores universitários”, adiantou.
Manuel Quartilho explicou que o objetivo do encontro é “sensibilizar as pessoas para a necessidade de uma convergência interdisciplinar de conhecimentos”, realçando que na iniciativa vão estar médicos, sociólogos, psicólogos e antropólogos, mas igualmente pessoas com formação em comunicação, espiritualidade e religião, e especialistas em direitos humanos.
“Aquilo que nós queremos é encontrar um espaço de diálogo entre conhecimentos interdisciplinares e também com o objetivo de encontrarmos motivos para uma intervenção médica que transgrida, digamos assim, aquilo que é o domínio da medicina convencional, ou seja, fazer ou tentar fazer com que os jovens médicos fiquem sensibilizados para a necessidade de saberem mais alguma coisa para além daquilo que é ensinado nas faculdades de Medicina”, salientou.
O docente frisou que se pretende “valorizar a importância das humanidades e das ciências sociais enquanto conhecimentos adjuvantes para a teoria e prática médicas”.
“A abordagem que é proposta pelas humanidades médicas é multidisciplinar e interdisciplinar, que valoriza aquilo que, muitas vezes, não é valorizado no âmbito da teoria e prática médicas”, acrescentou, exemplificando com os “contextos em que a doença ocorre”, pelo que, para esse efeito, se socorre “da importância e dos contributos da História e da Antropologia”.
O II Encontro da Rede Portuguesa de Humanidades Médicas decorre, a partir das 09:00, na Sala de São Pedro da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, e inclui a apresentação do livro “Manual de Comunicação Clínica”.
Trata-se de uma iniciativa organizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e o Serviço de Psiquiatria do CHUC, que vai abordar os seguintes temas: “Refugiados, trauma e sofrimento”, “Medicina e direitos humanos”, “Filosofia, Medicina e saúde mental”, “Saúde mental e cinema: novas perspetivas”, “Saúde mental e espiritualidade”, “As palavras contam. Saúde e comunicação”, “Medicina narrativa” e “A humanização de cuidados em saúde”.
LUSA/HN
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