Educação Física “tem de ser expandida ou reintroduzida” no currículo

26 de Outubro 2022

O especialista em saúde mental no desporto Paul Wylleman, que trabalha com a equipa olímpica da Bélgica, explicou, em entrevista à Lusa, que a Educação Física “tem de ser expandida ou reintroduzida” no currículo escolar.

Para o especialista belga em saúde mental, Portugal beneficiará de uma estratégia que interligue prática desportiva, educação e sociedade, trazendo outra valência à Educação Física que possa recentrar a saúde mental e física como importante, numa fase de desenvolvimento inicial e média de crianças e jovens.

“Tentemos não ficar apenas no desporto de elite, mas olhar para outros domínios em Portugal. Nas escolas, o que se faz pela saúde mental? É preciso ver se é possível usar outras coisas, promover intercâmbios de estratégias”, explica, em entrevista à Lusa.

Wylleman, que hoje fala num evento da Comissão de Atletas Olímpicos, em Lisboa, respondia em vários pontos ao que pode ser feito pela saúde mental no desporto nacional, citando exemplos de outros países europeus para sustentar a sua tese.

Num país nórdico, há várias décadas, “as crianças de infantário, ao brincar, aprenderam a fazer exercícios de respiração, de relaxamento”, conta, mostrando “um dos elementos importantes na saúde mental, que é saber usar a respiração para reduzir a ansiedade”.

Nos Países Baixos, onde trabalhou com a equipa olímpica durante mais de oito anos, estando em dois Jogos Olímpicos, Rio2016 e Tóquio2020, a pergunta que as autoridades desportivas colocaram foi: “porque é que vamos esperar até haver um problema?”.

“Porque não introduzir, logo nos clubes para crianças, estas pequenas coisas simples que podem fazer, e que os acompanharão ao longo do desenvolvimento, desde os oito, 10 anos”, aponta.

Numa “abordagem desenvolvimental, que é essencial”, a ideia “é não esperar até ao patamar sénior”, por ser “mais fácil introduzir no dia a dia, ou uma vez por semana, junto de crianças e jovens” uma série de técnicas, ferramentas e informação que evite problemas, mais tarde, ou possa levar a vertente de desempenho e evolução atlética mais longe.

Professor universitário em Bruxelas, onde ensina estudantes de Ciências de Desporto, o belga reflete também no papel da Educação Física no currículo escolar, uma disciplina que “tem de ser expandida ou reintroduzida”, porque “uma parte da saúde mental é a saúde física”.

“Deixámos de ter desporto, fazer desporto, agora, é fora das escolas. E substituímos com outras coisas. Precisamos de educação física, e se ensinarmos os seus professores, poderão ter um grande impacto na saúde mental” de crianças e jovens, nota.

Assim, atuais e futuros professores precisam “de elementos, ferramentas, e conhecimento, sobre saúde mental”, seja no ensino básico e secundário, seja como professor ou mesmo alguém ligado a atividades ocupacionais, como com a terceira idade.

Paul Wylleman sugere ainda a Portugal que possa “identificar, no país, especialistas que possam ajudar treinadores e atletas”, seja com o lado ‘positivo’ da saúde mental, isto é, para os poder levar a melhores resultados e práticas, quer pelo negativo.

“É um desafio para federações e para o Comité Olímpico de Portugal, ter a responsabilidade por uma rede de peritos. […] Nos Países Baixos, temos cinco centros de treino olímpicos, e em cada um tinha uma equipa com vários profissionais, a trabalhar em conjunto com atletas e treinadores”, refere.

Doutorado em psicologia, Paul Wylleman é professor na Vige Universiteit, em Bruxelas, e atualmente trabalha com a equipa olímpica da Bélgica, desenvolvendo a sua atividade como investigador e profissional nas áreas da psicologia do desporto, desenvolvimento de performance e apoio mental a atletas, entre outros.

Presidiu à Federação Europeia de Psicologia Desportiva e acumula décadas de trabalho na área.

LUSA/HN

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