Representantes dos utentes dos concelhos de Alenquer, Azambuja, Vila Franca de Xira (distrito de Lisboa) e Benavente (distrito de Santarém) concentraram-se na tarde de ontem junto da residência oficial do primeiro-ministro, entregando depois um abaixo-assinado e uma moção, a exigir médicos para aqueles municípios.
“Em fevereiro deste ano estes concelhos tinham cerca de 83 mil utentes sem médico de família” e hoje, porque alguns médicos se foram embora, “há perto de 100 mil utentes sem médico de família nos concelhos do estuário do Tejo”, disse à Lusa Domingos Pereira, um dos organizadores da concentração e que fez parte da comitiva que entregou os documentos no gabinete de António Costa.
Domingos Pereira, da direção nacional do Movimento de Utentes de Serviços Públicos (MUSP) e coordenador da Comissão de Utentes do Concelho de Benavente, acrescentou que a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo tem cerca de 80% dos utentes sem médicos de família de todo o país, o que considerou um contrassenso, por ser “uma zona onde aparentemente há melhores condições para que os médicos possam exercer”.
Os movimentos de utentes dos quatro concelhos já tinham feito no final de setembro concentrações em 10 unidades de saúde, votando então a moção que ontem foi entregue.
A falta de médicos é a principal causa das iniciativas nos quatro concelhos.
“Temos centros de saúde e não temos médicos. Isso faz com que estes utentes sem médicos de família tenham de recorrer às urgências hospitalares, como se estas fossem grandes centros de saúde, que não são, e isto vai distorcer tudo, vai aumentar os custos para o Serviço Nacional de Saúde e para os utentes, e o sofrimento para os utentes”, explicou Domingos Pereira.
A situação, disse, “é insustentável” e só quem nunca “esteve horas à espera numa urgência” por uma consulta “é que não consegue entender isto”.
Por isso, acrescentou, a moção hoje entregue exige que o Governo cumpra a Lei de Bases do Serviço Nacional de Saúde, que cumpra a Constituição de República, e que o primeiro-ministro “honre o compromisso que fez nas três últimas campanhas eleitorais, de cada português ter um médico e um enfermeiro de família”.
Os utentes querem também obras nos centros de saúde e que os médicos tenham as suas carreiras valorizadas.
Contudo, questionado pela Lusa, Domingos Pereira disse que não saiu da residência oficial do primeiro-ministro com garantias, mas sim com a promessa de que os documentos seriam entregues a António Costa.
Armando Martins, do Movimento Cívico pela Saúde em Azambuja, também em declarações à Lusa, salientou a importância da união dos quatro concelhos, para tentar conseguir o que até agora não conseguiram, “que é ter médicos” e uma boa gestão dos centros de saúde.
No concelho da Azambuja, garantiu, 88% das pessoas não tem médico, nem de família, nem sem ser de família.
“No concelho de Azambuja temos, para 22 mil pessoas, um médico e meio, em Alenquer também há freguesias, por exemplo o Carregado, com 17 mil pessoas e não há lá médico nenhum”, disse Armando Martins, lamentando que pessoas passem noites inteiras à espera de uma consulta que acaba por não acontecer porque não chega médico nenhum.
Na reunião na residência oficial os utentes dos quatro concelhos pediram um encontro com o primeiro-ministro, para lhe explicar a situação pela qual as pessoas estão a passar, igual para todas.
Cerca de 50 delas aguardaram o final do encontro na rua, sem protestos, nem palavras de ordem, mas com duas faixas, uma delas, da Comissão de Utentes de Saúde de Vialonga, Vila Franca de Xira, a lembrar que a saúde é um direito.
LUSA/HN
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