Plataforma Saúde em Diálogo destaca papel das associações de doentes na pandemia

27 de Outubro 2022

A Plataforma Saúde em Diálogo defendeu hoje que o poder político deve lembrar-se das associações de doentes não só para participar na tomada de decisões, mas também para financiamento, para garantir um trabalho sustentado e com continuidade.

“Uma das grandes dificuldades pelas quais as associações passam é que vivem em grande parte de projetos. Enquanto os projetos estão em andamento e há financiamento, as coisas acontecem, mas depois temos aquele drama de ter de reduzir a nossa atividade e dar menos respostas. Isto é que eu gostava muito que deixasse de acontecer”, disse à Lusa Maria do Rosário Zincke, da Plataforma Saúde em Diálogo, que integra 62 associações.

O retrato do trabalho desenvolvido e das dificuldades sentidas pelas associações de doentes durante os dois anos da pandemia, assim como o que fizeram para superar os obstáculos encontrados, está retratado num livro que é hoje apresentado em Lisboa, durante a conferência anual da Plataforma Saúde em Diálogo, subordinada ao tema “Saúde: Novos Caminhos, um Desígnio Comum”.

O Livro Branco das Associações da Plataforma Saúde em Diálogo – “Retratos dos Novos Tempos”, cujo prefácio é assinado pela antiga ministra da Saúde Maria de Belém, dá voz às associações de doentes, com testemunhos que foram igualmente gravados em vídeo.

“O objetivo é não só fazer um retrato daquilo que se passou [durante a pandemia], mas também dar a entender aos decisores políticos que estamos aqui, demos provas de um trabalho de qualidade, demos provas de que conseguimos trabalhar e reinventar-nos, mesmo em tempos extremamente complicados, e, por isso, por favor, não se esqueçam de nós”, disse Maria do Rosário Zincke.

Para a responsável, as associações de doentes devem ser chamadas a participar na tomada de decisões na área das políticas públicas de saúde, mas, para trabalharem de forma sustentada e continuada, precisam de ser financiadas.

Sobre a necessidade de financiamento destas associações, apontou, não só a área da Saúde, mas também a Segurança Social: “Vários equipamentos funcionam com acordos de cooperação e é importante que houvesse acordos para situações atípicas, que permitissem às associações continuar a prestar os serviços de terapia ocupacional, fisioterapia, apoio psicológico, com financiamento adequado, contribuindo para que, por exemplo, a nível dos cuidados de saúde primários, fosse possível assegurar essas respostas coordenadas às pessoas”.

“É o que está preconizado, por exemplo, no estatuto do cuidador informal. Prevê-se a criação de planos individuais específicos para cada cuidador. Esses planos incluem este tipo de respostas e o SNS não tem capacidade para dar essa resposta. Não tem fisioterapeutas, não têm terapeutas ocupacionais, não têm psicólogos em número suficiente”, insistiu.

Considerou ainda que “seria inteligente” da parte do SNS “ir buscar as respostas que já existem na comunidade”, como “um trabalho reconhecido e devidamente compensado”.

Em declarações á Lusa, a responsável realçou ainda a importância das colaborações entre instituições para prestar serviços em proximidade, sublinhando o papel dos municípios durante a pandemia.

“Não nos podemos esquecer do papel importantíssimo que os municípios desempenharam durante a pandemia, principalmente alguns, não só porque disponibilizaram as máscaras e outros materiais de proteção, mas porque acabaram por funcionar como uma resposta de proximidade que permitiu às associações e ao terceiro setor, de um modo geral, continuarem a dar resposta”, afirmou.

Considerou ainda que as respostas de proximidade, com articulação entre entidades, “são uma das chaves do problema do nosso sistema de saúde”.

“É o momento de se avançar com a reforma nos cuidados de saúde primários; com a implementação do Estatuto do Cuidador Informal, com uma aposta mais abrangente da hospitalização domiciliária, entre outras prioridades. Este livro apresenta parte da realidade que se vive no terreno, onde as associações podem ter um papel preponderante. Basta que sejam reconhecidas”, acrescentou.

LUSA/HN

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