Ordem recomenda serviço médico à periferia e reforma da gestão hospitalar

15 de Fevereiro 2023

A Ordem dos Médicos (OM) recomenda ao Governo a valorização das carreiras, a criação de um serviço médico para a periferia, a reforma da gestão hospitalar e uma lei de meios para investimentos estratégicos na saúde.

Estas medidas constam do novo relatório sobre as carreiras médicas em Portugal, hoje entregue pelo bastonário Miguel Guimarães ao ministro da Saúde, e que inclui recomendações para devolver a “motivação e confiança” aos médicos e para modernizar e financiar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Assumindo como “prioridade central” recuperar e transformar o SNS, o documento alerta para a necessidade de envolver os médicos nas decisões sobre o sistema de saúde e de valorizar o trabalho, a formação e a investigação, através da carreira, com “salários justos, de acordo com a intensa formação no ensino superior, conhecimento, responsabilidade e competências”.

Esta valorização deve ter como base de trabalho a carreira dos magistrados, defende a Ordem, que preconiza também a realização de concursos públicos bianuais para todas as categorias – assistente, assistente graduado, assistente graduado sénior -, com a progressão na carreira e nas posições remuneratórias.

O documento recomenda ainda a criação de “verdadeiros pacotes de incentivos globais” para trabalhar nas zonas mais carenciadas e desfavorecidas do país, através de um novo Serviço Médico à Periferia.

“É preciso agir já e implementar medidas globais que incluam a família, a educação, a habitação, o trabalho da família, a redução de impostos, o apoio à formação e investigação, um salário reforçado, progressão na carreira mais fácil e outras medidas de âmbito regional e local que possam contribuir para reforçar a preferência dos médicos e outros profissionais pelas zonas mais carenciadas e desfavorecidas”, salienta o relatório.

Outras das recomendações previstas no documento passam pela criação de uma linha verde de apoio a médicos e profissionais de saúde para prevenção e tratamento de ‘burnout’, sofrimento ético e violência física e psíquica, a consagração da profissão de risco e desgaste rápido e o apoio à formação nas áreas científica, de gestão, organização, estratégia e liderança.

No capítulo sobre a modernização o SNS, a ordem defende a duplicação do investimento na literacia e educação em saúde e prevenção da doença, a transformação digital na saúde, através do processo clínico único, do equipamento das unidades de saúde para a telemedicina e o desenvolvimento de ‘vias verdes’ entre centros de saúde e hospitais.

Além disso, o documento reitera a necessidade de transferir as tarefas administrativas e burocráticas para outros profissionais, “dando mais tempo aos médicos para exercerem medicina”, assim como o aumento do investimento na investigação, inovação e qualidade, incluindo parcerias estratégicas com o setor da defesa e com parceiros institucionais externos.

Ao nível da reforma dos hospitais, as recomendações apontam para uma nova gestão, que “integre algumas regras do setor privado”, centrada na autonomia e flexibilidade, na governação clínica e na “responsabilidade sustentada em orçamentos reais” adaptados às necessidades da população de referência.

O documento defende também que devem ser utilizadas “ferramentas modernas” para a gestão otimizada de blocos operatórios, internamentos, consultas externas e internas e serviço de urgência, assim como o aumento da taxa de hospitalização domiciliária, utilizando também novos mecanismos digitais.

Acelerar a reforma dos cuidados de saúde primários, libertando os médicos de família de funções burocráticas e administrativas, e uma cooperação mais regulada, fiscalizada e eficaz com os setores privado e social são outras das recomendações da ordem.

Na área do financiamento, o relatório defende que o Orçamento do Estado para a Saúde deve ser adequado às “necessidades reais dos portugueses”, para permitir aos hospitais e centros de saúde desenvolver a sua atividade com base em objetivos e resultados, acabando com o “subfinanciamento crónico do SNS”.

A ordem recomenda ainda orçamentos plurianuais que permitam responder de forma adequada às flutuações que possam acontecer em função de múltiplas variáveis, incluindo ciclos políticos, assim como a implementação de uma lei de meios para garantir a concretização de atividades consideradas estratégicas, planear e organizar em tempo útil os investimentos considerados essenciais, para aumentar a capacidade de resposta e renovar o parque de equipamentos do SNS.

“Só assim será possível resolver algumas das dificuldades estruturais que atualmente existem”, alerta o relatório.

LUSA/HN

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