Bastonário dos Farmacêuticos lamenta falta de estratégia para a transição digital na Saúde

23 de Novembro 2022

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos lamentou esta quarta-feira a "falta de estratégia" para a aplicação das verbas previstas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para a transição digital na área da Saúde.

Em declarações à Lusa no dia em que a Ordem dos Farmacêuticos assinala formalmente os 50 anos, numa cerimónia que decorrerá no Museu do Tesouro Real (Palácio da Ajuda), em Lisboa, Helder Mota Filipe disse temer que, sem uma estratégia para o uso dessas verbas, “se perca mais uma oportunidade de dar um salto em frente”.

“Eu não estou a ver que esse aproveitamento esteja a ser o mais adequado e efetivo possível”, lamentou, acrescentando: “Vejo uma SPMS [Serviços Partilhados do Ministério da Saúde] muito competente e muito entusiasmada no sentido de resolver os problemas, mas estamos a falar de uma quantidade de verbas e de condições que precisavam já de uma estratégia, partilhada por todos os profissionais”.

“O dinheiro está, pelos vistos, teoricamente disponível, mas só é efetivo se houver uma estratégia adequada que o permita aplicar”, insistiu.

O responsável defendeu ainda que essa transição digital é fundamental para ajudar a medir resultados em saúde, sobretudo a medir os resultados conseguidos, na vida real, com determinados medicamentos, sobretudo os inovadores, habitualmente bastante caros.

Defende igualmente um maior envolvimento dos cidadãos na decisão terapêutica, para o que têm de estar na posse de todos os seus dados clínicos: “As pessoas têm de ter acesso a todos os dados da informação clínica. Esses dados são das pessoas, não são das instituições”.

Os utentes “precisam de ter acesso a toda a informação que é relevante sobre a sua própria saúde, sobre os seus dados, sobre as terapêuticas que lhe são instituídas e perceber porquê”, insiste.

Helder Mota Filipe defende ainda que os farmacêuticos, – seja na área das análises clínicas, nas farmácias comunitárias ou nas hospitalares – “se tiverem mais acesso aos dados clínicos dos seus próprios utentes, podem fazer mais”.

Diz igualmente que algumas medidas previstas no Orçamento do Estado para 2023, como a dispensa de medicamentos hospitalares em proximidade e a renovação da terapêutica em doentes crónicos, “só podem ser implementadas com a qualidade que devem se os farmacêuticos tiverem acesso a um conjunto de informação que hoje não é possível ter” por causa das limitações dos sistemas informáticos.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Um terço dos portugueses desconhece direito a segunda opinião médica

Trinta por cento dos cidadãos inquiridos num estudo pioneiro não sabem que podem solicitar uma segunda opinião médica. O desconhecimento dos direitos na saúde é particularmente preocupante entre doentes crónicos, que são quem mais necessita de navegar no sistema

Internamentos sociais disparam 83% em dois anos e custam 95 milhões ao SNS

A taxa de internamentos considerados inapropriados – situações que poderiam ser tratadas em ambiente não hospitalar – cresceu quase 20% nos últimos dois anos. Os custos associados a estas permanências dispararam 83%, pressionando a sustentabilidade financeira do sistema de saúde e revelando falhas na articulação com a rede social

Quase 15% dos utentes continuam sem médico de família atribuído no SNS

Apesar de uma ligeira melhoria em 2024, 14,5% dos utentes inscritos nos cuidados de saúde primários continuam sem médico de família atribuído. As assimetrias regionais são gritantes, com Lisboa e Vale do Tejo a concentrar a maior fatia desta carência, levantando sérias questões sobre a equidade no acesso à saúde

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights