Congresso Internacional dos Hospitais: “Deveríamos pensar numa Secretaria de Estado para o Envelhecimento com Saúde”

25 de Novembro 2022

O último dia do Congresso Internacional dos Hospitais, no edifício sede da Altice Portugal, abriu com o desafio do envelhecimento, no país que “menos se mexe da Europa”, tendo sido proposta a criação de uma Secretaria de Estado para o Envelhecimento com Saúde.

“Já que temos uma população tão idosa e tantas pessoas com doença crónica, deveríamos talvez pensar numa Secretaria de Estado para o Envelhecimento com Saúde”, propôs Isabel Gonçalves, vogal da direção da USF-AN, advertindo que, se não atuarmos agora nos doentes crónicos adultos, o envelhecimento terá um impacto mais duro no seu estado de saúde.

A palestrante, que subiu ao palco do auditório da Altice Portugal, em Picoas (Lisboa), juntamente com Pedro Maciel Barbosa, fisioterapeuta na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, e, no papel de moderador, Taveira Gomes, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde de Matosinhos, terminou a sua intervenção apelando para uma estratégia de âmbito nacional, com políticas “verdadeiramente integradoras de cuidados” e “abordando os determinantes em saúde” – “porque os cuidados médicos só são responsáveis por 20% dos resultados em saúde, estando os outros relacionados com questões sociais e económicas”. Tal justifica a necessidade de uma abordagem intersectorial, em que a saúde, o social, a comunidade e os municípios unem esforços, numa resposta “integrada e abrangente”, que vai além da doença aguda, disse Isabel Gonçalves ao HealthNews.

Os processos assistenciais “vão rentabilizar os recursos que temos, vão eliminar desperdícios – porque, no fundo, vão dizer o que é que se faz, quem faz o quê”, continuou a palestrante, segundo a qual “o grande enfoque para que um processo assistencial integrado seja uma realidade é termos um processo clínico eletrónico único”: partilha do plano de cuidados entre todos os profissionais envolvidos.

Isabel Gonçalves alertou que, em Portugal, há estudos subaproveitados, apresentando como exemplo o inquérito nacional de 2019, que elenca um conjunto de doenças que “não têm uma resposta integrada no SNS”, e aproveitou para recordar que este é dos países em que pior se perceciona o próprio estado de saúde.

Num processo assistencial integrado, de acordo com a oradora, “temos a parte da promoção da saúde, a prevenção das complicações, e podemos dar esse input para o bem-estar da pessoa”.

“Os cuidados de saúde vão ter que ficar cada vez mais próximos das pessoas, mais próximos das suas casas. Nesse sentido, o SNS tem criado algumas soluções de cuidados domiciliários, só que estes não estão integrados entre si. A rede de cuidados continuados, a rede de cuidados paliativos, a rede de cuidados hospitalares e os cuidados de saúde primários, cada um, neste momento, tem uma solução diferente de cuidados de proximidade. Registam em sistemas de informação também diferentes, que não comunicam entre si, o que faz com que haja uma duplicação, uma perda de eficiência e, provavelmente, estamos a gastar mais dinheiro do que precisaríamos para obter alguns resultados”, alertou Pedro Maciel Barbosa, em declarações ao HealthNews.

Perante este cenário, o fisioterapeuta quis deixar a mensagem de que precisamos de uma “rede única, integrada, de cuidados de proximidade e domiciliários, que junte os cuidados paliativos, cuidados continuados, cuidados hospitalares e cuidados de saúde primários”, numa solução sem dificuldadas derivadas de “indicadores diferentes, equipas diferentes ou viaturas diferentes”.

“Temos às vezes a situação insólita de ter um carro de um hospital à porta de um doente que vive à frente de um centro de saúde, porque as pessoas não conseguem comunicar entre si”, exemplificou.

A segunda mensagem do fisioterapeuta é que os cuidados de saúde primários “têm que se reinventar”. “Ou seja, não é só ir ao médico de família fazer consulta de hipertensão, da diabetes ou do peso – fazer a sua vigilância de saúde –, mas é também começar a ter outras funções, nomeadamente para a fragilidade, para a falta de atividade física, que é claramente uma lacuna muito grande”, explicou.

O Eurobarómetro mostrou que Portugal “é o país que menos se mexe da Europa”, ou seja, com menos atividade física, mas “temos um Plano Nacional de Saúde, que foi feito até 2030, que diz uma vez ‘atividade física’”, criticou o palestrante. “E temos profissionais que já estão no terreno, com formação na área do exercício, que devem ser aproveitados, nomeadamente fisioterapeutas e enfermeiros”.

“Há um Plano Nacional para a Promoção da Atividade Física que tem que ser revisto e integrar esses profissionais. Isto é um desafio à Direção-Geral da Saúde: que repense esta estratégia”, rematou.

O 9. Congresso Internacional dos Hospitais foi organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar.

HN/Rita Antunes

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