Criado pela ‘start-up’ portuguesa Dioscope, este projeto traduz-se numa aplicação, uma espécie de ‘mini-google’ presente nos computadores dos médicos, que visa melhorar a decisão clínica em tempo real.
“Quisemos fazer uma solução muito prática para responder aos problemas que os médicos têm no terreno. Por muitas aulas que tenhamos, quando chegamos às enfermarias, percebemos que ainda falta a adaptação à prática local. Todos os jovens médicos experimentam essas dificuldades”, descreveu o fundador da Dioscope, Tomás Pessoa e Costa.
Variando de hospital para hospital, esta aplicação serve, entre outras funcionalidades, para reunir os protocolos que, às vezes, estão espalhados por pastas, gavetas ou afixados nas paredes, bem como elencar informação médica sobre sintomas e tratamentos.
No Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), no Porto, o primeiro a aderir a este projeto, a “Médico Virtual” está a ser implementada na urgência de pediatria e na cirurgia.
Em declarações à Lusa, o diretor da urgência pediátrica, Ruben Rocha, explicou que “a aplicação congrega um conjunto de algoritmos médicos que representam aspetos de decisão clínica, quer de diagnóstico quer terapêutica, auxiliando o médico na tomada e decisão”.
“Em ambiente de urgência, a decisão tem um tempo para ser executada muito mais curto do que numa consulta ou em regime de internamento. A consulta da aplicação permite-nos uma maior congruência nas decisões clínicas e a informação não está dispersa em várias bibliotecas”, acrescentou.
Usando um exemplo prático, imagine-se que o médico está a observar uma criança que acidentalmente ingeriu um corpo estranho como um botão ou uma moeda.
Ruben Rocha contou à Lusa que a aplicação, como já está adaptada ao funcionamento interno do CHUSJ, mostra “rapidamente” ao médico como proceder e que exames requisitar, nomeadamente onde e como pode, se necessário, marcar uma endoscopia urgente.
Este testemunho vai ao encontro da visão do internista João Oliveira que está a implementar a aplicação da Dioscope no Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC).
Recorrendo a outro caso prático, o médico contou à Lusa que a aplicação ajuda a identificar para onde enviar, se para a dermatologia ou infecciologia, um doente assistido na urgência com sintomas de uma doença sexualmente transmissível.
“A aplicação elenca os sinais e sintomas de alarme e tem carregado o protocolo que determina o seguimento do doente. (…) No caso de um médico mais novo, o recurso a esta ‘app’ evita que ele tenha de ir falar com um mais velho para esse lhe explicar” alguns procedimentos, descreveu o médico de Medicina Interna.
A adesão ao “Médico Virtual” obrigou os médicos mais experientes do CHUSJ e CHLC a rever, atualizar ou fazer pela primeira vez protocolos que são carregados na ‘app’.
João Oliveira vê nesse processo “uma oportunidade” de discussão interna e uma forma de “uniformizar o trabalho”, sem esquecer a possibilidade de “disponibilizar de forma rápida o acesso a ciência mais fiável, porque já foi toda revista por um corpo clínico experiente”.
Já Ruben Rocha valoriza, também, a possibilidade que a aplicação dá de serem introduzidos novos documentos e novos algoritmos de busca.
“Tudo é programado mediante orientações dos médicos locais.”, frisou Tomás Pessoa e Costa.
À Lusa, o também médico interno de Dermatologia do Hospital de Santo António dos Capuchos, em Lisboa, sublinhou que não se pretende “nunca” alterar a relação médico/doente, mas sim “disponibilizar informação, localmente adaptada, para melhorar a assistência às pessoas”.
A equipa liderada por Tomás Pessoa e Costa criou, em 2018, uma plataforma dedicada à formação médica digital, projeto que evoluiu, em 2021, como consequência do sistema de saúde sobrecarregado pela pandemia da covid-19, para a “Médico Virtual”.
Distinguida como Melhor Ideia em Saúde do ano 2022 pela Ordem dos Médicos, esta ferramenta está a ser implementada em 32 hospitais e 49 centros de saúde do SNS.
LUSA/HN
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