Em fevereiro, os médicos portugueses terão como bastonário o especialista em patologia clínica Carlos Cortes (que recebeu na primeira volta 6.059 votos) ou o otorrinolaringologista Rui Nunes (no qual confiaram 4.045 médicos), terminado o escrutínio que será retomado no dia 7.
Rui Nunes disse ao HealthNews que “foi uma campanha eleitoral muito competitiva, com excelentes candidatos”. “Mas preponderou a vontade da mudança.”
“A minha candidatura surge muito mais tarde que as restantes (…), e verificou-se que há parte dos médicos e das médicas com uma enormíssima vontade de mudar, de mudar a Ordem dos Médicos, de mudar a medicina e de mudar as condições em que a medicina é exercida hoje, que não dá qualquer esperança ou qualquer futuro aos jovens médicos. Ou seja, apesar de haver candidaturas preparadas/organizadas há muito tempo e com outro nível de recursos, uma candidatura espontânea como a minha, (…) sem recorrer ao sistema, ao aparelho da Ordem dos Médicos, ao que quer que seja, conseguiu, pela (…) mobilização de muitos jovens e menos jovens médicos e médicas, ter este resultado expressivo”, explicou.
O seu adversário, Carlos Cortes, começou por expressar a sua “grande satisfação em relação ao aumento da participação”, embora reconheça que esta “deveria ser muito mais” significativa. “Portanto, continua, infelizmente, a ser uma abstenção um pouco superior aos 60%, mas houve aqui uma evolução muito importante e muito positiva”, frisou. A diminuição da abstenção dever-se-á ao “momento muito sensível que o país está a atravessar na área da saúde” e à “grande desmotivação” e “insatisfação dos médicos em relação àquilo que está a ser feito na saúde”, acredita o candidato, que também lê aqui “algum sentido de responsabilidade e um pedido de mudança, de rumo, precisamente para ajudar à melhoria dos cuidados de saúde”.
Depois, Cortes aproveitou para cumprimentar todos os que concorreram para o triénio 2023-2025 – e “não só” ao cargo que agora disputa – “no sentido do bem público, do bem da Ordem dos Médicos, de uma entrega à Ordem dos Médicos e àquela que é a missão da Ordem dos Médicos”. “Queria deixar este agradecimento”, reforçou, depois de uma campanha que, “globalmente”, correu “de forma muito serena”, com candidatos, “todos eles”, com uma “postura extremamente correta”.
“Vou continuar a fazer exatamente o mesmo trabalho que fiz na primeira volta, que é um trabalho de contacto permanente com os médicos, no terreno, ouvi-los, ouvir as suas dificuldades, ouvir as soluções que apontam para melhorar o sistema de saúde. Vou continuar a agregar, a juntar os médicos, a unir os médicos de volta deste projeto, porque eu sei muito bem quais vão ser as responsabilidades de um bastonário, porque, além de ter as responsabilidades que estão consagradas no estatuto da Ordem dos Médicos, nós não podemos ignorar este momento difícil que o país está a atravessar, com um impacto muito grave sobre os cuidados de saúde e, sobretudo, sobre os seus profissionais e sobre os médicos”, concluiu Carlos Cortes.
Questionado sobre os pontos fortes da sua candidatura, Rui Nunes não hesitou em destacar primeiro “a mudança”. “É absolutamente central mudar uma Ordem e uma medicina que estão no estado em que se encontram. Eu tive oportunidade de visitar ao longo dos últimos meses mais de uma centena de hospitais e centros de saúde, em todo o território nacional e nas regiões autónomas, e o que pude verificar é uma medicina completamente degradada, médicos e médicas, sobretudo jovens, sem qualquer expetativa de futuro, com os seus sonhos por realizar, salários baixíssimos que não dignificam a profissão médica, carreiras médicas inexistentes. Portanto, aquilo que é o cerne da minha candidatura e uma convicção profunda da vitória é que só uma verdadeira revolução na medicina e na Ordem dos Médicos é que pode inverter este ciclo de acontecimentos, porque obviamente se percebe que temos que ter uma classe médica fortemente unida, agregada, com vontade e convicção, com projetos e ideias, com equipas bem estabelecidas, e não é com os mesmos do costume que vamos conseguir resultados diferentes”, acrescentou.
Para Rui Nunes, “não é com aqueles que estão há mais de uma década na Ordem dos Médicos que vamos conseguir mudar o que quer que seja”. “Eles tiveram o seu tempo e, infelizmente, deixaram-nos, quer na medicina, quer na Ordem dos Médicos, na situação em que se encontram.”
Já Carlos Cortes vê a robustez da sua candidatura assente em “três pontos muito importantes”: “a defesa da qualidade dos cuidados de saúde”, portanto, “a Ordem dos Médicos como provedora do doente”; “a Ordem dos Médicos na defesa dos médicos, das suas condições de trabalho, do seu papel dentro do sistema de saúde”; “a modernização da Ordem dos Médicos”. Quer fazer uma mudança “profunda” na Ordem, “tanto do ponto de vista orgânico como do ponto de vista dos seus procedimentos internos”; quer “uma Ordem dos Médicos moderna e uma Ordem dos Médicos, também, com uma capacidade de intervenção e dialogante”.
Por último, Carlos Cortes deixou uma “mensagem de união dos médicos e de esperança no futuro”, com a convicção de que, se estiverem unidos, os médicos poderão “contribuir para uma mudança não só da Ordem dos Médicos, mas do sistema de saúde na sua globalidade em Portugal”.
Rui Nunes frisou que é “absolutamente indispensável que os médicos e as médicas portugueses pensem que têm que ser parte desta solução”. “Ou seja, não podem deixar os outros decidir por nós”, esclareceu.
“Faço um apelo a uma fortíssima expressão eleitoral (…), para que tomemos o futuro nas nossas mãos, para que sejamos autores desse mesmo destino, porque, se não tivermos uma classe médica fortemente unida, com uma grande expressão eleitoral, com um bastonário realmente mandatado pela classe médica para tomar decisões urgentes para melhorar as condições de trabalho dos médicos, realmente a medicina está condenada, e é muito triste ver isto acontecer. (…) Para mudar a medicina, temos que mudar primeiro a Ordem dos Médicos, que, infelizmente, se cristalizou num aparelho que muitas vezes não está à altura das expectativas dos médicos e das médicas”, concluiu Rui Nunes.
HN/RA
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