Num estudo que pretendeu mapear e otimizar o percurso clínico dos doentes no Serviço Nacional de Saúde (SNS) após um primeiro enfarte, os especialistas concluíram que apenas alguns hospitais portugueses possuem um centro especializado de reabilitação cardíaca, que esta rede “não é bem conhecida” e que a referenciação dos doentes “não está organizada a nível nacional”.
Já em hospitais menos especializados, “a reabilitação cardíaca não existe e o acompanhamento após o evento agudo é mais frágil, com menos médicos disponíveis ao nível hospitalar e uma grande distância das populações ao hospital de referência”, acrescentam.
O trabalho, que contou com a orientação e validação técnica de um conjunto de especialistas do Centro Hospitalar Universitário São João, Hospital Garcia de Orta, Hospital dos Lusíadas e do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia-Espinho, concluiu ainda que, onde existe reabilitação cardíaca, “a adesão dos doentes a estes programas está dependente da sua facilidade em compatibilizar o acompanhamento com o regresso à normalidade”.
Quanto à falta de orientações atualizadas para o seguimento dos doentes pós-enfarte agudo do miocárdio, referem que “alguns hospitais possuem protocolos próprios para o tratamento destes doentes e outros não” e apontam a existência de “grandes desafios na disponibilidade e alocação de recursos (profissionais de saúde, equipamentos, infraestrutura, etc.) à prevenção secundária”.
Neste trabalho foi realizado um mapeamento dos hospitais a nível nacional, tendo sido selecionados sete unidades de diferentes realidades e níveis de diferenciação, para se conseguir comparar o seguimento dos doentes no pós-enfarte agudo do miocárdio. Foram igualmente realizadas entrevistas a profissionais de saúde.
Para responder ao cenário encontrado, e de forma a prevenir a reincidência, o grupo de peritos identificou um conjunto de recomendações a seguir, sublinhando a importância de desenvolver um programa de reabilitação cardíaca estruturado em duas fases e considerando essencial, após a alta do doente, o seguimento por telefone e o encaminhamento para a Medicina Geral e Familiar.
Defendem igualmente que o acompanhamento em cardiologia no hospital “deve definir a direção dos cuidados a serem prestados ao doente” e que a gestão diária do período pós-agudo deve ser coordenada pelo médico de medicina geral, “com forte envolvimento dos doentes”.
Recomendam ainda que sejam disponibilizados aconselhamento dietético e psicológico e consultas de especialistas para cessação tabágica.
Os resultados deste consenso estratégico para diminuir reincidência do enfarte de miocárdio vão ser hoje apresentados e discutidos em Lisboa, no Auditório da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte a nível global. Em Portugal, são responsáveis por cerca de 33 mil mortes por ano, um terço do total de óbitos. Só o enfarte do miocárdio mata, em média, 12 pessoas por dia.
LUSA/HN
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