“Fizemos já um rastreio em 1.700 pessoas, dos 3.000 que vão ser rastreados, dentro e fora de Bissau, e encontramos não só aqueles que já sabiam que tinham diabetes, que é uma percentagem bastante elevada, entre 12 e 14%, como também encontramos entre 5 e 6% de novos casos”, afirmou a coordenadora da investigação, Eugénia Carvalho.
Segundo a investigadora, há também, pelo menos, 7% de pré-diabéticos.
“É assim uma percentagem muito elevada, cerca de 14%, uma prevalência enorme de pessoas que têm glicemia acima dos 100 miligramas por decilitro em jejum e deve estar abaixo dos 100”, disse a investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, salientando que muitas daquelas pessoas são jovens.
O estudo para entender qual a problemática das doenças não comunicáveis, nomeadamente diabetes e hipertensão, é financiado pela Fundação Europeia para o Estudo da Diabetes e está a ser executado em parceria com a Associação Nacional de Defesa de Diabéticos e o Projeto Saúde de Bandim.
Pelos dados preliminares, Eugénia Carvalho já consegue destacar que a diabetes prevalecente na Guiné-Bissau está relacionada com os hábitos alimentares.
Enquanto, por exemplo, nos Estados Unidos ou em Portugal há crianças e adultos com diabetes devido ao índice de massa gorda mais elevado “pelas condições mais ocidentais na alimentação e sedentarismo”, na Guiné-Bissau as “pessoas caminham e vê-se muita gente malnutrida”, disse.
“Acho um bocado incrível, mesmo esses magros, mas diabéticos. Isto têm a ver, na minha ótica, com a qualidade da gordura, das nossas células gordas”, explicou.
“Aqui, porque as pessoas podem comer apenas uma refeição por dia, e é sempre a mesma refeição, faltam todos os macronutrientes, as coisas boas que precisa, para desinflamar” o organismo, disse.
Na Guiné-Bissau, apesar de as pessoas fazerem muitas caminhadas, a base alimentar é o arroz, são utilizados muitos caldos de tempero e comem pouca proteína, vegetais e frutas, além de não ingerirem muita água.
“Falta a proteína acima de tudo. Têm muita fruta boa, mas adicionam açúcar. Mas falta mesmo a proteína e por isso se vê muitas pessoas que são pele e osso. Isto diz-me que é a questão da variedade alimentar, que está a faltar, e por beberem pouca água”, afirmou.
Segundo Eugénia Carvalho, a água é “fundamental” para desintoxicar o organismo das toxinas.
Além de identificar a prevalência da diabetes no país, o estudo pretende igualmente avaliar um novo método de tratamento para a diabetes e reduzir a prevalência de diabetes através de programas de educação, capacitação e envolvimento das comunidades.
LUSA/HN
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