A equipa de investigação tomou conhecimento que crianças com deficiência visual participam menos nas discussões em grupo. O grupo de investigação aponta o dedo à falta de tecnologias acessíveis que se adaptem às necessidades das crianças com e sem deficiência visual. “A maioria das tecnologias acessíveis é desenvolvida para ser utilizada apenas por crianças com deficiência, o que as exclui de muitas atividades que possam ser realizadas em sala de aula. Além disso, as crianças com deficiência visual têm maior dificuldade em perceber a conversação e as pistas não verbais relacionadas”, explica Isabel Neto, investigadora principal e doutoranda no Instituto Superior Técnico.
Com vista a encontrar uma solução, os investigadores adaptaram um robô disponível comercialmente – Dash – para que seja capaz de mediar discussões em grupo entre crianças com habilidades visuais mistas. O robô move-se entre as crianças e permanece ao pé da criança que se encontra a falar, enquanto usa microfones para entender quanto é que cada criança está a contribuir para a discussão. O robô é ainda apaz de se deslocar até às crianças do grupo que falam menos para as incentivar a intervir mais. O Dash usa LEDs coloridos e expressões verbais para comunicar o envolvimento da conversa e incentivar a participação das crianças. “Os comportamentos do robô foram criados através do desenvolvimento de software, especificamente concebido para ser usado por crianças de capacidades visuais mistas. Os seus comportamentos são percecionados por qualquer criança, independentemente da sua acuidade visual”, esclarece a investigadora.
O estudo realizado com grupos de crianças teve como objetivo testar se a intervenção do robô promoveria a participação igualitária de crianças com e sem deficiência visual em conversas em grupo. “Estávamos interessados em avaliar o quão equilibrada seria a participação do grupo. Considerámos um grupo equilibrado sempre que as crianças falavam de forma justa pelo mesmo período de tempo. Por outro lado, considerámos desequilibrados os grupos em que pelo menos uma criança falava significativamente mais ou menos do que as outras”, esclarece Isabel Neto.
O estudo mostrou que o robô reduziu a discrepância entre a participação de crianças com e sem deficiência visual. A equipa alcançou estes resultados usando o que apelidaram de estratégia diretiva. Neste caso, o robô aproxima-se da criança menos participante, incentivando-a a falar. “Embora não tenha eliminado totalmente as discrepâncias, o robô reduziu consideravelmente essa desigualdade. Estamos a falar de um pequeno mas promissor passo no sentido de uma participação mais justa de todas as crianças nas atividades em sala de aula”, conclui a investigadora.
Esta investigação destaca as vantagens da criação de tecnologias inclusivas que qualquer pessoa pode usar, promovendo experiências justas e equitativas. No futuro, a equipa do Interactive Technologies Institute aperfeiçoará a estratégia diretiva para torná-la mais orgânica e natural. “Também queremos expandir nosso público e explorar como poderíamos usar um robô noutros grupos de habilidades mistas, como crianças no espectro do autismo”, revela. Os investigadores esperam que suas descobertas influenciem positivamente a dinâmica de grupo em casa, nas salas de aula e locais de trabalho.
Esta investigação resultou de uma colaboração entre o Interactive Technologies Institute, o Instituto Superior Técnico, o INESC-ID e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
PR/HN
0 Comments