29 CNMI – A morte e o sofrimento humano

6 de Maio 2023

"A morte e o sofrimento humano" foi uma das mesas-redondas que fez parte do 29.º CNMI. O palestrante Júlio Gomez considerou este tema importante, uma vez que "o sofrimento é uma experiência humana universal. Não existe nenhum ser humano que possa dizer que nunca sofreu. O desafio está em como o administramos ou enfrentamos e como o acompanhamos ou aliviamos".

Júlio Gomez debateu o tema “Alívio do sofrimento: uma tarefa para o internista”. “Abordei o tema do sofrimento de duas maneiras: aquele que o vê como um problema e aquele que o entende como um mistério da condição humana. Cada um tem diferentes abordagens associadas a ele. O facto de este tema estar incluído num Congresso de Medicina Interna é sinal do valor que a SPMI atribui à pessoa como um todo face à tentação tecnológica que fragmenta o ser humano e, por outro lado, a sua disponibilidade para responder às suas necessidades sem as abandonar. Incentivar aqueles que optam pela Medicina a desenvolver habilidades para lidar com o sofrimento permite vislumbrar um futuro em que seremos mais bem cuidados, principalmente na última fase de nossas vidas”, explicou.

Questionado acerca das suas expectativas para o congresso, respondeu que o programa tem um elevado nível científico. Espera aprender com os colegas portugueses e colaborar na promoção da Medicina centrada na pessoa e, principalmente, na última fase da vida através dos cuidados paliativos.

Por outro lado, Rui Carneiro explicou qual o contributo do Projeto MiMI (Morte iminente em Medicina Interna).

“O Projeto MiMI (Morte iminente em Medicina Interna) é, neste contexto, um esforço conjunto, promovido pela SPMI, pelo International Collaborative for The Best for The Dying Person e pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa. Visa preencher uma importante lacuna do conhecimento sobre o cuidado a pessoas em morte iminente e dar substrato a uma metodologia de melhoria de qualidade nesta vertente. O Projeto MiMI já validou, junto de internistas nacionais com competência em Medicina Paliativa, a estrutura do plano de cuidados. O Projeto MiMI caracterizou com um painel de profissionais médicos, enfermeiros e de saúde mental as áreas onde há oportunidade de otimização de cuidados e de formação na área. O Projeto MiMI juntou narrativas da vivência interna de Internistas que partilharam o que é cuidar de pessoas que certamente vão morrer – porque o cuidado é de humano para humano. Vamos ainda caracterizar de forma prospetiva e multicêntrica o cuidado prestado a doentes internados nas nossas enfermarias em situação de morte iminente. O Projeto MiMI está a desenvolver um currículo formativo na área das competências técnicas do cuidar e captou a colaboração do Serious Illness Conversation Program, estando a ser adaptada a formação na estratégia comunicacional nesta situação de vida. A nossa visão é que o sofrimento só é intolerável quando ninguém cuida!”, começou por dizer.

Além disso, o especialista revelou que o sofrimento sempre acompanhou o ser humano e é uma constante no seu percurso evolutivo. Apesar de não haver consenso sobre a sua definição, é inquestionável que a perda de sentido vital é o denominador comum da vivência do sofrimento. “Quando o percurso de vida de uma pessoa é intercetado por uma doença grave, as fontes para o sofrimento decorrem (sobretudo) da atribuição de significado perante a constatação da doença, mas há determinantes de sofrimento que radicam no descontrolo de sintomas, na fragmentação de cuidados e pela sensação de abandono ou desacompanhamento e em estratégias de comunicação desajustadas. Estes fatores levam à degradação da sensação de dignidade da pessoa: o sofrimento – e, constitui, nestas circunstâncias, um evento iatrogénico normalmente não reconhecido ou acautelado pelos profissionais de saúde. Os internistas, porque se assumem como “médicos do doente” e se especializaram nas situações clínicas complexas, são frequentemente testemunhos de situações de Sofrimento humano ao qual devem saber prevenir, identificar e aliviar”, terminou.

Aproveitou, ainda, o momento para dar a sua opinião acerca do 29.º CNMI. “Trata-se de uma disciplina abrangente e que desafia o médico à atualização constante do conhecimento técnico e científico, mas também humano. A elevada procura dos nossos internos faze com que este seja um momento formativo único, onde todos podem identificar o que constitui state of the art na especialidade e procurar fontes de apoio para melhorar as suas competências, num ambiente de absoluta idoneidade científica”.

Conceição Pires, dedicada ao tema “Ajuste do plano terapêutico à condição do doente, Suspender e não iniciar tratamentos/procedimentos”, explicou que a pertinência do tópico “advém da necessidade de consciencializar e capacitar os profissionais que lidam diariamente com estes doentes, para o reconhecimento da multidimensionalidade do sofrimento, particularmente o sofrimento existencial (do indivíduo que se confronta com a sua finitude) e da sua abordagem, permitindo um crescimento relacional e terapêutico”.

“Na dialética da relação de ajuda, que consubstancia a essência do apoio e acompanhamento dos doentes em fim de vida, a adequação de intervenções, ajustadas à condição/situação do doente, visando o alívio de sintomas incapacitantes e indesejáveis, procurando o melhor conforto e abstendo-se de atitudes/intervenções ditas fúteis, que podem provocar ainda mais desconforto e acarretar mais sofrimento, é um objetivo essencial do cuidar e deve fundamentar as tomadas de decisão nestes doentes. Num congresso de Medicina Interna estruturado sob o lema ‘Pontes para o futuro’ parece-me de particular importância a reflexão ético-clínica destes temas fundamentais e estruturantes da evolução do acompanhamento dos doentes em fim de vida, principais recetores dos cuidados em enfermarias de Medicina”, concluiu.

Conceição Pires revelou ter expectativas elevadas para este congresso “decorrentes da excelência e abrangência dos temas apresentados e da gratificante experiência do Congresso do ano passado em que a temática de Cuidados Paliativos foi adequadamente abordada”.

NR/HN/29CNMI

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