Unidade do Hospital de Gaia fará ensaios clínicos com intenção terapêutica

19 de Maio 2023

A Unidade de Ensaios Clínicos de Fase Precoce (EPCTU) instalada no Hospital de Gaia, que desde janeiro contabiliza cinco estudos que envolveram 40 doentes, prepara-se para avançar para ensaios com intenção terapêutica, nomeadamente na área oncológica, foi esta sexta-feira revelado.

“Este é um serviço que não se dedica a fazer assistência direta ao utente, dedica-se ao desenvolvimento de novo conhecimento, em particular ao desenvolvimento de novos medicamentos. Vamos começar ensaios clínicos de intenção terapêutica na área da oncologia para doentes que já esgotaram todas as linhas de tratamento, mas podem iniciar tratamento com novo fármaco que não está ainda em comercialização”, descreveu o coordenador, Firmino Machado.

A Early Phase Clinical Trials Unit (EPCTU) é um projeto do Centro Hospitalar de Vola Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E), em parceria com a empresa BlueClinical e apoiado pelo Centro Académico Clínico Egas Moniz Health Alliance (CAC-EMHA).

Firmino Machado, que é médico de saúde pública e professor universitário, coordena uma unidade de ensaios clínicos de fase precoce, a primeira do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com internamento, onde trabalham nove médicos, cinco enfermeiros, dois técnicos de laboratório, 11 farmacêuticos, quatro assistentes operacionais e dois assistentes técnicos.

Formada durante cerca de meio ano, a equipa trabalha num espaço que antes era uma unidade de cuidados intensivos coronária da área da cardiologia.

As obras de adaptação e modernização, e a instalação de equipamentos, custaram cerca de 250 mil euros.

“São cinco camas e 300 metros quadrados dedicados à investigação o que corresponde a um compromisso diário com o futuro (…). Acreditamos no impacto positivo na garantia da sustentabilidade financeira do Centro Hospitalar [de Gaia]”, acrescentou o clínico.

Com cinco ensaios clínicos de fase precoce, três deles em curso, esta unidade fez a avaliação de quase 40 doentes desde janeiro. Cerca de 10 estiveram internados nas instalações.

O número de dias de internamento é variável e pode ser compatibilizado com um esquema de ambulatório.

“Conseguimos ter cinco doentes internados ao mesmo tempo com elevada supervisão, o que significa que poderemos realizar um novo estudo todas as semanas”, descreveu o responsável.

A EPCTU do Hospital de Gaia, no distrito do Porto, conta com uma área de internamento, consultórios, laboratório e farmácia.

Sobre os ensaios clínicos de fase precoce, a título de exemplo Firmino Machado descreveu à Lusa o que a EPCTU está a trabalhar atualmente junto do que chama de “populações especiais”, ou seja, pessoas saudáveis exceto na doença de interesse para o estudo, neste caso os problemas de fígado e a insuficiência renal.

“Normalmente encontramos dentro das caixas de medicamentos indicações como ‘se tiver doença de fígado ou de rim, a dose deverá ser ajustada ou deverá consultar o seu médico ou farmacêutico’. Essa evidência que escrevemos nas bulas tem de ser sempre desenvolvida. Esse conhecimento é desenvolvido em unidades de ensaios de fase precoce”, descreveu.

Firmino Machado acredita que a aposta neste tipo de unidades “tem um impacto enorme no desenvolvimento de novas ferramentas terapêuticas e tem um alto impacto económico”, até porque, acrescentou, “uma unidade deste género atrai riqueza para Portugal”.

“Tudo o que é produzido é financiamento competitivo. Não vem do Orçamento do Estado, vem da indústria farmacêutica”, sintetizou.

Quanto à abrangência geográfica da unidade, o coordenador apontou que, além do recrutamento direto no centro hospitalar de Gaia, “está já criada uma rede de referenciação e recrutamento mais abrangente”, dado que o CHVNG/E faz parte do Centro Académico Clínico Egas Moniz.

Além do Hospital de Gaia, fazem parte deste centro académico o Hospital do Entre Douro e Vouga (Santa Maria da Feira), o Hospital Baixo Vouga (Aveiro), a Universidade de Aveiro e seis Agrupamentos de Centros de Saúde, num total em registo clínico de cerca de dois milhões de portugueses.

LUSA/HN

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