Médicos que escolhem Médio Tejo privilegiam companheirismo e chefia que promove autonomia

20 de Maio 2023

Uma equipa em que prevaleça o companheirismo e o “bom ambiente”, uma liderança que ouve e promove a autonomia e a flexibilidade são fatores determinantes para a fixação de médicos no Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT).

No departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do CHMT, que apresenta o menor tempo de espera para primeira consulta a nível nacional, uma média de 35 dias, o maior défice de recursos humanos está no pessoal não médico, embora, como sublinha a diretora do serviço, Luísa Delgado, mais especialistas seriam bem-vindos para permitir alargar a todos os concelhos do Médio Tejo a equipa comunitária que tem vindo a intervir em Ourém.

No departamento, situado na unidade de Tomar (Santarém) do CHMT e que conta com 13 psiquiatras, uma pedopsiquiatra, 23 enfermeiros, cinco psicólogos, um deles afeto à pedopsiquiatria e outro à equipa comunitária, uma terapeuta vocacional e duas ocupacionais (uma na equipa comunitária), duas assistentes sociais (uma a tempo parcial) e assistentes técnicos e administrativos, dois dos oito médicos que fizeram o internato “já escolheram ficar”, salientou.

“Este serviço tem um bom ambiente. Há companheirismo, há muita flexibilidade, sentimos que somos ouvidos e que podemos ter algum papel no que queremos fazer. As nossas questões são ouvidas e são atendidas. Os colegas estão sempre disponíveis (…) e eu privilegio muito esse tipo de entreajuda e de companheirismo, porque o nosso trabalho é muito feito em equipa e isso sente-se aqui”, disse à Lusa uma das internas que escolheu ficar no serviço, situado numa região onde muitas vezes é difícil fixar profissionais de saúde.

Quando se candidatou à especialidade, Rafaela Farinha, que se formou na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, não conhecia o CHMT, mas o facto de ter raízes familiares na região levou-a a “arriscar”.

Findos os cinco anos de internato, decidiu ficar, relevando a liberdade que lhe foi dada de fazer parte da equipa de ligação que dá apoio a doentes internados noutras enfermarias e que possam ter queixas relacionadas com a psiquiatria.

“Ou seja, quando temos algum tipo de projetos e propomos, eles são bem aceites e há disponibilidade”, realçou.

Rita Carvalho escolheu o CHMT por ter sido o local mais próximo de Coimbra, onde vive e onde fez a licenciatura, com vaga para psiquiatria, depois de ter feito o internato em Lisboa.

“O serviço de psiquiatria [do CHMT] foi uma boa surpresa. Gosto muito de trabalhar aqui”, disse à Lusa.

A jovem psiquiatra destacou a postura da chefia, que respeita os gostos e as preferências, promovendo a autonomia e a liberdade de diferenciação nas áreas de maior interesse de cada um, e, sobretudo, “o grande espírito de entreajuda na equipa”.

Patrícia Jorge, que também se desloca de Coimbra para trabalhar no CHMT, acrescentou outro atrativo: a “vantagem” de poder ter um horário que condensa as 40 horas em quatro dias da semana, o que reduz o número de deslocações.

Também ela valoriza o “grande espírito de entreajuda”, a equipa “muito boa, muito jovem, muito dinâmica”, onde se sente “muito bem tratada” e “muito bem acolhida”.

“Eu acho que no sítio onde trabalhamos devemos ter sobretudo qualidade na relação humana e nós temos muito isso aqui”, destacou.

Também Luísa Delgado, que, com a enfermeira Graça Cunha, abriu o serviço em 2002, findo o internato em Lisboa, confessou que a “coesão da equipa” e o espírito de colaboração que sempre encontrou foram determinantes para que, apesar dos vários convites, tenha preferido ficar.

“Tem havido um trabalhar de condições para aqui ficarmos”, nomeadamente em termos de flexibilidade de horário, “com responsabilidade”, realçou, destacando, ainda, “a sorte” de reunir um conjunto de pessoas que trazem “o ‘background’ dos vários sítios onde fizeram a sua formação” e “um ambiente de trabalho harmonioso”, com “cumplicidade” e “muita união” em torno do projeto.

“Acho que sou pouco diretora. Somos todos diretores (…). Pensamos todos muito com uma cabeça só, em vez de ser uma pessoa a ditar ordens. Acho que isso faz toda a diferença. De facto, é muita sorte”, acrescentou.

O presidente do Conselho de Administração do CHMT, Casimiro Ramos, atribui a capacidade de “cativar e reter profissionais” a “um trabalho muito grande” das direções de serviço na forma como estruturam e organizam os serviços, nos equipamentos que colocam à disposição, nas oportunidades que dão de diferenciação, do acompanhamento, da integração e da estabilidade da equipa.

“Isso associado a uma estratégia de futuro” e ao trabalho com as autarquias, nomeadamente em termos da atratividade da região, no sentido de garantir aos profissionais estabilidade social, familiar e no trabalho, disse.

Casimiro Ramos destacou, ainda, a importância da inovação, a aquisição de novos equipamentos e melhores instalações.

Como exemplo apontou investimentos em curso no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental, para o qual está projetada uma requalificação das instalações e a construção de um bloco, de 800 metros quadrados, num investimento de 1 milhão de euros, para a pedopsiquiatria, com previsão de entrada em funcionamento no início de 2024.

Segundo o presidente do CHMT, atualmente, a “área mais sensível e mais visível” em carência de recursos humanos é a Ginecologia/Obstetrícia, situação onde espera, em breve, “uma melhoria significativa”, graças a “uma maior normalidade” na contratação de prestadores de serviços, na sequência da lei aprovada em fevereiro, e ao preenchimento das vagas colocadas a concurso.

Com 43 vagas a concurso para várias especialidades, além das 12 vagas para zonas geográficas qualificadas como carenciadas, Casimiro Ramos afirmou que os médicos que queiram ficar no CHMT “poderão encontrar seguramente uma oportunidade de, muito rapidamente, ganharem experiência prática, integrarem equipas muito motivadas e muito centradas no utente e uma grande possibilidade de valorização profissional, dadas as condições técnicas, os equipamentos e as instalações” da instituição.

Para o administrador, também a perspetiva de criação de uma Unidade Local de Saúde, que fará a integração dos cuidados primários com os hospitalares, poderá traduzir-se em “várias melhorias” não só para os utentes, mas também para os profissionais.

LUSA/HN

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