“Isso é um aspeto completamente incompreensível. Às vezes temos na vida situações que são inesperadas. Esta, não é, de todo, uma situação inesperada. É uma situação esperada, em que todos os anos sabemos que há um determinado número de pessoas que tem de ser vacinado”, declarou o bastonário dos médicos, em declarações à agência Lusa.
Para Carlos Cortes as entidades responsáveis tinham de ter “a cautela de prevenir esta situação” e de terem as vacinas disponíveis.
“Confesso que, para mim, é um tema completamente inexplicável, como é que esse trabalho não foi feito e, mostra aqui, digamos, alguma negligência no tratamento desta questão”, refere o bastonário da OM.
Na sexta-feira, o semanário Expresso noticiou que a vacinação gratuita, sobretudo de recém-nascidos e crianças, está a ser feita a ‘conta-gotas’, adiantando que durante este ano ainda não foram compradas as vacinas necessárias e os centros de saúde estão a utilizar doses que sobraram do abastecimento anterior, sucedendo-se os relatos de falhas na imunização por todo o país.
Também na sexta-feira, o Governo autorizou uma despesa de cerca de 46,2 milhões de euros para aquisição de vacinas e tuberculinas, no âmbito do Programa Nacional de Vacinação durante o ano de 2023.
Segundo uma resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República, as cinco Administrações Regionais de Saúde (Lisboa e Vale do Tejo, Norte, Centro, Algarve e Alentejo), e entidades da respetiva abrangência já podem proceder à aquisição de vacinas e tuberculinas no âmbito do Programa Nacional de Vacinação 2023, no valor total de 46.245.572,23 euros a que acresce o imposto sobre o valor acrescentado à taxa legal em vigor.
Quanto ao facto de o número de utentes sem médico de família atribuído ter subido 4,7% entre abril e maio deste ano, ultrapassando agora os 1,7 milhões, segundo o portal da transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o bastonário da Ordem dos Médicos classifica a situação “muito preocupante”.
“O problema da falta de médicos de família repercute-se depois em todo o sistema de saúde. Porque esta questão da [ida à] urgência, obriga a que muitos dos médicos dos hospitais tenham de estar na urgência para atender esses doentes. Portanto, também não estão nas enfermarias, também não estão nas consultas, também não estão nos blocos operatórios. É um ciclo vicioso (…) e está desvirtuar completamente aquilo que se devia ser uma medicina do século XXI”, lamentou Carlos Cortes.
Outro dos assuntos que preocupa o bastonário da Ordem dos Médicos prende-se com o aumento dos internamentos sociais.
O sétimo Barómetro de Internamentos Sociais, apresentado na sexta-feira, em Lisboa, concluiu que, em março, um total de 1.675 camas dos hospitais públicos estavam ocupadas por pessoas internadas apenas por razões sociais, um aumento de 60% dos internamentos inapropriados, que deve custar ao Estado 226 milhões de euros este ano.
O bastonário dos médicos apelou a uma maior articulação entre os ministérios da Saúde e do Trabalho e da Segurança Social, defendendo igualmente o reforço do papel dos cuidadores informais e a integração do setor social nas futuras Unidades Locais de Saúde (ULS).
LUSA/HN
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