“Hoje estou a celebrar tudo: a vida, o tratamento médico, o amor destas pessoas e o voto que depositaram em mim. A morte estava a chamar-me e com essa força e energia a vida voltou às minhas veias”, descreveu à Lusa, à margem da exposição “Passos pela Vida”, no Centro Cultural Português de Maputo.
A mostra multidisciplinar juntou peças de 30 artistas moçambicanos, entre fotografia, pintura, escultura e outras, com receitas a reverter a favor de Lizette Chirrime, 50 anos de idade.
Algumas das suas criações artísticas feitas de têxteis – colagens com estampados emolduradas, tecidos em sequência como uma passadeira ou reciclagem de artigos numa peça suspensa – recebem os visitantes logo à entrada e a artista promete não parar de criar, tanto mais nesta nova fase da sua vida.
Apesar de continuar a caminhar com a ajuda de uma bengala, sente-se “em forma”.
Lizette Chirrime fraturou a anca há quatro anos num acidente de automóvel e os ferimentos viriam a degenerar numa infeção, com dores crónicas e limitações à mobilidade.
Encontrou uma possibilidade de tratamento na Índia e com a ajuda de outros artistas e amigos sucederam-se exposições, eventos e doações em Moçambique e na Cidade do Cabo, África do Sul, onde viveu durante vários anos e onde as suas peças ganharam fama.
Tudo somado, permitiu-lhe viajar para fazer o tratamento e regressar à capital moçambicana.
A onda de solidariedade “foi uma grande surpresa”, disse, comparando-a a uma “voz do universo e de deus” a dar amparo.
Ensinar, inspirar, “seja o que for”, a artista promete não ficar sossegada no seu estúdio na Praia do Tofo, onde reside, na província de Inhambane: “claro que vou continuar a produzir”, porque criar é a sua forma de estar na vida, descreveu.
Lizette Chirrime voltou aos eventos públicos no dia de encerramento da exposição “Passos pela vida”, que contou com a presença do ministro da Cultura de Portugal, Pedro Adão e Silva, de visita a Moçambique a propósito das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
O governante português disse estar perante um reflexo da vivência moçambicana.
“Vi ali o testemunho de alguma vibração e energia que percorre certamente a sociedade moçambicana de hoje”, referiu.
Para que essa energia continua a existir, Lizette Chirrime disse que é necessário que os artistas acreditem em si próprios.
“Os próprios artistas por vezes não levam a sério o seu trabalho”, fruto de um contexto em que a arte não é valorizada como atividade profissional, referiu.
No entanto, se houver “disciplina, persistência, crença no trabalho, seja lá qual for, vais prosperar um dia”.
“Comigo foi assim, comecei a apanhar no lixo. Comecei a minha arte a apanhar as coisas no chão até chegar a uma fase em que as pessoas já conhecem e respeitam o meu trabalho”, concluiu.
LUSA/HN
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