Epidemiologista defende que Angola adquira vacinas contra a malária por meios próprios

9 de Julho 2023

O epidemiologista angolano Jeremias Agostinho considera importante que Angola adquira a vacina contra a malária, aconselhando o Governo a fazer esforços para a obter por meios próprios, “porque há muitos angolanos a morrer”.

“Angola é o quinto país [em África] com mais casos e mais mortes, cerca de sete a 13 mil pessoas morrem todos os anos por causa de malária [que] nos últimos 20 anos foi a principal causa de morte”, disse Jeremias Agostinho à Lusa, reagindo ao facto de Angola não estar incluída na lista dos 12 países africanos que vão beneficiar para já de vacinas contra a malária.

A primeira vacina contra a malária, a principal causa de mortes e internamentos em Angola, será distribuída pela primeira vez a 12 países africanos nos próximos dois anos, segundo anunciaram a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Aliança Global para Vacinas e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Para Jeremias Agostinho, os números sobre a malária em Angola mostram o “quão importante” é a vacina para o país lusófono, que considerou uma “prioridade”.

“Nós tínhamos que ter essa vacina para ajudarmos os nossos cidadãos. Não se conseguiu por essa via, o país vai ter que fazer mais esforços para conseguir por outras vias, por meios próprios para ver se consegue comprar, porque há muito angolano a morrer por causa da malária”, referiu.

O médico alertou que a existência de uma vacina não significa eliminação da doença, porque o país tem muitos fatores de risco.

“As lagoas e o lixo continuam aí”, salientou o epidemiologista, realçando que Angola foi um dos 30 países que manifestou intenção de aceder à vacina, tendo sido escolhidos 12, sem esclarecerem “qual é a fraqueza de cada um dos países que não foi selecionado”.

“Apenas dizem que são 12 os que tiveram maior pontuação quando analisados esses aspetos, os outros vão ficar para depois se houver mais vacinas”, destacou Jeremias Agostinho, sublinhando que a seleção dos países foi feita por um comité técnico da OMS, “por isso, os países não tinham como fazer ‘lobbies’” nem interferir nos critérios de seleção definidos.

Entre os aspetos de seleção, avançou Jeremias Agostinho, constavam o número de casos e de mortes nos países, o impacto que a vacina teria na redução da mortalidade, a equidade na distribuição das vacinas, os países participantes nos estudos e experiências da vacina e risco de o país desperdiçar as vacinas por não aceitação da população, a organização do próprio sistema de saúde do país e a sustentabilidade do acesso às vacinas.

Desde 2019 que o Gana, Quénia e Malaui aumentaram significativamente a administração da vacina contra a malária através do programa piloto, que chegou a mais de 1,7 milhões de crianças nestes três países, demonstrando ser segura e eficaz.

Além do Gana, Quénia e Malaui, também o Benim, Burkina Faso, Burundi, Camarões, República Democrática do Congo, Libéria, Níger, Serra Leoa e Uganda vão introduzir a vacina nos seus programas de imunização.

A malária é a principal causa de mortes, internamentos e absentismo laboral e escolar em Angola.

Em 2022, segundo o Ministério da Saúde, o país lusófono registou 9,2 milhões de casos, um aumento de 0,4% comparativamente a 2021, devido à pandemia de covid-19, que “impossibilitou o diagnóstico e o tratamento da malária”, frisando apenas que foi registado no ano passado uma redução de 10% de mortes pela doença endémica no país.

A Lusa contactou o Ministério da Saúde de Angola para obter mais esclarecimentos sobre o tema, sem sucesso data de publicação (7 de julho).

LUSA/HN

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