Internos querem integrar o debate da saúde em Portugal

23 de Agosto 2023

Vários médicos internos estão hoje, no Porto, a sensibilizar os doentes para a importância deste grupo de profissionais que “tapa buracos” no Sistema Nacional de Saúde, mas que estão a "passar ao lado do debate sobre a saúde em Portugal”.

“Muitos dos médicos com que [os doentes] se cruzam nos corredores dos hospitais são médicos internos, são médicos aos quais é pedido para tapar turnos de urgência, assumir listas enormes de doentes e aumentar o horário de assistência hospitalar e nos cuidados de saúde pública. Situações que acabam por nos tirar tempo para formação, estudo e investigação”, disse o coordenador do movimento “Internos pelos Internos”.

Os médicos internos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) iniciaram hoje uma greve de dois dias convocada pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM) para exigir melhores salários e a valorização profissional para efeitos de progressão na carreira.

Uma das ações integrada na greve está a decorrer de manhã no Hospital de São João, no Porto, com médicos internos a explicar aos utentes as reivindicações que os fazem parar dois dias e que os levaram já a escrever ao ministro da Saúde, Manuel Pizarro.

“O grande objetivo é sensibilizar toda a gente para a condição do médico interno. Somos cerca de um terço de todos os médicos do SNS, somos mais de 10.000, somos profissionais altamente diferenciados, passamos por um longo período de formação e estamos a passar ao lado do grande debate sobre a saúde em Portugal”, referiu o coordenador Gonçalo Pinto Soares.

Questionado pela Lusa, o coordenador não adiantou dados sobre o impacto da greve dos médicos internos, apontando só que “deve ser elevado dada a motivação” que sente “de colegas de Norte a Sul do país”.

“Estamos a assistir a um grande desgaste destes médicos que sentem que não têm o seu futuro e a sua formação asseguradas com qualidade. Apesar de sermos médicos ainda estamos em formação e somos o futuro da medicina em Portugal. Se não nos derem condições para estudar e investigar, estão a hipotecar a saúde dos nossos doentes num futuro próximo”, repetiu.

De acordo com o coordenador do movimento, o “Internos pelos Internos” depois desta ação no Hospital de São João seguir-se-ão outras semelhantes em mais hospitais do país.

A paralisação iniciada hoje abrange pela primeira vez médicos em pós-formação para obtenção da especialidade.

Esta greve insere-se num quadro mais vasto de greves, em várias modalidades e regiões, promovidas pelo SIM até setembro para reclamar uma grelha salarial condigna para todos os médicos.

Segundo o SIM, os médicos internos trabalham 40 horas por semana, auferem salários baixos (cerca de 7,66 euros/hora líquidos), fazem horas extra (remuneradas e não remuneradas), são escalados “nalguns casos” como especialistas e pagam do seu bolso a sua formação “não obstante a obrigação legal do Estado/SNS em assegurá-la”.

O sindicato reivindica a integração do internato médico no “primeiro patamar da carreira médica”.

A 08 de agosto foi tornado público que mais de uma centena de médicos internos apelaram ao ministro da Saúde para garantir a fixação de médicos especialistas no SNS que assegurem a capacidade e excelência formativa e pedem exigência nas contratações, recusando exceções.

A paralisação, que decorre até quinta-feira, coincide com a greve às horas extraordinárias dos médicos de família que deveria ter terminado na terça-feira, mas que continua até 22 de setembro.

LUSA/HN

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