Verdades e mitos sobre o lupus na gravidez

9 de Setembro 2023

No Dia Mundial da Grávida, que se assinala hoje, especialistas alertam para mitos associados ao lúpus e à saúde reprodutiva da mulher.

O lúpus é uma doença autoimune. Nestes doentes, o sistema imunológico vira-se contra o próprio corpo e ataca-o, provocando inflamação e alteração da função do sistema afetado. A doença atinge em maior escala as mulheres, principalmente em idade fértil, mas não é uma limitação para a gravidez.

O segredo para o sucesso de uma gestação viável e sem complicações graves é a mulher com lúpus planear com antecedência a sua gravidez, para que a conceção ocorra idealmente com a doença estável e com a toma de medicamentos seguros para o feto, e ser vigiada por uma equipa multidisciplinar (medicina interna, reumatologia, nefrologia e obstetrícia; dependendo da doença, outras especialidades poderão estar envolvidas) ao longo da gestação.

Carlos Vasconcelos, especialista em medicina interna com diferenciação na área de imunologia clínica, e António Braga, especialista em ginecologia e obstetrícia, confirmam que “o lúpus por si só não é causa de infertilidade”. “No entanto, a doença não controlada associada à acumulação de dano de órgão ou ao uso de tratamentos tóxicos podem conduzir à diminuição da fertilidade em algumas doentes. (…) uma mulher com LES – Lupus Eritematoso Sistémico – pode engravidar, mas com cuidados adequados e específicos: escolher uma altura em que o LES esteja controlado e ter uma vigilância apertada quer do médico assistente na área do lúpus, quer do obstetra, com experiência no acompanhamento destas doentes. Existem raras situações em que a gravidez numa mulher com LES deve ser, de todo, desaconselhada.”

Na gravidez, há produção de diversas hormonas que podem aumentar o risco de ocorrer alguma agudização da doença – agravamento dos sintomas ou desenvolvimento de novos sintomas. Da mesma forma, a grávida com lúpus tem um risco acrescido de algumas patologias específicas da gravidez. Em 25% dos casos podem nascer bebés prematuros e de baixo peso.

Para os especialistas, “o avanço da medicina já possibilita que metade das gestações em mulheres com lúpus sejam completamente normais. No entanto, todas as fases da gravidez apresentam riscos específicos. Na nossa experiência clínica, o agravamento do lúpus é mais frequente logo no início ou no final da gestação. O risco de complicações obstétricas como a subida da tensão arterial ou o desenvolvimento de fetos mais pequenos é também mais frequente no 3.º trimestre da gravidez. Estas gestantes têm necessidade de uma maior frequência de consultas e exames ecográficos devido ao risco acrescido de desenvolverem complicações obstétricas. Em algumas doentes é necessário programar o final da gestação de forma a reduzir a probabilidade de desenvolver complicações típicas do termo e permitir, por exemplo, parar de forma atempada fármacos que aumentem o risco hemorrágico, como as heparinas. Também após o parto a vigilância clínica deve continuar a ser apertada, dado ser uma altura em que podem acontecer agudizações da doença.”

Sendo essencial prevenir os surtos de lúpus na gravidez, a gestante deve evitar situações de stress que possam dar origem a estados de ansiedade e cansaço, adotar estratégias e comportamentos que promovam o seu bem-estar, aplicar protetor solar (com fator de proteção 50) em todas as atividades ao ar livre, durante todo o ano, e evitar a exposição ao sol e a luz fluorescente, repousar de forma adequada e de acordo com as suas necessidades físicas e emocionais, manter a prática de atividade física por forma a evitar a rigidez articular, a fraqueza muscular e a fadiga e, acima de tudo, respeitar as indicações e conselhos clínicos.

Existe ainda um mito associado ao bebé que importa esclarecer: segundo os especialistas “a probabilidade de uma mãe com LES ter um filho com lúpus é muito baixa, menos de 5%. O bebé durante alguns meses tem os anticorpos da mãe – nomeadamente aqueles anticorpos associados à doença –, mas depois esses anticorpos desaparecem, sendo por isso importante acompanhar o bebé ao longo do primeiro ano de vida”.

Em Portugal, a Associação de Doentes com Lúpus apoia os doentes e seus familiares e amigos em todas as fases da doença. As mulheres diagnosticadas com lúpus que se encontram em idade reprodutiva e com perspetiva de engravidar podem consultar o site e entrar em contacto para um maior aconselhamento, acompanhamento e esclarecimento de dúvidas.

PR/HN

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