“A APF apercebeu-se de que há um desinvestimento da educação sexual nas escolas, que caiu um bocadinho por terra, e temos que nos lembrar que todos os anos há novos adolescentes (…) que vão iniciar a sua vida sexual e a educação sexual nas escolas com a chamada de atenção para os métodos contracetivos continua a ser extraordinariamente importante”, defendeu a vice-presidente da associação, Ana Aroso, à agência Lusa, no Dia Mundial da Contraceção.
Questionada se o aumento das interrupções da gravidez por opção da mulher nas 10 primeiras semanas de gestação em 2022 (nesse ano as IVG totalizaram 15.616, mais 15% face a 2021, depois de ter vindo a diminuir de forma consistente desde 2011), a ginecologista disse que acontece mais em mulheres adultas.
“O que nós vemos nestes números da IVG [Interrupção Voluntária da Gravidez] é que não serão tanto em adolescentes (…) mas mais em mulheres adultas, às vezes até com 30 anos. Portanto, terá que haver aqui múltiplos fatores que levam as mulheres que estavam habituadas a uma contraceção e que simplesmente a abandonaram ou que acham que não precisam dela”, salientou.
Na sua opinião, há “muita desinformação nas redes sociais”, que abordam os riscos da contraceção hormonal e nunca mencionam “a informação sobre os benefícios enormes que acarreta para a mulher a utilização de métodos contracetivos”.
“Se nós não continuarmos a chamar a atenção para a importância da vigilância da gravidez, da gravidez desejada, da vigilância da criança no seu primeiro ano de vida – que parecem que são coisas muito banais e que não são importantes – vamos cair outra vez nos números que tínhamos há 40 anos de mortalidade materna e mortalidade infantil que nos faziam ficar com vergonha e nós, neste momento, estamos numa posição privilegiada na Europa e é isso que nós temos que lutar e continuar a ter”, defendeu.
Ana Aroso advertiu que é preciso continuar a informar que a contraceção acompanha toda a vida fértil das mulheres e se ajusta à sua idade: “Podemos usar um método quando se tem 20 anos, outro quando se tem 30 anos e outro quando se tem 40 anos e tal anos” e salientou os benefícios da sua utilização para a saúde.
“Basta as mulheres usarem cinco anos a contraceção hormonal combinada para termos a redução de um terço do cancro do ovário, cancro do endométrio e cancro do intestino”, disse, acrescentando que a utilização da pílula também protege as mulheres da endometriose, dos fibromiomas, da doença inflamatória pélvica, que são causas de infertilidade.
“Eu acho que isto é tão importante divulgar que me parece absolutamente espantoso que haja gente que continue com medo de tomar a pílula e lhe chamar uma bomba hormonal”, lamentou, apelando à população para lerem a informação baseada na evidência publicada em ‘sites’ oficiais, nomeadamente da APF e da Sociedade Portuguesa de Contraceção, em vez de ler ‘bloguistas’.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) também assinalou o Dia Mundial da Contraceção, este ano com o tema “O Poder da Escolha”, destacando “o papel crucial que as escolhas contracetivas desempenham na capacitação das pessoas para assumirem o controlo da sua saúde reprodutiva”.
“Assinalar este dia é essencial para o reconhecimento da importância de oferecer às pessoas um conjunto de opções contracetivas, que lhes permitam tomar decisões informadas que se ajustem às suas circunstâncias e necessidades específicas”, refere a DGS numa nota publicada no ‘site’, lembrando que “a escolha de um método por cada pessoa ou casal, em determinada altura da sua vida, deve ter em conta vários elementos: segurança, eficácia, disponibilidade, acessibilidade e aceitação”.
Recorda ainda que “muitos métodos e dispositivos são fornecidos e aplicados de forma gratuita na consulta de planeamento familiar nas unidades de saúde” e que “a contraceção de emergência é gratuita nos centros de saúde e hospitais” e que é de venda livre nas farmácias e em estabelecimentos autorizados para a venda de medicamentos).
LUSA/HN
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