“Há muitos problemas na saúde, mas nós não podemos viver sem esses problemas serem resolvidos. Portanto, naquilo que eu referi aqui, o que Portugal tem que fazer é um compromisso constante entre setor privado e setor público quanto ao investimento na ciência e em pesquisa e desenvolvimento, e aproximar a ciência das empresas e a indústria do conhecimento. Isso é o que pode transformar um país que ainda é relativamente débil nessa matéria num país competitivo”, disse ao HealthNews o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
Este sábado, no auditório do Centro de Congressos do Estoril, Paulo Portas analisou os movimentos da China, dos Estados Unidos e da Europa durante e após a pandemia de Covid-19. No caso europeu, não houve alternativa senão “aprender com o trabalho”. O Velho Continente “não tinha tradição de comunitarizar temas de saúde”, a Saúde “não era considerada uma pasta central na Comissão Europeia”, “a Europa não tinha sequer tradição (…) de compras conjuntas”. “Eu acho que aprendeu significativamente”, observou Paulo Portas.
“Onde a Europa perde (…) é precisamente no domínio do financiamento da investigação”, ressalvou. Paulo Portas espera que na próxima crise global “nós aprendamos a cooperar mais e percebamos o valor acrescentado enorme que tem uma espécie de coligação, de aliança (…) entre Estados e setor privado na área da ciência e da investigação aplicadas”. Por outro lado, a Europa é hoje “o continente onde foi possível, apesar das circunstâncias, fazer uma vacinação mais democrática, mais generalizada e mais estável”.
Portas alertou ainda para uma “ameaça crescente” que “pesa sobre nós, ocidentais”: “Tudo isto aconteceu tendo um adversário difícil que era o vírus e um inimigo muito sonoro chamado negacionismo.” “Se nós não acordamos, um dia estamos na mais absoluta obscuridade e voltamos centenas de anos atrás.”
Este continente, que “foi capaz de conciliar a fé e a razão e de dar contributos científicos absolutamente extraordinários ao progresso da humanidade, está ameaçado de regresso ao obscurantismo, e à estupidez e à ignorância”. “Isto vem diretamente da sociedade digital. Um tweet não é um doutoramento”, disse Paulo Portas, que abordou também a alteração dos procedimentos regulatórios em questões de saúde pública e terminou com três desafios futuros para reflexão na Europa: inteligência artificial; inovação; envelhecimento da população. “Preocupemo-nos com o envelhecimento da sociedade, preocupemo-nos com a nossa competitividade na ciência e tentemos fazer mais do que um regulamento da inteligência artificial”, sintetizou.
HN/RA
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