Cada córnea importada custa cerca de 3.000 euros, disse Manuel Pizarro que falava aos jornalistas à saída da cerimónia de lançamento do primeiro Banco de Córneas de Cultura em Portugal, um projeto do Centro Hospitalar Universitário de Santo António (CHUSA), no Porto, que permitirá aumentar o número de doentes transplantados neste hospital e ajudar outros hospitais.
“Não é claro ainda se este banco de córneas de cultura vai conseguir responder a todas as necessidades do país. Vai responder às necessidades deste hospital, vai poder ajudar outros hospitais, mas temos ainda de ver se não necessitaremos de uma outra estrutura deste tipo em outro local do país. Vamos estudar”, disse Manuel Pizarro.
De acordo com dados do final do primeiro semestre deste ano, citados pelo ministro da Saúde durante a cerimónia, no CHUSA aguardam por transplante de córneas 288 doentes.
Já no país o número sobe para cerca de 1.000.
“Vamos conseguir dar melhor resposta, resposta mais rápida e com menos dispêndio de recursos financeiros”, disse Manuel Pizarro ao elogiar o projeto do Hospital de Santo António, um projeto liderado pelos médicos Pedro Menéres, diretor do serviço de oftalmologia, e Luís Oliveira, responsável pela secção de córnea e líder da equipa de transplantes.
“Potencialmente sim [vai duplicar o número de transplantes]. Há pessoas à espera dois anos para transplante de córnea. Tivemos de encontrar uma solução que nos permitirá colher mais córneas e elas também vão estar com mais qualidade – porque há menos perda celular das córneas em cultura face às córneas refrigeradas – e vamos poder transplantá-las em 34 dias em vez de uma semana ou duas, o que abre janelas de oportunidade na colheita, na utilização e na disponibilidade”, descreveu Pedro Menéres.
A córnea é, no olho, a estrutura transparente que está à frente da íris.
O desafio neste tipo de intervenções é devolver transparência quando há patologia que põe em causa essa passagem de luz.
Considera-se que a escassez de tecidos é o passo limitante do processo de transplantação de córneas.
O Hospital de Santo António fez o primeiro transplante de córnea em 1958 e, até 1980, foram efetuados 198, o que representava uma média de nove por ano.
Em 1980, o hospital criou o Banco de Olhos para córneas refrigeradas, o que permitiu a conservação das córneas por alguns dias, possibilitando uma atividade mais regular.
Atualmente este hospital faz entre 150 e 200 transplantes de córnea por ano.
A colheita de córneas para transplante é feita a dadores cadáveres através de duas formas: conservação a frio (córneas refrigeradas) e conservação em meio de cultura (córneas de cultura).
A preservação a frio permite a utilização das córneas até um máximo de 14 dias, tratando-se de um método com outras limitações porque exclui os dadores acima dos 80 anos de idade e as vítimas de septicemia.
A preservação efetuada em meio de cultura permite o uso até 34 dias e a idade e a septicemia não são critérios de exclusão.
“Temos muitos doentes em lista de espera porque esta patologia tem crescido e a nossa esperança de vida também tem criado mais desafios (…). Vamos dar um salto de qualidade [ao passar a banco de córneas de cultura]”, disse Pedro Menéres.
Aos jornalistas, o oftalmologista adiantou que o banco de cultura do CHUSA passou agora a primeira fase, com a formação de técnicos e a especificação dos equipamentos.
“Na prática está pronto a entrar em ação muito breve, este mês”, apontou.
LUSA/HN
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