A iniciativa da Novartis uniu uma equipa multidisciplinar que conhece bem os doentes com cancro da mama: enfermeiros e médicos, oncologia, psicologia, psiquiatria, cardiologia e associações de doentes. Durante dois anos, “foi uma entrega de imensas horas, onde se sentiu muito o propósito e o compromisso”. Estiveram representados centros de todo o país, num total de 14. “Se contarmos com todos os enfermeiros, médicos, associações, portanto, o total de envolvimento, estamos a falar de cerca de 100 pessoas. Foi feito em várias etapas. Isto começa com uma fase diagnóstica, de primeira linha, com os enfermeiros, e depois estende-se à equipa multidisciplinar, com os representantes, de que falei há pouco, das várias áreas de especialidade”, contou Maria Rita Dionísio, responsável médica da Novartis. “Como é que nós conseguimos que a jornada do doente com cancro da mama se cumpra da melhor forma para o doente?” foi a pergunta que os juntou.
O grupo concluiu que é sobretudo necessário apostar no enfermeiro gestor do doente, na integração precoce dos cuidados paliativos e na reconciliação terapêutica. A médica Maria Rita Dionísio explicou: “Apesar de a oncologia se fazer de uma forma multidisciplinar, que envolve olhar a doença através de várias especialidades, cirúrgicas e não cirúrgicas, para o bem maior do doente, a verdade é que o que está identificado é que, na maior parte dos locais de prestação de cuidado hospitalar, não existe este enfermeiro gestor, que, no fundo, vai ajudar a pôr ainda mais o doente no centro.” O enfermeiro gestor “integra melhor o doente dentro do sistema e faz com que o sistema consiga melhor responder ao doente”.
Em relação aos cuidados paliativos, é preciso “começar pelo básico: pela própria definição”. “Os cuidados paliativos muitas vezes são entendidos pelos doentes como algo já na fase muito posterior ao diagnóstico de metástases. Temos que começar por entender o que é que são cuidados paliativos: no fundo, quando a doença é considerada crónica (não curável, mas crónica). O doente beneficia com a integração neste circuito dos paliativos, que envolve ainda mais especialidades e consegue atingir melhor os outcomes” importantes para o doente.
“O grupo multidisciplinar entendeu que, dentro das várias coisas que discutiu, estes seriam os projetos prioritários, de que também faz parte a reconciliação terapêutica: como é que a consulta farmacêutica, também na área da oncologia, pode gerar cuidados de maior qualidade, quando nós entendemos melhor as próprias interações dos vários medicamentos a que o doente é sujeito, evitando alguns efeitos adversos, dúvidas práticas dos doentes, e com uma maior adesão às várias terapêuticas oncológicas”, esclareceu Rita Dionísio.
Agora “é preciso pôr as recomendações em prática e, para isso, obviamente que precisamos que o ecossistema, nomeadamente de política e de gestão, pegue naquilo que os especialistas consideraram ser prioritário – e são as pessoas que estão no terreno com os doentes e, portanto, sabem exatamente quais são as necessidades reais e do dia a dia”, defendeu a especialista.
“Como Novartis, nós acreditamos mesmo que temos um papel ativo como atores do ecossistema. E o que é que isto significa? Significa nós sermos um dos vetores de ação e de agilização do próprio ecossistema. (…) Este é também o nosso sentido de responsabilidade, porque nós geramos dados na ciência, com os nossos estudos, e nomeadamente no cancro da mama temos um enorme legado de investigação, e vemos como uma responsabilidade não só estes dados de sobrevida dos doentes e de qualidade, mas como é que isto se torna prático no ecossistema. Portanto, sentimos essa extensão da nossa responsabilidade científica, para que os hospitais, realmente, consigam as melhores implementações na jornada do doente com cancro da mama. É isto mesmo que vemos como meta final”, afirmou a representante.
“Eu deixava aqui uma mensagem que é a confiança na ciência e em quem gere a ciência. Quando falamos na ciência, hoje em dia, não estamos a falar só da ciência básica, da ciência de intervenção clínica; estamos também a falar de como é que esta ciência se implementa. Portanto, aqui eu tenho que deixar um repto em todas as fatias da nossa sociedade, seja os doentes no desejo de melhorar a literacia, seja os clínicos em fazerem cada vez mais parte de projetos que possam ativar este eixo da concretização da saúde e, dentro do nosso ecossistema político, olhar com real vontade de fazer acontecer para estes projetos e outros, onde o impacto na vida dos doentes vai fazer a diferença. E aqui incluo-nos também a nós, indústria, em conjunto: continuarmos a pensar, a desafiar e a querer concretizar ainda mais, em conjunto, para isto se tornar uma realidade no nosso país”, concluiu.
O consenso tem o patrocínio da Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa e da Sociedade Portuguesa de Senologia.
HN/RA
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