Conferência anual AMPIF: “Companhias que tenham departamentos médicos de sucesso terão sucesso na sua missão”

10 de Novembro 2023

A Associação Portuguesa de Medicina Farmacêutica (AMPIF) realizou a sua conferência anual, esta quinta-feira, com o intuito de perceber como é que os departamentos médicos podem fazer mais e melhor, e apresentou os resultados de um estudo que dá a conhecer o “terceiro pilar” das empresas farmacêuticas, em Portugal, em 2023.

Na conferência, com o tema “Paving the way for pharma medical organizations evolution”, a presidente da AMPIF, Paula Martins de Jesus, frisou que “companhias que tenham departamentos médicos de sucesso são companhias que, seguramente, terão sucesso no seu trabalho, na sua missão”. Em Portugal, o estudo da Associação Portuguesa de Medicina Farmacêutica, que incluiu 19 companhias, mostra que, em 2023, há, em média, 20 colaboradores nos departamentos médicos, 17 dos quais efetivos, em média. Analisando a dimensão total do departamento médico, há um máximo de 60 e um mínimo de três colaboradores nas empresas que participaram no estudo.

O estudo revela que, atualmente, os departamentos médicos têm sobretudo colaboradores acima dos 30 anos, do sexo feminino e com formação em Ciências Farmacêuticas. Em relação às áreas que constituem os departamentos médicos, medical affairs ocupa o primeiro lugar; em relação às funções, em primeiro lugar está MSL/Field Medical Advisor.

Esta quinta-feira, na apresentação dos resultados, por Manuel Salavessa, foi destacado o aumento de 50% do número de colaboradores efetivos em 42% das empresas; que a formação médica continuada e a geração de insights são as áreas prioritárias de destaque atualmente, sendo o digital o principal foco para os próximos cinco anos; e que, comparando com 2018, mais de metade das empresas verificou um aumento do número de interações tanto do número total de colaboradores como de funções costumer facing.

A AMPIF apresentou também os principais insights de um ano de roadshow. As empresas disseram, por exemplo, que a associação poderia ajudar a aumentar a visibilidade do papel e ação do departamento médico e dos seus profissionais dentro da indústria farmacêutica e no ecossistema da saúde em Portugal, bem como manter o seu website atualizado, apostar em speed datings para fomentar networking, sessões com head hunters para discussão de CVs, formações com condições especiais para sócios, listagem de competências core para medical affairs (consoante funções), atualização do estudo dos departamentos médicos e inquéritos a sócios para avaliar ideias e necessidades.

Paula Martins de Jesus e Heitor Costa, diretor executivo da Apifarma (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica), disseram que os departamentos médicos têm que acompanhar a evolução, adaptar-se e inovar. “Como é que nós, departamentos médicos, podemos acompanhar e liderar essa transformação? Como é que nós, departamentos médicos, poderemos (…) acreditar na nossa missão de ser o terceiro pilar da organização?”, questionou Paula Martins de Jesus.

“A indústria farmacêutica (…) deve valorizar o impacto em termos da diferença que faz para os doentes e para a sociedade. (…) Ao abraçar a mudança e a inovação, as funções médicas podem preparar o caminho para um futuro melhor para a saúde dos portugueses, dos cidadãos, e é por isso que o tema desta conferência (…) é tão relevante e oportuno. (…) Somos os arquitetos do futuro onde os cuidados de saúde poderão ser mais acessíveis, eficientes e personalizados”, afirmou Heitor Costa. E concluiu: “A evolução das organizações farmacêuticas e médicas não é apenas uma necessidade – é o nosso dever. Ao abraçar a inovação, promover a colaboração, dar prioridade à abordagem centrada no doente, (…) [com] elevados padrões éticos e deontológicos, podemos preparar o caminho para o futuro onde os cuidados não sejam apenas um serviço, mas um farol de esperança e de progresso para todos.”

Depois dos workshops “Evolving Roles in Medical organizations: from existing capabilities to new required skills” (Inês Pargana Cardoso, Stan Tsvirko, Frederico Calado, Maria João Lourenço, Maria Reis, Ricardo Encarnação e Sofia Oliveira), “Measuring success: from outputs, through outcomes to impact” (Mafalda Nogueira, Joana Santos Silva, Alexandra Stoffel, Carla Gonçalves, Maggie João e Manuel Salavessa) e “Building strong Medical structure to succeed” (António Soure, Gouya Ghazaleh, Ana Paula Martins, Carlos Aguiar, Miguel Simões Rodrigues, Miguel Vieira e Neuza Teixeira), Paula Martins de Jesus juntou-se a Susana Castro Marques, Firmino Machado, Hélder Mota Filipe, Luís Cunha Miranda e Mariana Branquinho, na mesa final – “What may the future look like? (Sessions highlights)”.

No departamento médico, “a medida certa é o impacto que se tem nos doentes”, vincou Paula Martins de Jesus. Há dois grandes desafios para quem trabalha no departamento médico, em termos de KPIs ou indicadores de impacto: “o impacto visível no doente não é um impacto a curto prazo, (…) não é compatível com avaliação regular, e nós somos sujeitos a avaliações regulares”; “segundo desafio (…) é que os departamentos médicos durante muito tempo não tinham propriamente KPIs, ou seja, os KPIs, o desempenho do departamento médico, é algo relativamente recente na evolução dos departamentos médicos”. Anteriormente, o departamento médico era de “suporte”, “portanto os KPIs do departamento médico eram os KPIs da parte comercial, ou de acesso”, por exemplo. Atualmente, sendo “estratégico” e um “pilar da organização”, “é premente que tenha os seus próprios KPIs”. Paula Martins de Jesus acrescentou que as “chefias querem saber porque é que (…) determinado departamento médico merece ter mais recursos do que o departamento médico da Bélgica ou da Áustria”.

“De facto, os KPIs quantitativos são uma base de trabalho”, continuou a presidente da AMPIF. “É uma boa base de começo”, mas “não são suficientes”. “Nós somos um pilar estratégico da indústria farmacêutica. Enquanto não assumirmos esse pilar como sendo (…) estratégico, nós não vamos conseguir dar o próximo passo na indústria farmacêutica, a transformação que temos que ter”, sublinhou.

Paula Martins de Jesus disse que os insights recolhidos devem ser incorporados na estratégia da companhia – por exemplo, “transformar completamente a estratégia porque, de facto, não faz nenhum sentido posicionar determinado medicamento nesta área, porque não há uma vantagem óbvia para o doente ou para a sociedade”. Por outro lado, é fundamental a “credibilidade dos dados de geração de evidência local” – “tem que ser em conjunto com as sociedades, tem que ser em conjunto com os hospitais, tem que ser em conjunto com a academia”. “Nós temos o viés de, automaticamente, estarmos a defender o impacto do nosso medicamento”, explicou. É importante ter “mente aberta para perceber que tem que ser em parceria, para (…) ser ético, credível, transparente”.

“E talvez o último aspeto que me parece fundamental quando falamos em impacto é como é que conseguimos medir o impacto das nossas atividades na transformação do que é a atividade médica, nomeadamente das linhas orientadoras, das guidelines, do trabalho com as sociedades”, “como a saúde evolui e como seremos cada vez mais capazes de prevenir e de tratar doenças e, muitas vezes, erradicar essas doenças”, concluiu Paula Martins de Jesus.

A conferência decorreu no auditório da GSK. Eric King, general manager, foi o primeiro a discursar.

HN/RA

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