Luís Campos: “As artes humanizam o hospital”

11 de Novembro 2023

Por iniciativa do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), artistas e profissionais de saúde nacionais e internacionais reuniram-se para discutir, em Lisboa, esta sexta-feira, a relação entre a arte e a saúde.

“As artes humanizam o hospital, são uma afirmação da vida, aliviam a dor dos nossos doentes, reduzem a ansiedade, ajudam a superar, hora após hora, as crises da nossa vida diária”, disse, na sessão de abertura, em inglês, o médico e artista Luís Campos.

Na Conferência Internacional de Arte e Saúde, que decorreu na sede da EDP, foram partilhadas experiências que mostram como a arte pode ajudar os doentes, reduzir o estigma e desigualdades e estimular a socialização; discutiu-se o envolvimento dos museus e o Healing Environment, “ou seja, todos os fatores no ambiente dos serviços de saúde com um impacto positivo na recuperação e satisfação dos pacientes”, explicou Luís Campos, que convidou a audiência a conhecer também os vários projetos apresentados ao longo do dia, a decorrer em Portugal e noutros países.

“Podemos dizer que estamos a trabalhar três eixos principais: práticas, pessoas e sociedade”, disse ao HealthNews Joana Simões Henriques (Head of Education & Public Programmes no MAAT), que coordenou a conferência juntamente com Luís Campos e João Pinharanda (diretor do MAAT). No primeiro eixo, a coordenadora sublinhou “a importância de pensarmos fora dos nossos setores, do diálogo intersetorial”, e “como é que a arte e a criatividade podem ser importantes para a criação e alargamento do pensamento de diagnósticos ou análise de imagens, por exemplo em imagiologia”.

No eixo pessoas, Joana Simões Henriques falou da oportunidade de agir antes e durante a doença – “não são terapias alternativas”, advertiu, “como é que podemos melhorar a vida do doente” é a questão que realmente importa. “O MAAT tem alguns projetos neste âmbito, que estão disponíveis no nosso site, como o Marcar o Lugar – Encontros no Museu, para pessoas com demência e doença de Alzheimer, e o Roteiro para a Saúde Mental. Muitas vezes, quando fazemos a avaliação de impacto, o que as pessoas referem é o bem-estar que sentem a seguir e de encontrarem períodos de socialização e outros contextos para além daqueles da doença”, contou Joana Simões Henriques. Por outro lado, também na melhoria da qualidade de vida dos próprios profissionais de saúde é possível atuar – “por exemplo com programas anti-stress”.

Por último, a conferência é uma tentativa de “consciencialização por parte dos Governos de que é preciso agir e criar políticas que sejam feitas nestes eixos, nomeadamente prescrição cultural ou outro tipo de incentivos”.

“Na minha prática clínica recebo muitas pessoas que dizem que são saudáveis e, no final da história clínica e do exame objetivo, terminamos com dez problemas de saúde diferentes. Isto significa que as pessoas se sentem saudáveis enquanto são capazes de perseguir os seus objetivos vitais”, referiu, no discurso de abertura, Luís Campos.

O médico partilhou ainda os motivos que, na sua perspetiva, levam muitos médicos a tornarem-se artistas: “Eu acredito que há uma motivação comum entre artistas e médicos, que é nós gostarmos de pessoas e partilhamos a curiosidade pela natureza humana. (…) Além disso, o exercício da medicina é um observatório privilegiado da natureza humana, nos seus limites de dor, perda, sofrimento e alegria”.

Esta sexta-feira, o MAAT fez-nos refletir sobre as práticas que se situam no cruzamento entre a arte e a medicina. Todos os dias, museus como o MAAT permitem-nos “viajar no tempo, viajar com o nosso corpo e desacelerar um bocadinho aquilo que é o mundo exterior. E nós também associamos os museus a espaços calmos”, referiu Joana Simões Henriques. O museu é um “território ativo politicamente, mas com muita liberdade de sermos quem nós quisermos”; é um “espaço de bem-estar não formal” onde é possível estabelecer parcerias com hospitais, profissionais de saúde, universidades e muitos outros. “É quase como se fôssemos conectores de várias áreas da sociedade, porque falamos de muitos tópicos ao mesmo tempo”, concluiu a coordenadora da conferência.

HN/RA

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