“Para nós é uma oportunidade para o treino e investigação em algumas áreas onde o nosso campus universitário hospitalar tem menos capacidade, nomeadamente nos cuidados de saúde primários, nos cuidados interdisciplinares, em doenças crónicas”, disse à agência Lusa o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), João Eurico Cabral da Fonseca.
O investimento a médio prazo neste centro de inovação em saúde está estimado em 40 milhões de euros, dos quais 25 milhões de euros deverão ser afetos à recuperação do antigo hospital do Barro, onde funcionou um sanatório e, mais tarde, vários serviços do Centro Hospitalar do Oeste (CHO).
“É uma mais-valia profunda para o nosso território”, não apenas porque é um projeto de inovação, de investigação que não existe em Portugal, mas também pela recuperação do espaço, mantendo-o ligado à saúde”, afirmou à Lusa Laura Rodrigues, presidente da Câmara de Torres Vedras, entidade parceira da universidade.
Na parte melhor preservada do edifício, deverá começar a funcionar durante 2024 a primeira fase do projeto, com a abertura de uma Unidade de Saúde Familiar (USF) académica, abrangendo nove mil utentes da cidade que não têm hoje médico de família.
“Será uma unidade de saúde pública completamente aberta à comunidade envolvente, mas incluída dentro de um centro académico e, portanto, com características de treino de jovens médicos, de alunos, participação em projetos de investigação, ou seja, um perfil de atividade mais académico do que aquilo que é habitual numa unidade de saúde familiar”, explicou João Eurico Cabral da Fonseca.
Questionado sobre a falta de médicos de família num concelho a 40 minutos de Lisboa, o diretor da FMUL defendeu que, mais do que incentivos remuneratórios, os médicos optam por locais com condições do trabalho clínico e ligação a projetos científicos e à formação pós-graduada.
Acresce a procura de médicos pelo setor privado de saúde e por outros países, com oferta de condições que colocam o SNS fora da competição, e os custos elevados da habitação em algumas zonas do país.
“Esperamos ultrapassar esta onda negativa da atratividade do Sistema Nacional de Saúde promovendo [com o projeto] esta linha de atuação mais científica, com o desenvolvimento de carreiras com um âmbito académico”, sublinhou.
Nos próximos cinco anos, a FMUL pretende criar uma unidade de cuidados interdisciplinares em doenças crónicas, com capacidade de internamento para dois mil doentes, um centro de investigação clínica, um centro de investigação em tecnologias da saúde viradas para a inteligência artificial, um centro académico com formação pré e pós-graduada e alojamento universitário de curta duração.
No centro de formação, o responsável destacou o treino para especialistas em medicina humanitária e de catástrofe que vai existir, em parceria com a Universidade de Harvard.
“Há toda a vantagem de, antes de haver a deslocação de equipas, haver um treino adequado em ambiente adequado para integração em cenários onde a medicina não é praticada com as mesmas condições e com os mesmos recursos que temos nas nossas unidades de saúde, por insuficiência económica ou por cenários de guerra recente”, justificou.
O projeto, que junta outras universidades e privados, não tem ainda financiamento assegurado, mas é uma prioridade dos parceiros vir a candidatá-lo aos próximos fundos comunitários.
Com uma área de construção de 13.435 metros quadrados em 25.926 metros quadrados de terreno, o campus de saúde deverá empregar no futuro cerca de 400 pessoas.
O edifício encontra-se devoluto desde 2013, ano em que foram transferidos serviços do CHO que aí funcionavam e o espaço deixou de ser gerido por esta instituição.
LUSA/HN
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