Na carta publicada hoje, relembram que há mais de um ano que vamos assistindo ao encerramento de urgências, inicialmente pontuais, imprevistos e temporários, mas que rapidamente escalaram, com cada vez mais hospitais condicionados e com alargamento dos períodos de encerramento. Atualmente, das 15 urgências pediátricas existentes na região de Lisboa e Vale do Tejo, apenas quatro se encontram em pleno funcionamento. Na área da saúde materna, das 13 maternidades da região, apenas quatro funcionam sem encerramentos programados.
Os profissionais criticam o “plano de reorganização” das urgências levado a cabo pelo Ministério da Saúde e pela Direção Executiva do SNS: falha redondamente o objetivo a que se propõe de uma “cultura de previsibilidade, segurança e confiança”, deixando algumas populações a 50 km de distância da urgência mais próxima. O caráter rotativo ou por períodos torna o processo confuso e gerador de ansiedade para os cidadãos, sendo difícil perceber quais os estabelecimentos em funcionamento a cada momento. Afirmam os profissionais que “Tal reorganização gera uma inevitável sobrecarga para as urgências que permanecem em funcionamento, sem que esteja previsto um reforço dessas equipas, o que se traduzirá numa maior penosidade do trabalho para esses profissionais e menor qualidade dos cuidados de saúde”.
Mário André Macedo, um dos promotores da iniciativa, destaca que “Não se efetua uma reorganização dos serviços de urgência com o seu encerramento. Uma verdadeira reorganização começa pela base, pelo reforço dos cuidados de saúde primários e da oferta de circuitos alternativos para os doentes em contexto hospitalar. Só após se garantir alternativas é que poderemos planear eventuais encerramentos.”
Em Lisboa e Vale do Tejo, mais de 1,1 milhões não têm médico nem enfermeiro de família. Com a situação atual, encontram-se reunidas na região as condições que criam e acentuam fragilidades sociais e fomentam desigualdades. Um serviço público de saúde não presta apenas cuidados de saúde, resolve problemas sociais, protege crianças e mulheres e é uma verdadeira rede de salvaguarda da comunidade, defendem os profissionais.
Os profissionais querem que seja assegurado o direito das mulheres e crianças ao acesso a cuidados de saúde dignos, seguros, atempados e de qualidade. Perante esta situação, os profissionais de saúde da área materno-infantil de Lisboa e Vale do Tejo sentem como seu dever alertar para os enormes riscos dos crescentes constrangimentos no acesso à saúde, e apelam a que o Ministério da Saúde, a Direção Executiva do SNS, os Conselhos de Administração dos hospitais e as Direções Executivas dos ACES em causa encontrem as necessárias soluções para este grave problema que afeta de forma desproporcional a população.
PR/HN
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