Estevão Pape: “O Programa Nacional de Controlo da Diabetes não é suficiente”

02/08/2024
Passadas três décadas do primeiro encontro, a Sociedade Portuguesa de Diabetologia realiza nos dias 7, 8, e 9 de março o seu 20º congresso. Em declarações ao HealthNews, o presidente da comissão organizadora alertou que existem preocupações de há trinta anos que ainda se mantêm. Para Estevão Pape, as políticas de saúde devem ir além do Programa Nacional de Controlo da Diabetes. "Ainda não tem sido possível prevenir de forma eficaz a diabetes", disse. 

HealthNews (HN)- A Sociedade Portuguesa de Diabetologia realiza o seu 20º congresso nos dias 7,8 e 9 de março. Qual a importância deste congresso, tendo em conta que este ano comemoram 30 anos de eventos científicos?

Estevão Pape (EP)- Este ano realizamos o 20º Congresso Português de Diabetes, como diz e bem, 30 anos depois do primeiro realizado no Porto. Embora nas últimas três décadas tenham nascido muitas alternativas de enfretar a diabetes, algumas preocupações mantêm-se relativamente à doença. Portanto, este evento vai permitir o encontro de médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e investigadores. Estes profissionais vão poder refletir e apresentar, de forma coletiva, novidades nesta área.

HN- O primeiro congresso, em 1994, teve como lema o estudo e o conhecimento da diabetes mellitus. Passados 30 anos, esta doença mantém-se como uma doença altamente prevalente. De forma mais detalhada, o que destacaria sobre a evolução que tem havido no tratamento da doença?

EP- De facto, o lema do primeiro congresso poder-se-ia manter. No entanto, é preciso reconhecer que muita coisa mudou, como é o caso do encarar farmacológico da diabetes, o qual deu um salto qualitativo e quantitativo gigante. Hoje em dia, temos medicamentos mais diferenciados e mais dirigidos. Dispomos de novas insulinas e tecnologias que na altura não existiam. Por outro lado, há um novo olhar para a pré-diabetes e para a obesidade e excesso de peso no contexto da diabetes. A ligação e cruzamento da diabetes com outras patologias é melhor conhecida.

HN- Mas apesar desta evolução não temos conseguido estancar o aparecimento da doença…

EP- Ainda não tem sido possível prevenir de forma eficaz a diabetes. Esta doença continua a crescer.

HN- As atuais preocupações dos especialistas são mais a nível da prevenção?

EP- É a nível preventivo e organizativo. Embora exista um Programa Nacional de Controlo da Diabetes, não é suficiente para fazer face a esta doença. Apesar dos esforços que a própria Sociedade Portuguesa de Diabetologia tem feito, em que apresentamos todos os anos um relatório sobre a diabetes, a mensagem não tem sido forte o suficiente.

HN- Como descreve o panorama da doença a nível nacional?

EP- Em Portugal, existe uma elevada prevalência, em que mais de um milhão de pessoas sofre desta patologia e mais de meio milhão tem e não sabe. Apesar de todo o combate que temos feito em todos os locais onde a diabetes é tratada não tem sido suficiente. De qualquer modo, podemos sublinhar o esforço organizativo que tem sido feito no que toca à diabetes tipo 1, com o disponibilização das bombas de insulina a todos os doentes.

HN- E no que toca à diabetes tipo 2?

EP- É preciso perceber que este é o grande problema. O Programa Nacional de Controlo da Diabetes tem de encarar a diabetes tipo 2 de forma diferente.

HN- Voltando ao evento que vai ser realizado em março, quais os principais temas em destaque?

EP- No evento queremos debater a política europeia da diabetes, o papel e o lugar das sociedades científicas, o avanço tecnológico e científico que tem sido feito nos últimos anos. Todos os profissionais de saúde, ligados à diabetes, vão poder apresentar as suas ideias, o seu trabalho e a sua investigação.

HN- Quais as vossas expectativas relativamente aos resultados deste encontro?

EP- As nossas expectativas são sempre muito positivas. O 20º congresso é o encontro de todos os especialistas que se dedicam a esta área.

HN- Uma nota final.

EP- Deixo um apelo para que os profissionais de saúde venham ao 20º Congresso Português de Diabetes. Este encontro vai permitir a troca de experiências e conhecimento.

Entrevista de Vaishaly Camões

1 Comment

  1. João Carvalho

    Trabalho em Diabetes Ocular há mais de 3o anos. Sou Oftalmologista em Évora e afirmo que o Rastreio Anual da Retinopatia Diabética continua a não ser feito nem em frequência nem em abrangência à maioria dos diabéticos residentes na Região Alentejo. A principal causa de cegueira na faixa etária dos 20 aos 64 anos, continua descurada pela Administração Regional de Saúde do Alentejo.

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