Cerca de 200 pessoas participaram hoje de manhã numa marcha lenta entre o Mercado Municipal e o Centro de Saúde da vila acompanhadas de cartazes e entoando palavras de descontentamento como “concelho em luta por uma consulta”, “quem acode os figueirenses” e “sem médicos estamos entregues a nós próprios”.
O Centro de Saúde tem atualmente dois médicos ao serviço e a partir de terça-feira, com a reforma de uma médica, passa a contar com apenas um clínico.
O presidente da Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo, Carlos Condesso, eleito pelo PSD, sustentou que a situação “é de agonia” e que depois de terça-feira “será o caos”.
“As pessoas não conseguem consulta. Esta situação está a deixar a população muito nervosa e insatisfeita”, destacou.
Lurdes Meireles, de 51 anos e a mãe, Olinda Duarte, de 75 anos, conhecem bem as dificuldades em cuidados de saúde no concelho.
Lurdes Meireles tem problemas de coluna e anda “desesperada” para que lhe passem a credencial para realizar um exame.
A mãe, Olinda Duarte, de 75 anos, é doente crónica e necessita de acompanhamento médico regular, mas também não pode contar com as consultas no Centro de Saúde.
No protesto, estava também José Cruz, de 80 anos, regressado de França há 18 anos e que nunca teve médico assistente.
“Por isso é que nunca deixei o meu médico em França. Tenho receio de precisar e de não ter”, argumentou.
O comandante dos Bombeiros Voluntários Figueirenses, Luís Rico, também se associou ao protesto. O dirigente explicou que tem sido uma “situação difícil de gerir e de muito desgaste”, tanto em termos humanos como para as viaturas.
“Creio que estamos ao abandono. Era desnecessário nesta altura, neste século, termos de agir desta forma para termos os nossos direitos”, assinalou.
A falta de resposta em Figueira de Castelo Rodrigo obriga os bombeiros a mais transportes para o Hospital da Guarda.
“São viagens mais demoradas, o que significa menos socorro no concelho”.
Luís Rico destacou a dedicação dos bombeiros de Figueira, que têm abdicado do seu tempo livre para estarem disponíveis para a população.
A realização da manifestação foi aprovada em Assembleia Municipal por unanimidade pelos eleitos do PS e PSD.
O vereador do PS na Câmara Municipal, Paulo Langrouva, participou no protesto e realçou que “o concelho está desprotegido e abandonado em termos de saúde”.
“O interior também paga os mesmos impostos, tem os mesmos direitos”, sublinhou o autarca.
Paulo Langrouva considerou que “é insustentável haver só um médico no Centro de Saúde”, tendo em conta que os utentes são sobretudo idosos a necessitar de cuidados de saúde.
“Pensar que temos um médico para dar assistência a cinco mil habitantes é preocupante. Precisamos de pelo menos mais dois médicos”, reforçou, à agência Lusa.
O autarca socialista admitiu que nesta altura “qualquer reivindicação pode não ter o efeito que se pretende” e que poderia “ser mais sensato que [a manifestação] fosse após as eleições do novo governo”.
Mas ressalvou que isso “não invalida que se possa continuar a reivindicar depois das eleições”.
“Tudo o que seja para salvaguarda dos interesses dos figueirenses deve ser feito”, sustentou.
No final da manifestação, o presidente da Câmara deixou o aviso que, se depois deste alerta, “não houver soluções num curto espaço de tempo, a população vai voltar a sair à rua”.
LUSA/HN
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