Em que tipo de doenças a reumatologia se diferencia das outras especialidades médicas? A que tipo de doenças se dedica particularmente?
De facto, a reumatologia uma especialidade muito abrangente, a qual aborda a problemática do sistema musculoesquelético. Portanto, existem inúmeras patologias no âmbito da reumatologia, sendo um facto que temos alguma sobreposição com muitas especialidades, como é o caso das doenças degenerativas em que há necessidade de tratamentos multidisciplinares. No que toca à relação que existe com a Medicina Interna, acontece, sobretudo, nas conectivites e nas doenças multissistémicas. Nestes casos é necessária uma abordagem mais holística, sendo, por isso, importante recorrer a especialidades como a Medicina Interna, a Pneumologia e a Nefrologia. De qualquer forma, costumo dizer que a reumatologia é uma especialidade que aborda doenças que afetem todo o sistema musculoesquelético.
Quando é que um médico não reumatologista deve referencial um doente à reumatologia?
A Medicina Geral e Familiar tem competências para tratar muitas destas doenças, nomeadamente a patologia degenerativa e, inclusivamente, a osteoporose. Mas quando é que os colegas devem referenciar os doentes para a reumatologia? Quando entramos no campo das doenças sistémicas, quando temos queixas inflamatórias e articulares ou quando há suspeita de doença do tecido conjuntivo. A referenciação devem acontecer logo nesta primeira fase. Cada vez mais sabemos que quando mais cedo intervirmos, melhor é o prognóstico e a resposta à terapêutica. Existe um vasto número de estudos que indicam que se tratarmos de forma eficaz e assertiva, os doentes entram em remissão numa percentagem elevada. Portanto, deixar arrastar doenças inflamatórias pode acarretar custos para o doente.
Atualmente, que novas terapêuticas é que a reumatologia dispõe na abordagem específica das doenças referidas?
Comecei a trabalhar numa era em que o tratamento era principalmente à base dos corticoides, mas nos últimos anos o paradigma mudou. Foi na década de noventa que surgiu uma nova classe terapêutica – os tratamentos biológicos com anticorpos monoclonais dirigidos para determinadas moléculas que permitem colocar em remissão muitos doentes. Esta classe tem permitido que os doentes não desenvolvam deformidades e que tenham uma qualidade de vida exatamente igual à de uma pessoa sem a doença.
Em que fase deve ser introduzida a terapêutica?
Logo no início. Numa fase relativamente precoce.
Mesmo antes da corticoterapia?
A corticoterapia e o anti-inflamatório é mais uma terapêutica de controlo sintomático. Deve ser feita enquanto é tomada uma decisão para introduzir os novos tratamentos. Na falta do metotrexato devemos avançar com os biológicos e com os inibidores das JAK.
Significa que nesse caso a reumatologia passa a ser uma especialidade praticamente hospitalar… O acesso a estes medicamentos é quase exclusivamente hospitalar
Não é bem assim. Há medicação que, sim, é apenas de acesso hospitalar. No entanto, a maior parte dos biológicos está disponível para prescrição em ambulatório.
0 Comments