Carlos Vaz: “Deixar arrastar doenças inflamatórias pode acarretar custos para o doente”

15 de Fevereiro 2024

Foi no ciclo de conversas médicas conduzidas pelo Prof. catedrático Jorge Polónia, que o Presidente da Sociedade Portuguesa de Osteoporose e Doenças Ósseas Metabólicas alertou para a importância do diagnóstico e tratamento precoce das doenças reumatológicas. Segundo Carlos Vaz, a referenciação para a especilidade deve acontecer sempre que existam "queixas inflamatórias e articulares ou quando há suspeita de doença do tecido conjuntivo". Sobre as novas terapêuticas disponíveis, o reumatologista destaca os tratamentos biológicos com anticorpos monoclonais, pois conseguem "colocar em remissão muitos doentes".

Em que tipo de doenças a reumatologia se diferencia das outras especialidades médicas? A que tipo de doenças se dedica particularmente?

De facto, a reumatologia uma especialidade muito abrangente, a qual aborda a problemática do sistema musculoesquelético. Portanto, existem inúmeras patologias no âmbito da reumatologia, sendo um facto que temos alguma sobreposição com muitas especialidades, como é o caso das doenças degenerativas em que há necessidade de tratamentos multidisciplinares. No que toca à relação que existe com a Medicina Interna, acontece, sobretudo, nas conectivites e nas doenças multissistémicas. Nestes casos é necessária uma abordagem mais holística, sendo, por isso, importante recorrer a especialidades como a Medicina Interna, a Pneumologia e a Nefrologia. De qualquer forma, costumo dizer que a reumatologia é uma especialidade que aborda doenças que afetem todo o sistema musculoesquelético.

Quando é que um médico não reumatologista deve referencial um doente à reumatologia? 

A Medicina Geral e Familiar tem competências para tratar muitas destas doenças, nomeadamente a patologia degenerativa e, inclusivamente, a osteoporose. Mas quando é que os colegas devem referenciar os doentes para a reumatologia? Quando entramos no campo das doenças sistémicas, quando temos queixas inflamatórias e articulares ou quando há suspeita de doença do tecido conjuntivo. A referenciação devem acontecer logo nesta primeira fase. Cada vez mais sabemos que quando mais cedo intervirmos, melhor é o prognóstico e a resposta à terapêutica. Existe um vasto número de estudos que indicam que se tratarmos de forma eficaz e assertiva, os doentes entram em remissão numa percentagem elevada. Portanto, deixar arrastar doenças inflamatórias pode acarretar custos para o doente.

Atualmente, que novas terapêuticas é que a reumatologia dispõe na abordagem específica das doenças referidas? 

Comecei a trabalhar numa era em que o tratamento era principalmente à base dos corticoides, mas nos últimos anos o paradigma mudou. Foi na década de noventa que surgiu uma nova classe terapêutica – os tratamentos biológicos com anticorpos monoclonais dirigidos para determinadas moléculas que permitem colocar em remissão muitos doentes. Esta classe tem permitido que os doentes não desenvolvam deformidades e que tenham uma qualidade de vida exatamente igual à de uma pessoa sem a doença.

Em que fase deve ser introduzida a terapêutica?

Logo no início. Numa fase relativamente precoce.

Mesmo antes da corticoterapia? 

A corticoterapia e o anti-inflamatório é mais uma terapêutica de controlo sintomático. Deve ser feita enquanto é tomada uma decisão para introduzir os novos tratamentos. Na falta do metotrexato devemos avançar com os biológicos e com os inibidores das JAK.

Significa que nesse caso a reumatologia passa a ser uma especialidade praticamente hospitalar… O acesso a estes medicamentos é quase exclusivamente hospitalar

Não é bem assim. Há medicação que, sim, é apenas de acesso hospitalar. No entanto, a maior parte dos biológicos está disponível para prescrição em ambulatório.

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Portugal tem101 médicos especializados em cuidados a idosos

Portugal conta com 101 médicos geriatras especializados em cuidados a idosos, segundo a Ordem dos Médicos, uma especialidade médica criada no país há dez anos mas cada vez com maior procura devido ao envelhecimento da população.

MAIS LIDAS

Share This