Os métodos contracetivos têm a função de proteger homens e mulheres das infeções sexualmente transmissíveis (IST), bem como evitar gravidezes indesejáveis.
Para assinalar o Dia Internacional da Mulher de 8 de março de 1978, foi inaugurada na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto uma exposição organizada pelo Grupo Autónomo de Mulheres do Porto (GAMP), um dos primeiros grupos feministas e anticapitalistas em Portugal.
A exposição foi classificada de “ato radical”e um “escândalo”, inclusivamente entre alunos e docentes, recordam Alda Sousa e Manuela Matos Monteiro, duas das fundadoras do GAMP, em entrevista à agência Lusa no âmbito do Dia Internacional da Mulher.
“Tinha vários painéis sobre educação, sobre a questão dos salários, sobre a família, e tínhamos esse painel, onde colámos um dispositivo intrauterino [DIU], um diafragma e um preservativo desdobrado. Na altura isso foi visto como uma coisa escandalosa”, recorda Alda Sousa, 70 anos, doutorada em Ciências Biomédicas, antiga docente universitária no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, deputada na Assembleia da República (2004) e eurodeputada (2012 e 2014).
Os funcionários da Faculdade de Belas Artes diziam ao GAMP que as pessoas ficavam “horrorizadas com o que viam na exposição, porque de facto era uma novidade”, conta, por seu turno, Manuela Matos Monteiro, 74 anos, antiga docente de psicologia e filosofia, fotógrafa e com uma atividade política clandestina no Estado Novo.
Os materiais anticoncecionais foram “muito mais poderosos do que a palavra. A sua visualização era claramente um ato radical”, disse Manuela Matos Monteiro.
A memória desta exposição tida como “provocação nos finais da década de 70”, revela a “dimensão do que o GAMP conquistou, pois o que outrora foi um escândalo hoje mostra-se aos jovens nas escolas e faz parte da educação. É o sinal dos tempos”, concluiu Manuela Matos Monteiro.
A exposição inaugurada nas Belas Artes circulou depois por outros espaços, designadamente escolas secundárias.
“Chegou a estar na Escola Rodrigues de Freitas e creio que aí teve um outro nível aceitação pelos alunos mais velhos e até por alguns professores, que viram com bons olhos essa pedagogia. A exposição teve uma crítica negativa, mas também houve vozes que nos apoiaram incondicionalmente e que acharam que foi importante termos quebrado esse tabu”.
O GAMP foi fundado no outono de 1977 por um conjunto de mulheres com idades entre os 17 e os 70 anos, de diversos estratos sociais e com diferentes ideologias, que consideraram que fazia sentido agregarem-se numa organização que se batesse contra a “opressão específica das mulheres e que tivesse uma voz ativa em relação à situação em que as mulheres viviam, que para além das lutas laborais e por salário, eram absolutamente fundamentais”, explicou Alda Sousa.
Além das desigualdades entre homens e mulheres que vigoravam em Portugal nos anos 70, o GAMP queria trazer à discussão a opressão sobre “o corpo das mulheres”, “a opressão sobre a vida das mulheres e sua autonomia”, o “direito ao prazer”, a “questão da contraceção”, a “questão do aborto” e “a violência sobre as mulheres”, explicou Alda Sousa.
Para estas duas fundadoras do GAMP, continua a ser essencial lutar pelos direitos das mulheres nos dias de hoje em Portugal, designadamente na questão do aborto, em que as mulheres continuam nos dias de hoje a ser “culpabilizadas” pela interrupção voluntária da gravidez.
LUSA/HN
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