O alerta foi feito pelo presidente do CPSA, o internista Luís Campos, que foi o primeiro autor de um documento de consenso assinado por médicos de 29 países de língua portuguesa e espanhola, intitulado “Recomendações dos Serviços de Medicina Interna Luso-Espanhóis no Combate às Alterações Climáticas e à Degradação Ambiental”, que foi divulgado na quinta-feira.
Em declarações hoje à agência Lusa, Luís Campos afirmou que “as alterações climáticas e a degradação ambiental são o maior desafio” que o sistema de saúde tem pela frente.
“Vai ser a determinante da saúde que mais impacto vai ter na saúde das populações e acreditamos que os médicos têm uma particular responsabilidade em envolver-se nesta luta contra as alterações climáticas e degradação ambiental, porque estão a afetar a saúde das populações”, defendeu.
O especialista elucidou que cerca de uma em cada quatro pessoas morre a nível global por fatores ambientais e realçou o papel dos médicos neste combate, porque “além de serem cuidadores, devem também ser advogados dos doentes”.
“Além disso, têm um capital de confiança elevado na comunidade, que não pode ser desperdiçado. Portanto, é importante que os médicos e os profissionais de saúde em geral apareçam a dizer que este não é um problema de ambientalistas nem de jovens radicais é um problema que nos diz respeito a todos”, defendeu.
Para Luís Campos, estes profissionais também têm o dever de solidariedade intergeracional: “Não podemos comprometer o futuro das próximas gerações, que são as gerações dos nossos filhos e dos nossos netos”.
O especialista salientou a importância do documento de consenso, publicado em simultâneo na “Revista Clínica Española” da Sociedade Espanhola de Medicina Interna e na revista “Medicina Interna”, órgão oficial da SPMI, a apelar a um maior envolvimento dos profissionais de saúde na luta contra as alterações climáticas e a degradação ambiental.
“Conseguimos reunir pela primeira vez, em qualquer área da ciência, num consenso comum, todas as 35 associações de 29 países que incluem todos os países que falam espanhol e falam português”.
As recomendações dos especialistas vão no sentido de as organizações de saúde cooperarem e intervirem conjuntamente nestas questões, e de se aplicarem boas práticas de sustentabilidade ambiental no exercício das atividades de saúde.
Apelam também à redução da pegada ecológica no setor da saúde, que é responsável a nível global por 4,4% da emissão de gases com efeito estufa e em Portugal é cerca de 4,8%.
Para os especialistas, os sistemas de saúde devem ser “cada vez mais resilientes e capazes de responder à transição epidemiológica em curso e ao maior risco de eventos inesperados”.
Chamam também a atenção para a necessidade de proteger as populações mais vulneráveis, porque são quem vai “sofrer em primeiro lugar”, e de os profissionais de saúde serem exemplares na adoção de comportamentos amigos do ambiente.
Questionado se já há alguma mudança na mentalidade para esta problemática, Luís Campos respondeu: “Existe um interesse crescente dos profissionais de saúde e das sociedades em relação a este tema, mas ainda estamos longe entre aquilo que podemos fazer e a importância do desafio que enfrentamos”.
Luís Campos avançou que o CPSA está a organizar um observatório nacional da saúde e ambiente para monitorizar o impacto que as alterações climáticas e a degradação ambiental estão a ter na saúde das populações.
LUSA/HN
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