Secretária de Estado reconhece existir parque automóvel de bombeiros envelhecido

Secretária de Estado reconhece existir parque automóvel de bombeiros envelhecido

No âmbito da iniciativa “Preparar o verão no inverno”, o Governo tem reunido com representantes de associações humanitárias e comandantes de corpos de bombeiros das 24 comunidades intermunicipais portuguesas, de forma a esclarecer questões existentes.

Após a última reunião, realizada esta terça-feira em Odivelas, com comandantes da Área Metropolitana de Lisboa, Patrícia Gaspar afirmou à Lusa que o reequipamento dos bombeiros, no que diz respeito à frota de veículos, foi uma das principais preocupações demonstradas em todo o país.

“Temos em muitos pontos do país um parque automóvel já envelhecido. (…) É fundamental garantir a sua substituição”, reconhece a secretária de Estado da Proteção Civil, sem entrar em detalhe sobre esses pontos.

Nos últimos 20 anos, a aquisição de “equipamentos mais pesados, de combate a incêndios” tem sido feito principalmente através de fundos comunitários, mas também com o apoio das autarquias, explica a governante, mas Patrícia Gaspar quer garantir uma “maior previsibilidade” na renovação do parque automóvel dos bombeiros.

“Aquilo que nós temos de perceber daqui para a frente é qual será o melhor instrumento, a melhor forma de garantir uma maior previsibilidade (…) para os corpos de bombeiros de quando e como vão poder ter a oportunidade de substituir veículos mais antigos e adquirir novos”, aponta a secretária de Estado.

Ainda assim, sublinha o investimento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) previsto para a aquisição de 82 veículos florestais, destinados a 81 corpos de bombeiros.

Entre as questões levantadas pelos bombeiros nas reuniões com governantes da Administração Interna, estavam a carreira da profissão e também o financiamento permanente das corporações.

Sobre este último ponto, Patrícia Gaspar explica que há, por parte das associações, a reivindicação de um “maior aumento, sobretudo na fase difícil em que estamos a viver”, dado o aumento do custo de vida e a inflação.

“Estamos em crer que ao longo do próximo ano vamos conseguir estabilizar esta situação e a garantia que deixámos é que estaremos sempre ao lado dos corpos de bombeiros”, afirma, admitindo também a possibilidade de medidas adicionais ao financiamento permanente, que este ano está orçado em 31,7 milhões de euros (mais dois milhões em relação a 2022).

Questionada sobre se a mudança na estrutura da Proteção Civil, que extinguiu, em janeiro, os 18 comandos distritais de operações e socorro (CDOS) para dar lugar a 24 comandos sub-regionais (correspondentes às 24 comunidades intermunicipais existentes), levantou dúvidas entre bombeiros, a secretária de Estado diz que houve apenas algumas questões do “ponto de vista operacional”.

“É um modelo que está ainda a ser ajustado”, avisa Patrícia Gaspar, mas sublinha: “Esta alteração não teve qualquer interferência na atividade diária dos corpos de bombeiros”.

A governante realça ainda que, embora exista um período de referência entre maio e outubro, “é possível ter incêndios em qualquer altura do ano”, algo dependente das condições climatéricas e que resulta das alterações climáticas, reforçando a importância da limpeza das faixas de combustível.

LUSA/HN

SPC quer mais literacia sobre efeitos das alterações climáticas na saúde

SPC quer mais literacia sobre efeitos das alterações climáticas na saúde

“A poluição e as alterações climáticas são duas faces da mesma moeda. A poluição agrava as alterações climáticas, e vice-versa. E também em termos de patologias”, disse à Lusa Fátima Franco, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), que na sexta-feira promove um encontro sobre esta matéria em Lisboa.

Sublinhado o aumento da frequência das ondas de calor, assim como das vagas de frio, a cardiologista recorda: “Está bem estudado e sabe-se que o frio aumenta os eventos coronários agudos, aumenta o enfarte do miocárdio e sabemos atualmente que as ondas de calor, por mecanismos um bocadinho diferentes, têm exatamente o mesmo impacto”.

“O que pretendemos é refletir todos sobre o problema que já temos e definir muito bem três níveis de intervenção: em relação aos médicos, no nosso caso, os cardiologistas, dar-lhes formação para eles perceberem e identificarem o risco nos doentes, ajudando as pessoas a lidar com esse risco”, afirmou a especialista, acrescentando: “o outro nível de intervenção é nas sociedades científicas, definindo medidas, e junto dos políticos, sobretudo os responsáveis pelas cidades”.

Fátima Franco insiste que “é preciso ensinar as pessoas a viver com as alterações climáticas” e sublinha a fragilidade da população portuguesa, envelhecida e com doenças crónicas.

“É verdade que quando se pensa em poluição pensa-se nas vias respiratórias, mas o que mata são os AVC [acidentes vasculares cerebrais]”, acrescenta a cardiologista do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra.

A propósito da necessidade de aumentar a literacia relativamente aos efeitos das alterações climáticas na saúde, Fátima Franco recorda: “Quando começámos o nosso mandato [na SPC], há dois anos, havia médicos a perguntar se não era um exagero, se era mesmo verdade”.

Aponta ainda a necessidade definir estratégias adequadas em termos de políticas públicas “para a necessária adaptação a esta nova realidade”.

A especialista aponta igualmente o recém-criado Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), de que a SPC faz parte e que envolve mais de 30 organizações da área da saúde, que pretende ajudar a diminuir o impacto das alterações climáticas na saúde e reduzir a pegada ecológica neste setor.

O CPSA, que reúne cinco ordens profissionais, associações, sociedades científicas, laboratórios, grupos privados de saúde, a Santa Casa de Misericórdia de Lisboa e a indústria farmacêutica, visa também preparar o sistema de saúde para eventos inesperados e uma nova epidemiologia das doenças, bem como reduzir a pegada ecológica do setor da saúde, responsável por 4,4% da emissão de gases com efeito de estufa.

No fórum promovido pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia que vai decorrer no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, será apresentado um trabalho de diversos especialistas que insistem que a poluição é “uma ameaça real” à saúde cardiovascular e que “não deve ser subestimada” pelas organizações e pelos decisores políticos.

Neste documento, os especialistas lembram as diretrizes da Sociedade Europeia de Cardiologia, que recomenda que as pessoas com alto nível de risco cardiovascular evitem a exposição prolongada a regiões com alta poluição do ar e chama a atenção para a necessidade de melhores sistemas de monitorização, alertando para a necessidade de informar as pessoas sobre os locais e períodos dessa exposição de alto risco.

Neste documento, é sugerido o “rastreio oportunístico de doenças cardiovasculares” em regiões de elevada poluição atmosférica, “particularmente onde existe tráfego rodoviário de elevado volume, como Lisboa e Porto”.

Evitar o tabagismo e o fumo passivo – “um tipo negligenciado de poluição do ar” -, reduzir o uso de veículos motorizados sempre que possível e praticar exercícios preferencialmente em locais com menor poluição do ar são outras das recomendações.

LUSA/HN

2022 foi o ano mais quente em Portugal continental desde 1931

2022 foi o ano mais quente em Portugal continental desde 1931

A média da temperatura do ar esteve 1,38 graus celsius (°C) acima do valor normal registado no período de referência de 1971-2000, refere o balanço da divisão Clima e Alterações Climáticas do IPMA relativo ao ano passado.

O país registou seis ondas de calor – uma em maio, quatro no verão e uma no outono – e a média da temperatura máxima do ar foi de 22,32°C, mais 1,82°C que o valor normal, segundo o relatório dos serviços meteorológicos, que adianta que os “últimos 14 anos registaram sempre anomalias positivas”.

A média da temperatura mínima do ar, 10,96°C, foi 0,94°C acima do normal e a quarta mais alta dos últimos 91 anos.

Classificado “como extremamente quente em relação à temperatura do ar e seco em relação à precipitação”, 2022 foi o ano em que 80% do território de Portugal Continental foi considerado “em seca severa extrema”.

O total de precipitação anual foi de 797,6 mm, 84 mm abaixo do valor normal, com 70% da chuva a ocorrer nos últimos quatro meses de 2022.

Foram registados “cinco episódios de precipitação intensa e persistente”, um em setembro e quatro em dezembro, que “resultaram em cheias e inundações em várias regiões” do país.

O balanço do IPMA precisa que a passagem do ciclone extra-tropical Danielle por Portugal resultou num valor médio de precipitação de 55,2 mm entre 12 e 15 de setembro, o que correspondeu a “77 % do valor total do mês”.

Em relação a valores extremos de temperatura do ar, precipitação e vento em Portugal continental, o boletim revela que a temperatura mínima mais baixa, -7,5°C, foi registada em Mirandela (distrito de Bragança) no dia 30 de janeiro de 2022 e que a temperatura máxima mais alta, 47°C, foi registada no dia 14 de julho, em Pinhão, na região do Douro.

A maior quantidade de precipitação em 24 horas, 110,6 mm, foi registada em 13 de dezembro de 2022 na estação Lisboa/G.C. do IPMA, enquanto a rajada de vento mais forte, de 119,5 quilómetros hora, ocorreu em 11 de dezembro em Fóia, no ponto mais alto do Algarve, na serra de Monchique.

O ano de 2022 foi o quinto mais quente no mundo desde que há registo, de acordo com os dados climáticos globais recolhidos pelo Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus da União Europeia e divulgados na terça-feira.

Este serviço, que reúne dados globais desde 1959, indicou que o ano passado – o quinto mais quente no mundo, depois de 2016, 2020, 2019 e 2017 – a temperatura média foi 0,3ºC acima do período de referência de 1991-2020, equivalendo aproximadamente a 1,2ºC acima da do período de 1850-1900.

Referiu ainda que a par dos verões, os invernos estão a ficar mais quentes na Europa, e de forma mais intensa, em resultado do aumento global das temperaturas.

“Com o aumento das temperaturas mundiais, as vagas de calor e os períodos quentes tornam-se mais frequentes e mais intensos, e tal não se limita apenas aos meses de verão”, afirmou, em declarações à agência noticiosa AFP, Freja Vamborg, cientista do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus, assinalando que “os invernos estão a ficar mais quentes em resultado do aumento global das temperaturas”.

De acordo com Vamborg, “o aquecimento é mais acentuado no inverno” no norte da Europa e “mais evidente no verão” no sul do continente.

LUSA/HN

Subida de caudal de rio no sul de Moçambique destrói 800 hectares de culturas

Subida de caudal de rio no sul de Moçambique destrói 800 hectares de culturas

Entre as culturas destruídas, segundo a administradora do distrito da Manhiça, está o milho, mandioca, feijão e batata, prejuízos que vão afetar diretamente pelo menos 95 famílias camponesas daquele distrito da província de Maputo.

“Temos estado a orientar as populações para que façam a colheita daquelas culturas que possam ainda estar em condições e também temos orientado as pessoas para que saiam das zonas consideradas de risco”, declarou a administradora do distrito da Manhiça, Maria Fernanda, citada hoje pela Rádio Moçambique.

Na última semana, a Direção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos (DNGRH) alertou para a subida do caudal dos rios Incomáti, Maputo e Umbeluzi (no sul) devido a descargas na África do Sul e Essuatíni, países que estão a “100% do nível de armazenamento nas grandes barragens”.

O Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) de Moçambique posicionou 10 embarcações na província de Maputo para fazer face a uma eventual subida do caudal dos três rios.

Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.

Em novembro deste ano, o INGD anunciou que precisava de 7,4 mil milhões de meticais (112 milhões de euros) para a época das chuvas 2022/2023, período em que se prevê que pelo menos 2,2 milhões de pessoas sejam afetadas.

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas do Idai e Kenneth, dois dos maiores ciclones de sempre a atingir o país.

NR/HN/LUSA

Médicos Sem Fronteiras alertam que crise alimentar em África pode ser mais “aguda” em 2023

Médicos Sem Fronteiras alertam que crise alimentar em África pode ser mais “aguda” em 2023

Para a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), “o ano 2023 representa uma continuação e mesmo um possível agravamento das possíveis crises de insegurança alimentar que foram anunciadas em 2022”, disse hoje José Mas, diretor adjunto de operações da organização, numa entrevista à Efe.

Neste sentido, a MSF coloca o foco tanto nos países do Sahel, como Mali, Burkina Faso e Nigéria, como também no Corno de África, incluindo a Somália, Etiópia, Sudão e Sudão do Sul.

Mais de 35 milhões de pessoas passam fome na África Ocidental e Central devido à persistente insegurança e ao aumento dos preços no rescaldo da guerra na Ucrânia e da Covid-19, de acordo com os últimos números da Organização das Nações Unidas (ONU).

Os países da África Oriental, entretanto, estão a sofrer a pior seca dos últimos 40 anos, que tem vindo a afetar cerca de 20,2 milhões de crianças na Etiópia, Quénia e Somália, um número que duplicou nos últimos cinco meses, segundo a ONU.

“Estamos a preparar-nos para responder a possíveis emergências nutricionais que possam resultar destas crises alimentares”, disse Mas.

A organização ainda não detetou “situações generalizadas de fome” num país, contudo, alertou para “zonas localizadas com indicadores muito alarmantes”.

No final de setembro, a MSF relatou uma crise “catastrófica” de desnutrição no noroeste da Nigéria, uma área que é frequentemente atacada por homens armados.

A organização não-governamental (ONG) salientou que muitas destas crises humanitárias são exacerbadas por conflitos, tais como a guerra entre o governo federal etíope e a província do norte de Tigray – que chegou a um acordo de paz em 02 de novembro após dois anos de combates – e o terrorismo no norte de Moçambique.

“A guerra não só tem um impacto direto nas pessoas, com mortes, ferimentos e violência sexual, mas também indiretamente, causando deslocamentos forçados ou restringindo o seu acesso aos serviços de saúde”, de acordo com o trabalhador humanitário.

Para 2023, Mas salientou também os efeitos da Covid-19 nos sistemas médicos de países com conflitos antigos, como a República Democrática do Congo (RDCongo) ou a República Centro-Africana (RCA), onde a pandemia interrompeu as campanhas de vacinação de rotina.

Em toda a África subsariana, vê-se “de novo em cima da mesa doenças, como o sarampo, que são evitáveis através da vacinação”, lamentou.

LUSA/HN