Tuberculose: Portugal regista 1.518 casos em 2022

22 de Março 2024

Portugal manteve em 2022 a redução progressiva dos casos de tuberculose, totalizando 1.518, mas ainda se mantém como um dos países europeus com maior incidência da doença, revela um relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Dos 1.518 casos notificados, 1.403 eram novos casos e 115 retratamentos, correspondendo a uma taxa de notificação de 14,5 casos por 100 mil habitantes e uma taxa de incidência de 13,4 casos por 100 mil habitantes, adianta o Relatório de Vigilância e Monitorização da Tuberculose em Portugal 2022, que é apresentado hoje no encontro promovido pela DGS “Tuberculose: uma doença atual” para assinalar o Dia Mundial da Tuberculose, que se comemora a 24 de março.

Apesar da redução que tem sido consistente nos últimos seis anos, “Portugal mantém-se como um dos países europeus com incidência acima dos 10 casos por 100 mil habitantes”, realça o documento publicado pelo Programa Nacional para a Tuberculose (PNT) da DGS.

Em declarações à agência Lusa, a diretora do PNT, Isabel Carvalho, afirmou que os casos não estão “a reduzir tão rápido” como o desejado para atingir os objetivos que a Organização Mundial da Saúde (OMS) propõe até 2035 de reduzir 95% as mortes por tuberculose e 90% a taxa de incidência, tendo como valores de base os de 2015.

“Apesar de tudo (…) desde 2015 até 2022, conseguimos ter uma redução de cerca de 31% e 30,7% na incidência da doença em Portugal e uma redução de 43% da morte causada por tuberculose, o que dá um decréscimo percentual anual de cerca de 4% em relação à incidência e por volta dos 6% em relação à mortalidade”, mas, sublinhou, “o ideal” seria uma diminuição “mais acentuada, perto dos 5,6%” por ano.

Os homens continuam a ser mais afetados do que as mulheres (65,7% do total de casos notificados em 2022), especialmente na idade adulta, observa o documento, acrescentando que 3,3% do total de casos ocorreram em crianças e adolescentes até aos 15 anos.

Nesse ano, foram registadas 91 mortes por tuberculose, o que corresponde a uma letalidade de 8,6% na totalidade dos casos.

Quanto à distribuição dos casos notificados pelas sete regiões do país, manteve-se o predomínio de Lisboa e Vale do Tejo e Norte.

“Entre 2021 e 2022, na região de Lisboa e Vale do Tejo verificou-se uma subida da taxa de notificação de 16,8 para 17,8 casos por 100 mil habitantes, enquanto na região Norte se identificou um decréscimo de 17,5 para 15,8 por 100 mil habitantes”, salienta o documento.

Os autores do relatório apontam como explicação para a subida da taxa de notificação em Lisboa e Vale do Tejo o aumento do número de casos no distrito de Lisboa (495 em 2022 contra 440 em 2021), valores semelhantes aos de 2020 (mais de 20 casos por 100.000 habitantes).

O distrito do Porto apresentou uma ligeira diminuição dos casos notificados (376 em 2022; 384 em 2021), correspondendo a uma taxa de notificação de 20,7 casos por 100.000 habitantes.

O número de dias até ao diagnóstico manteve-se elevado em 2022 (82 dias), embora menos do que em 2021 (86 dias), uma descida que Isabel Carvalho defendeu que devia ser mais acentuada.

A responsável explicou que os profissionais de saúde demoram cerca de 12 dias para fazer o diagnóstico, mas isto só acontece quando o doente entra nos cuidados de saúde.

“Até lá, o doente demora uma mediana de 40 dias a procurar ajuda”, o que pode acontecer porque tem barreiras ou desconhece como aceder aos cuidados de saúde, no caso dos imigrantes, ou porque o doente não valoriza os sintomas.

Isabel Carvalho adiantou que nos países com baixa incidência de casos a “consequência negativa” é que já não se pensa na tuberculose, considerando-se, “até às vezes, erradamente que a doença está erradicada em Portugal”.

“Não está [erradicada em Portugal], não está erradicada no mundo e, por isso, temos que estar mais alerta e continuar a falar sobre tuberculose, porque de facto doença existe”, vincou, sustentando: “Existem menos casos, mas é uma doença que é muito transmissível, especialmente quando somos adultos e temos formas pulmonares da doença”.

Alertou para a situação das crianças e das pessoas que estão imunodeprimidas, com as defesas diminuídas, “que com pouco tempo de exposição poderão ficar infetadas, desconhecendo até, por vezes, que aquele contacto fortuito que tiveram tinha tuberculose”.

LUSA/HN

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