7 de abril, assinalado como o Dia Mundial da Saúde. Um domínio dotado de extrema importância, ou não registássemos esta área como uma das prioritárias nesta legislatura, a par da Habitação e Educação. Assim, perante uma conotação tão negativa associada a um conceito tão basilar, e resgatando uma expressão que se difundiu na pandemia, será mesmo que a futura geração consegue acreditar que vai “ficar tudo bem”?
A evolução contínua da abordagem à saúde exige daqueles que a conduzem uma habilidade para tomar decisões, discernir e comparar diferentes fontes de informação. Por trás desse avanço, encontram-se pensadores, académicos e investigadores, guiados por um pensamento científico que fundamenta cada passo. Por outro lado, perante o desafio do aumento contínuo dos gastos com o envelhecimento da população e aposta na inovação tecnológica, cada vez mais se afunila o foco num conceito central: prevenção.
Esta corrente de pensamento, de uma perspetiva científica e foco em comportamentos preventivos, já se faz sentir em Portugal. A criação de uma Direção Executiva do SNS, a generalização do modelo de ULS são exemplos respetivos desta mudança. Então, se o problema já se encontra a ser trabalhado, onde está a centelha de esperança?
Assim, é premente um investimento em modelos de transparência e comunicação em Saúde. Saímos recentemente de um período eleitoral, de escrutínio, e com formas divergentes de encarar o setor, com as Unidades Locais de Saúde já em vigor a contrastar com os Sistemas Locais de Saúde que se encontram no programa da Aliança Democrática, como exemplo. No entanto, não testemunhamos discussões a defender os diferentes modelos. Não verificamos tentativas de explicação dos diferentes financiamentos e formatos de articulação, deixando assim as populações presas num dualismo desnecessário: ou estamos a favor ou contra, sem espaço para uma identificação precisa com as estratégias que queremos ver implementadas.
É necessário realizar debates alargados, que incluam gestores, profissionais de saúde, e associações de doentes. Além disso, se queremos construir a Saúde no futuro, temos de envolver os seus futuros profissionais: é basilar incluir os jovens nas decisões na Saúde. Esta prioridade já foi adotada por outras entidades, nomeadamente a Organização Mundial de Saúde, que tem feito uso de redes de jovens e órgãos consultivos juvenis. São exemplos destas iniciativas a Youth4Health Network ou a EVID-Action Youth Network, que permitem aos jovens não só contribuir para as mais variadas temáticas, mas são também pautadas por mecanismos de feedback e de evolução que permitem à juventude modelar o seu próprio papel. Nesta legislatura, foi criado o Ministério da Juventude e Modernização, sinalizando pelo menos um claro reconhecimento desta prioridade. Resta trazer estes ideais para a saúde, com a construção de novas formas de participação significativa dos jovens e através da auscultação das mais diversas associações.
Na continuidade do envolvimento dos diferentes ministérios, é também vital falar em “Saúde em todas as Políticas”. Cada vez mais, os determinantes sociais são percebidos como os principais influenciadores da saúde das populações. Isto significa ter presente a noção de Saúde em todas as pastas e a promoção de uma visão científica, inovadora e inclusiva. De nada nos servirá uma Saúde encapsulada em si mesma, se depois ignoramos outros fatores fundamentais como as alterações climáticas ou o peso do atraso na emancipação ou das faltas de condições de trabalho dignas, o que requere uma sensibilização alargada.
Por fim, uma nota mais distinta: enquanto futuro médico, posso afirmar com toda a confiança que o nosso sistema de Saúde não será nada sem os seus profissionais. É crucial um maior foco nos Recursos Humanos em Saúde. Precisamos de um diagnóstico enquadrado e uma análise prospetiva que permita definir o ecossistema da Saúde nos anos vindouros e aos futuros profissionais decidir se querem fazer parte desse futuro. É necessário pegar no que já foi feito, nomeadamente nos dados dos estudos encomendados pelo anterior Executivo, sustentá-los num verdadeiro Inventário Nacional de Profissionais de Saúde e traduzi-los em propostas claras, criando um guia definitivo e completo.
Transparência, modelos colaborativos, investimento na juventude e visões holísticas e de futuro – ingredientes para uma solução eficaz para um SNS que faz tanto por nós. Finalmente, afirmaremos com confiança – “sim, vai ficar tudo bem”.
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