A experiência foi feita no âmbito da cadeira de Psicologia do Desenvolvimento e pretendeu “despertar nos alunos uma consciência crítica para a importância da comunidade e do meio em proporcionar condições para que as pessoas se possam desenvolver na sua plenitude, independentemente de terem ‘handicaps’”, explicou à agência Lusa Rosa Marina Afonso, uma das professoras que acompanhou o grupo.
As falhas no planeamento e desenho do espaço público para quem apresenta dificuldades de locomoção fizeram-se sentir desde os primeiros metros em que os alunos saíram da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas.
Uns em cadeira de rodas, outros com muletas, andarilhos, tripés, óculos que reduzem o campo de visão ou que simulam a sensação de embaciamento, com coletes de vinte quilos de peso, para reproduzir efeitos da idade ou de doenças sobre as articulações ou a flexibilidade, não demoraram a perceber os desafios que enfrenta quem tem dificuldades de locomoção, ou de quem já não tem a mesma capacidade de recuperação cardiovascular.
Fazer o percurso no passeio revelou-se uma impossibilidade, por haver sinais de trânsito no caminho, a calçada levantada, andaimes e muitos outros obstáculos, a que se juntou a ausência de sombras entre a faculdade e o centro da cidade para poderem descansar ou bancos onde se pudessem sentar e a que se pudessem agarrar para obter apoio.
Sara Neves, de 19 anos, estava a ser empurrada por um colega, mas levantou-se da cadeira de rodas quando, mais uma vez, teve de passar para a estrada, com os carros a circular nos dois sentidos, por recear cair, dada a altura do passeio.
“Nota-se que não pensamos em quem está nesta situação. Não há consideração pelas dificuldades que os idosos e outras pessoas com pouca mobilidade possam ter, que não há cuidado na forma como as coisas são feitas para facilitar a vida”, constatou a estudante de primeiro ano de Psicologia, que não costumava prestar atenção a esses pormenores.
Com um elástico a apertar-lhe as pernas, para lhe reduzir a mobilidade, e uma muleta a servir de apoio e a tropeçar com frequência nos paralelos fora do sítio, Aurora Mesquita, de 18 anos, já começou a sentir o cansaço adicional, mais difícil de suportar por não ter onde se abrigar do sol nas paragens a que é forçada.
“A cidade não está preparada. É muito fácil tropeçar ou cair. Por vezes, temos de viver as situações para as sentir de forma diferente”, afirmou a aluna, que tem uma avó “com várias próteses”, um avô que vive com as sequelas de um AVC e disse conseguir “perceber melhor agora a experiência diária deles”.
Maria Miguel Barbosa, uma das professoras, vai alertando no caminho até ao centro da cidade para as dificuldades que os alunos estavam a sentir e que poderiam ser mitigadas, dando uma justificação científica para as dificuldades motoras que iam notando.
Chegados à Praça do Município, ouviram-se comentários de alívio proporcionado pelas características do piso e os declives nos passeios, embora, para entrar na Câmara Municipal da Covilhã (distrito de Castelo Branco), seja necessário vencer a escadaria.
A docente Rosa Marina Afonso sublinhou que, mais elucidativo do que falar nos problemas na sala de aula, é ter a noção prática do que se está a abordar. Depois deste exercício, vai-se seguir uma reflexão e a apresentação de soluções, que o grupo fará chegar à Câmara municipal e à Universidade.
“Ajudar é importante, mas a prioridade deve ser capacitar a pessoa, para que possa fazer as suas tarefas sozinha”, reforçou a professora de Psicologia.
LUSA/HN
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