Foi imediatamente consensual, desde a primeira intervenção no Congresso, que a população portuguesa irá inexoravelmente diminuir nos próximos anos e que o envelhecimento demográfico é inevitável. Usando como critério a percentagem de pessoas com 65 ou mais anos, Portugal está no 5.º lugar dos países com população mais envelhecida do mundo. Atualmente, 24% da população tem 65 anos ou mais.
Contudo, Carla Torre acrescentou que é esperado ocorrer um aumento da prevalência de doenças cardio e cerebrovasculares (AVC, insuficiência cardíaca, etc.) e respiratórias (DPOC, asma, etc.) e que a prevalência de demência irá aumentar significativamente, bem como a mortalidade por tumores malignos da laringe, traqueia, brônquios e pulmão. Foi a primeira palestrante a mencionar a necessidade de mudar o planeamento dos cuidados de saúde e referiu o Plano Nacional de Saúde 2030 da Direção-Geral da Saúde (DGS).
Nuno Marques, coordenador nacional do Plano de Ação de Envelhecimento Ativo e Saudável, descreveu as iniciativas em curso e reiterou a necessidade do envolvimento de múltiplos ministérios e integração dos projetos. Colocou também ênfase na necessidade de readaptação do modelo de cuidados, centrando-o nas pessoas.
Luísa Lopes apresentou vários “tratamentos” que atrasam o envelhecimento nos modelos pré-clínicos (restrição calórica, inibidores SIRT1, metformina, etc.), mas confessou não ter sido ainda possível demonstrar o mesmo efeito nos humanos. E de forma provocadora alertou para o potencial benefício de implementar na sociedade “quotas de idade” por forma a “obrigar” a uma maior interação intergeracional.
Ana Verdelho deu destaque ao potencial benefício da atividade física e exercício, como uma das intervenções não farmacológicas mais benéficas, apresentando resultados de um ensaio clínico que coordenou.
Rui Portugal suportou a necessidade de mudar o centro da discussão, de um tema sobre pessoas mais velhas, para uma noção de promoção de uma vida saudável ao longo de toda a vida. Reiterou que o objetivo mais importante deve ser “comprimir o mais possível” o tempo de doença e perda de autonomia na última fase da vida.
Com a difícil tarefa de propor soluções “económicas”, Pedro Pita Barros começou por reconhecer a pobreza como fator indiscutível de risco para estas doenças. Foi também muito interessante a sua visão de que a ansiedade e os sintomas depressivos, piores num contexto de incerteza económica, podem agravar o risco de desenvolver demências. E, por fim, mencionou a possibilidade de implementar incentivos financeiros para promover estilos de vida saudáveis. Sofia Athayde, em representação do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, reiterou o compromisso da Câmara em estabelecer e apoiar políticas de envelhecimento ativo e proteção social.
Por fim, Tiago Guerreiro alertou para a importância de as soluções tecnológicas serem desenvolvidas de forma participativa e multidisciplinar para verdadeiramente constituírem soluções para as pessoas.
Uma das conclusões do Congresso foi também o reconhecimento da inadequação de uma definição de idade que marque o início da “velhice”. A definição de “velho” é subjetiva e varia culturalmente, além de ter mudado ao longo do tempo. Foram também sugeridas várias medidas prioritárias, desde a ajuda ao planeamento antecipado da reforma, investimento na literacia em saúde, estímulo a uma melhor partilha intergeracional e integração das políticas de várias áreas de ação.
O CNS | Campus Neurológico realiza anualmente um congresso destinado a profissionais de saúde e investigadores na área das neurociências. Este ano, o congresso teve um duplo significado, uma vez que esta 6.ª edição fez também parte das comemorações do 10.º aniversário do CNS.
PR/HN
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