Transplantes pulmonares aumentam, mas lista de espera estabilizou nos 70 doentes

18 de Abril 2024

O número de doentes em lista de espera para transplante pulmonar estabilizou em cerca de 70, apesar do aumento de intervenções, disse hoje o cirurgião Paulo Calvinho, defendendo ser necessário mais estratégias para haver mais órgãos disponíveis para transplantar.

No dia em que a Unidade Local de Saúde São José – Hospital Santa Marta assinala, numa cerimónia em Lisboa, os 400 transplantes pulmonares realizados em Portugal desde 2001, o cirurgião torácico falou à agência Lusa dos avanços e dos desafios nesta área.

O coordenador da Unidade de Cirurgia Torácica do Hospital de Santa Marta, a única instituição que realiza transplante pulmonar no país, adiantou que Portugal está “muito bem” posicionado na transplantação, mas sublinhou que “a doação é sempre o marca-passo de um programa de transplantação”, porque os especialistas dependem deles para “poder socorrer a estes doentes”.

“A doação tem tido um desenvolvimento muito grande no nosso país. Temos uma lei muito favorável e temos hospitais de doação que têm uma dedicação de facto muito grande nesta área, mas como é óbvio precisamos ainda de melhorar mais e precisamos de aumentar o número de dadores de pulmão e o potencial é grande”, salientou.

Paulo Calvinho observou que, comparando com Espanha e com todas as estratégias de doação que os espanhóis têm, verifica-se que Portugal ainda está a cerca de 60% dos órgãos que Espanha colhe, o que significa que ainda é preciso “um longo trabalho na doação”, envolvendo todos os intervenientes, desde o Instituto Português do Sangue e Transplantação até os hospitais de doação.

“Apesar do incremento que nós temos no número de transplantes por ano, a nossa lista de espera estabilizou na casa dos 70 doentes, que é de facto significativo. E, portanto, essa nossa necessidade de poder ter mais estratégias para poder ter mais órgãos disponíveis para transplantar”.

Apontou como um objetivo de futuro, que poderá ser concretizado em breve, ter “uma máquina de perfusão” que permitirá um aumento de cerca de seis a 10 transplantes por ano.

Esta tecnologia pode colocar “em condições para transplantar” alguns pulmões que possam ter edema e que estejam encharcados de água, que é normal acontecer num mecanismo de morte cerebral, libertando essa água, bem como pulmões de doentes que fazem paragens cardiocirculatórias na rua e que não se consegue reanimar.

Para Paulo Calvinho que, juntamente com a pneumologista Luísa Semedo, dirige a Unidade de Transplantação Pulmonar do Hospital Santa Marta, também é importante dar um foco à multidisciplinaridade.

“Esta equipa é muito grande, extravasa o hospital (…) vai desde a referenciação destes doentes, que são todos do país”, às colheitas realizadas no “país inteiro”, e conta com o apoio de todas as estruturas que envolvem a doação e a transplantação, entre as quais a Força Aérea, o Instituto Nacional de Emergência Medica, a GNR, PSP.

Além da multidisciplinaridade, o especialista destacou também o “grande avanço” nas estratégias de comunicação e de sensibilização para a doação de pulmão, com viagens pelo país.

Do ponto de vista técnico, foram ultrapassadas três barreiras, uma das quais “a barreira de doente limite que está no extremo e que está em ECMO (apoio circulatório extracorpóreo) como ponte para transplante e fizemos já casos sucessivos de sucesso”.

“Transpusemos a marca do retransplante e começamos a fazer a transplantação na hipertensão pulmonar que eram ainda barreiras técnicas que ainda não tínhamos conseguido atingir e que neste momento estamos em pleno. E, portanto, é um motivo de orgulho para toda a equipa com quem trabalhamos”, realçou.

Há alguns desafios técnicos e científicos relacionados fundamentalmente com a imunologia e a biologia dos doentes, sendo “absolutamente crucial” conseguir ter estratégias de aumentar a sobrevida a longo prazo.

“As sobrevidas imediatas são boas, na casa dos 90%, 95%, mas a longo prazo há como que uma estagnação a nível Internacional e isso implica metodologias de vigilância do doente no domicílio”, disse, adiantando que estão a trabalhar nesse sentido, assim como na integração de todos os dados, porque o conhecimento que existe “é muito grande, mas precisa de ser integrado”.

LUSA/HN

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