A vitamina D altera as bactérias intestinais no ratinho, melhorando a imunidade ao cancro

25 de Abril 2024

Investigadores do Instituto Francis Crick (Reino Unido), do NCI (National Cancer Institute, EUA) e da Universidade de Aalborg (Dinamarca), descobriram que a vitamina D estimula o crescimento de um tipo […]

Investigadores do Instituto Francis Crick (Reino Unido), do NCI (National Cancer Institute, EUA) e da Universidade de Aalborg (Dinamarca), descobriram que a vitamina D estimula o crescimento de um tipo de bactéria intestinal no ratinho que melhora a imunidade destes animais ao cancro.
Para este estudo contribuiu Carlos Minutti, atual Investigador Principal do Laboratório de Imunoregulação na Fundação Champalimaud, em Lisboa, então investigador pós-doutorado no grupo de Caetano Reis e Sousa, no Instituto Francis Crick em Londres.
Os investigadores descobriram que os ratinhos que receberam uma dieta rica em vitamina D apresentavam uma melhor resistência imunitária a tumores transplantados, bem como uma melhor resposta à imunoterapia. Este efeito foi igualmente observado quando uma proteína que se liga à vitamina D no sangue e a mantém afastada dos tecidos foi removida por manipulação genética.
Surpreendentemente, a equipa descobriu que a vitamina D atua nas células epiteliais do intestino, que por sua vez aumentam a quantidade de uma bactéria chamada Bacteroides fragilis. Este microorganismo conferiu aos ratinhos uma melhor imunidade ao cancro, uma vez que os tumores transplantados não cresceram tanto, mas os investigadores ainda não sabem ao certo como isso acontece.
Para testar se a bactéria, por si só, poderia proporcionar uma melhor imunidade contra o cancro, foi administrada Bacteroides fragilis a ratinhos com uma dieta normal. Estes ratinhos também se revelaram mais capazes de resistir ao crescimento de tumores. Mas isso não aconteceu quando os animais foram submetidos a uma dieta pobre em vitamina D.
Estudos anteriores já tinham sugerido que existia uma ligação entre a deficiência de vitamina D e o risco de cancro nos seres humanos, embora as provas não tenham sido conclusivas.
Para investigar este resultado, os investigadores analisaram os dados de 1,5 milhões de pessoas na Dinamarca, o que revelou uma relação entre os níveis mais baixos de vitamina D e um maior risco de cancro. A análise em separado de uma população de doentes com cancro sugeriu também que as pessoas com níveis mais elevados de vitamina D tinham maior probabilidade de responder bem a tratamentos contra o cancro baseados na imunidade.
Embora a Bacteroides fragilis também esteja presente no microbioma dos seres humanos, serão necessários mais estudos para determinar se a vitamina D ajuda a proporcionar alguma resistência imunitária ao cancro através do mesmo mecanismo nos humanos.
O investigador português Caetano Reis e Sousa, chefe do Laboratório de Imunobiologia do Instituto Crick e autor sénior do estudo, afirmou: “O que mostrámos aqui foi uma surpresa – a vitamina D pode regular o microbioma intestinal de modo a favorecer um tipo de bactéria que confere aos ratinhos uma melhor imunidade ao cancro.
“Isto poderá um dia ser importante para o tratamento do cancro em humanos, mas não sabemos como e porque é que a vitamina D tem este efeito através do microbioma”, disse ainda o investigador. É necessário mais trabalho antes de podermos afirmar conclusivamente que a correção de uma deficiência de vitamina D tem benefícios para a prevenção ou o tratamento do cancro”.
Evangelos Giampazolias, autor deste estudo, então investigador pós-doutorado no Instituto Crick, atualmente Investigador Principal do Laboratório de Imunovigilância do Cancro no Cancer Research UK Manchester Institute, afirmou: “Identificar os fatores que distinguem um microbioma ‘bom’ de um ‘mau’ é um grande desafio. Descobrimos que a vitamina D ajuda as bactérias intestinais a induzir imunidade contra o cancro, melhorando a resposta à imunoterapia em ratos”.
Minutti juntou-se a Giampazolias na análise das populações de células imunitárias nos tecidos intestinais de diferentes grupos experimentais. Para o efeito, foi utilizada a citometria de fluxo, uma técnica que permite analisar com precisão as diferenças entre as populações em diferentes condições alimentares.
Esta investigação foi financiada pelos Cancer Research UK, UK Medical Research Council, Wellcome Trust, por uma bolsa ERC Advanced Investigator, um Wellcome Investigator Award, um prémio da Louis-Jeantet Foundation (Genebra), pelo Intramural Research Program of the National Institutes of Health, pelo CCR-NCI e pela Danish National Research Foundation.
Crédito: Instituto Francis Crick

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