Em declarações à Lusa, a especialista em geriatria Sofia Duque, considerou que este tipo de programas “tem de ser implementado na estrutura do SNS” como “uma resposta que faz parte do leque respostas que o SNS tem de oferecer, e não algo pontual”, como acontece com outro tipo de respostas clínicas “que ninguém questiona se deve existir em todos os hospitais ou não”, como, por exemplo, o serviço de urgência.
“No que diz respeito a este tipo de resposta [geriatria], também precisamos desse tipo de estruturação no que diz respeito, por exemplo, a consultas de geriatria ou unidades de internamento de agudos em geriatria”, afirmou a especialista, acrescentando que “é preciso que este tipo de resposta seja visto como uma estrutura base do SNS”.
Especialistas nacionais e internacionais estiveram reunidos em Lisboa na semana passada, num encontro coorganizado pelo Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos e pelo consórcio “Programming Cost Action 21122”.
No encontro foram debatidos os desafios relacionados com o envelhecimento da população e a Medicina Geriátrica.
De acordo com a base de dados estatísticos Pordata, atualmente 24% da população portuguesa tem 65 anos ou mais, tornando Portugal o segundo país com a maior proporção de pessoas idosas na União Europeia. Estimativas indicam que em 2050 as pessoas com 55 anos ou mais representarão mais de 45% da população em Portugal.
Para responder a estes desafios e promover um sistema de saúde sustentável, os especialistas destacaram durante o encontro a importância de aplicar e tornar acessível em todo o país programas especializados na área da Medicina Geriátrica, considerando que “apresentam tanto benefícios clínicos, como económicos significativos”.
Questionada pela Lusa sobre as unidades de internamento específicas e que doentes seriam destinados a estes locais, Sofia Duque respondeu disse que “doentes que têm risco de deterioração funcional, que tem alterações cognitivas, beneficiarão da avaliação da abordagem neste tipo de unidades (…) seguindo os princípios da geriatria”.
A especialista sublinhou igualmente a necessidade de formação dos profissionais de saúde nesta área considerando que “não é [um assunto] exclusivo a médicos. É para médicos e todos os elementos que fazem parte da equipa multidisciplinar. No fundo, todos os profissionais de saúde que são necessários para estas respostas deveriam ter formação em Geriatria, sejam médicos, enfermeiros, fisioterapeutas ou outros”.
“O facto de a Geriatria não ser reconhecida como uma especialidade também contribui para isso porque não há uma disseminação da cultura geriátrica nos serviços de saúde e nos currículos de formação”, considerou.
A especialista defendeu a importância de os profissionais dos cuidados primários de saúde terem igualmente formação nesta área, lembrando que “grande parte das pessoas mais velhas é aí que recorre”.
“Eu defendo que isto não é incompatível com a criação de uma especialidade. Provavelmente, os doentes mais complexos teriam, de facto, de ser abordados em meio hospitalar pela geriatria. Como acontece com outras especialidades”, afirmou.
“Nós conhecemos a nossa população no que diz respeito à idade, mas ela está muito mal caracterizada no que diz respeito à sua situação funcional e cognitiva, que são aspetos fundamentais para as pessoas continuarem autónomas a viver na comunidade, que é aquilo que, à partida, todos nós individualmente desejamos, mas também para a sustentabilidade do nosso sistema de saúde e social seria fundamental”, afirmou.
LUSA/HN
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