13/03/2023
O workshop tem lugar no próximo dia 25 de março, nas instalações do EDOL. No evento, Carmen Garcia “vai partilhar a sua experiência pessoal e transmitir conhecimentos que contribuam para o desenvolvimento de competências e técnicas que tornem o dia-a-dia do cuidador mais eficiente.”
A iniciativa terá como foco o apoio de cuidadores informais em áreas como a demência, incontinência, higiene e mobilização do idoso.
“Portugal não é um país para velhos, mas é, cada vez mais, um país de velhos. Segundo os censos de 2021, 23.4% da população residente no país tem mais de 65 anos. Atualmente, por cada 100 jovens, temos cerca de 182 idosos e, ao que tudo indica, a tendência será de agravamento nos próximos anos. Ainda assim, a verdade é que os cuidados aos mais velhos raramente são encarados como prioridade e, se existem cursos que preparam as pessoas, por exemplo, para a parentalidade, é difícil encontrar formações que se dediquem exclusivamente aos cuidados deste grupo frágil e muitas vezes dependente”, explica Carmen Garcia.
“Temos, no EDOL, um longo histórico de iniciativas de promoção de literacia em saúde e de apoio à população. Com o lançamento de Cuidaidoso pretendemos dar continuidade a este trabalho”, acrescenta Sara Madureira, do EDOL. “Com estas sessões pretendemos, sobretudo, contribuir e capacitar os cuidadores informais, para que o seu dia-a-dia seja mais eficaz. Acima de tudo, queremos minimizar a sobrecarga a que estão sujeitos. Tudo o que pudermos fazer para a tornar mais leve será um ganho para o cuidador enquanto pessoa, para o EDOL enquanto entidade e para a Sociedade em geral”, conclui.
O workshop será por duas sessões com duração de cerca de duas horas.
PR/HN/VC
27/01/2023
“A entrada numa unidade de geriatria não é definida por critério etário. É a circunstância que cada doente apresenta”, disse à Lusa Gorjão Clara, exemplificando: “um idoso com 85 anos, saudável e sem medicação especifica, que tem uma pneumonia, não tem indicação para ir para uma unidade de geriatria, pois não tem patologia complexa”.
“O mesmo já não acontece a quem com esta idade sofra de insuficiência cardíaca ou renal, ou deficiência cognitiva. Esse doente, multipatológico, põe grandes dificuldades na abordagem terapêutica pois temos que pensar em todas as doenças presentes para que ao tratar uma não agravemos a outra. É este que deve ir para uma unidade de geriatria”, explicou à Lusa na véspera da primeira reunião da Associação de Médicos dos Idosos Institucionalizados.
O responsável, que ainda hoje leciona uma aula na faculdade de medicina sobre geriatria – cadeira que se chama Introdução às Doenças do Envelhecimento – recordou que é em conjunto com o médico interno de serviço que a decisão deve ser tomada, “tal como acontece com as outras especialidades”.
Gorjão Clara, um defensor da especialidade de geriatria, sublinhou que a população está cada vez mais envelhecida e que muita é polimedicada, implicando outras exigências de abordagem do médico.
Disse igualmente que Portugal “está atrasado 30 anos”, recordando que na Europa, além de Portugal, apenas a Grécia não tem a especialidade de Geriatria.
“A geriatria provoca anticorpos”, reconheceu o especialista em Medicina Interna, adiantando que a resistência à criação desta especialidade se deve muito ao receio que os médicos internistas têm de ver esvaziada a sua área de intervenção.
As especialidades que foram sendo criadas ao longo dos anos “foram esvaziando a área intervenção da Medicina Interna. Por exemplo, hoje, se tiver dores no peito, a pessoa procura cardiologia, e não internista”.
“Este esvaziar da Medicina Interna veio criar, do ponto vista emocional, um problema que é estes médicos acharem que perderam importância social e que são menos valorizados por isso, não há argumentos científicos para a não criação da especialidade de geriatria”, afirmou.
De acordo com este especialista, a Medicina Interna tem “um papel fundamental”, defendendo que “é impossível que os hospitais existam sem internistas”.
“Os médicos de medicina interna são o grupo de especialistas mais importantes dentro de um hospital”, disse.
Lembrou que há dezenas de anos que a especialidade existe e é reconhecida como tal em todo o mundo e deu o exemplo do último país da Europa a reconhecer a especialidade de geriatria: a França, em 2000.
Em Portugal, os médicos que fazem formação nesta área e nela trabalham podem ter a competência em geriatria reconhecida pela Ordem dos Médicos.
A este propósito, contou ter ficado surpreendido pelo facto de os candidatos a bastonário da Ordem dos Médicos terem vindo reconhecer apenas a necessidade de estruturas de cuidados paliativos, recordando: “os cuidados paliativos não são para os velhos, são para todos os grupos etários. Mas parece que ignoram que cuidados paliativos não são geriatria”.
Sobre o ensino da medicina, disse precisamente que o ensino clínico (prático), e não apenas o teórico, da geriatria é “uma das falhas”.
“A geriatria é uma cadeira clínica, prática, e não teórica. Podemos ensinar a teoria, mas falta o resto”, concluiu.
Gorjão Clara foi até outubro coordenador do grupo de estudos de geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, tendo coordenado e organizado formações em geriatria a médicos que dão assistência a idosos em lares.
É presidente da Associação de Médicos dos Idosos Institucionalizados, lançada no ano passado e que tem sábado a sua primeira reunião, onde serão abordados os desafios da assistência médica aos idosos que vivem nos lares.
LUSA/HN
26/10/2022
HealthNews (HN)- Sendo já a quinta reunião deste núcleo, o que é que traz de novo este ano?
Sofia Duque (SD) – A Reunião do Núcleo de Estudos de Geriatria é sempre uma oportunidade de abordarmos novos temas relevantes em Geriatria, abrangendo tópicos de natureza médica, mas também psicossocial e ética. Por outro lado, revisitaremos alguns temas já abordados em reuniões anteriores, mas que devem ser atualizados face à sua relevância no tratamento da pessoa idosa. De novo, teremos um workshop pré-congresso sobre sarcopenia e uma mesa de discussão multidisciplinar à volta de dois casos clínicos de doentes idosos.
HN- Quais os principais objetivos da reunião?
SD – O objetivo primordial desta reunião é fomentar a abordagem global da pessoa idosa, tanto no hospital como na comunidade e instituições, aproximando os vários profissionais de saúde que cuidam dos idosos, reconhecendo que todos são necessários para o tratamento completo do idoso. Esperamos contribuir para a melhoria dos cuidados de saúde dos nossos idosos, potenciando a sua autonomia e bem-estar.
HN- Quais os temas que merecem um maior destaque/ importância?
SD – Todos os temas selecionados são importantes e dada a grande abrangência e curriculum próprio da Geriatria foi um desafio eleger os temas a abordar nesta reunião. O Secretariado do NEGERMI construiu o programa desta reunião após um brainstorming, que procurou conciliar os tópicos mais específicos da Geriatria com as necessidades práticas da vivência clínica, sem esquecer os diferentes níveis de assistência clínica dos doentes idosos e os diferentes estádios funcionais e cognitivos das pessoas idosas.
HN- Quais os hot-topics em Geriatria?
SD – Na nossa reunião vamos falar sobre a comunicação com doentes idosos com défice cognitivo e auditivo. Focaremos várias síndromes geriátricas como a insónia, a fragilidade, a dor crónica. Teremos uma mesa especialmente dedicada ao doente com Doença de Parkinson, um exemplo paradigmático do doente geriátrico, e focar-se-ão as quedas e hipotensão ortostática e a disfagia. Também haverá sessões sobre a nutrição e a vacinação em Geriatria, dois pilares para um envelhecimento saudável e bem-sucedido. Vários desafios da prática clínica em Geriatria serão discutidos como a avaliação da capacidade de condução, a gestão do luto e a desprescrição de benzodiazepinas. Dois modelos de cuidados geriátricos especializados em Geriatria vão ser desvendados: a Oncogeriatria e a Medicina Geriátrica Peri-Operatória. Novos fármacos populares em Medicina Interna irão ser analisados à luz dos princípios fundamentais da Geriatria e tentaremos obter respostas para alguns dilemas terapêuticos da prática clínica: O tratamento da osteoporose deve ser diferente consoante o local do esqueleto com menor T score? No idoso frágil, os fármacos anti-hipertensores e alvos terapêuticos devem ser diferentes? E que fármacos e dispositivos inalatórios devemos eleger para tratar DPOC no idoso frágil? Também teremos uma apresentação dos Palhaços d’Opital e encerraremos com chave-de-ouro discutindo com uma verdadeira equipa multidisciplinar dois casos clínicos de doentes idosos, um hospitalizado e outro a viver na comunidade.
HN- Quais as doenças geriátricas que mais preocupam os profissionais de saúde?
SD – Pergunta desafiante e provocatória… Porque frequentemente as doenças que mais preocupam os profissionais de saúde nem sempre são as que mais preocupam os idosos nem as que mais influem na sua qualidade de vida. Esperamos na Reunião do NEGERMI tocar em várias doenças que preocupam os idosos, já que o nosso objetivo é preservar o seu bem-estar e qualidade de vida. Desta forma, é expectável e mesmo desejável que na reunião se fale de muitos aspetos que antes não valorizámos na prestação de cuidados a pessoas idosas. Esperamos assim revolucionar paradigmas!
HN- A Geriatria é uma especialidade que merece uma maior atenção do que aquela que tem?
SD – A Geriatria encontra-se claramente subdesenvolvida em Portugal. Não existem respostas clínicas especializadas em Geriatria de forma estrutural no serviço nacional de saúde, apesar de Portugal ser um dos países mais envelhecidos da Europa. Pontualmente, em alguns hospitais existem consultas de Geriatria geral ou especializadas numa subpopulação com necessidades especiais – uma minoria dos idosos portugueses tem acesso a tais consultas; em ambiente de internamento hospitalar contar-se-á pelos dedos de uma mão modelos que funcionam em pleno de acordo com os princípios fundamentais da Geriatria; a presença obrigatória de um Geriatria nas unidades de cuidados continuados ou nos estabelecimentos residenciais para idosos é atualmente uma utopia…. E os poucos avanços que ocorreram nos modelos assistenciais em Geriatria nos últimos anos, fruto da perseverança e determinação de alguns entusiastas da Geriatria, rapidamente sofreram um retrocesso avassalador com a pandemia; no fundo, porque as respostas clínicas especializadas em Geriatria nunca foram consideradas um direito básico dos idosos, mas antes uma resposta clínica supérflua, secundária e substituível por outros modelos clínicos menos especializados. Quando em Espanha a maioria dos hospitais tem serviços de Geriatria, em Portugal ainda tentamos desenvolver projetos piloto movidos essencialmente pela preferência individual de algum profissional menos ortodoxo e com ideias disruptivas, incompreendidas pela maioria dos seus pares. Mas mais do que falar da Geriatria, importa falar das pessoas idosas e perguntar porque não têm os mesmos direitos e acessibilidade a cuidados de saúde especializados que os seus pares a viver em Espanha, França ou Bélgica? Será a essência dos idosos portugueses diferente dos seus congéneres europeus?…
HN- De que forma é que se pode promover o bem-estar dos idosos?
SD – Para promover o bem-estar dos idosos é fundamental valorizar as suas prioridades, objetivos e expetativas e considerar as várias dimensões da pessoa. Se os cuidados de saúde são fundamentais, tão ou mais importante podem ser a socialização, o envolvimento em atividades lúdicas, a espiritualidade, a autonomia de tomar decisões e fazer escolhas, a capacidade económica para viver dignamente e com conforto.
11/04/2022
Em declarações à Lusa, o médico João Gorjão Clara, professor catedrático de Geriatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, lembra as particularidades das pessoas idosos, que resultam do envelhecimento e as tornam “diferentes da população adulta ou das crianças”.
“O reconhecimento de que era assim para as crianças tem mais de 100 anos, quando se constituiu a pediatria, e não houve, na altura, da parte de nenhuma das pessoas das especialidades médicas, qualquer obstáculo ao reconhecimento de que as crianças tinham de ter uma abordagem própria”, lembrou o especialista em medicina interna, com reconhecimento em geriatria.
Segundo explicou, a Associação dos Médicos dos Idosos Institucionalizados (AMIDI), que será registada este mês, terá a sua sede no Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva e pretende reunir todos os médicos que trabalham com idosos que estão nas Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI).
Dados do Instituto de Segurança Social referentes a 2021 indicam que em Portugal existem 6.029 ERPI (2.529 legais e 3.500 ilegais) e estima-se que nestas estruturas estejam um total superior a 125.000 idosos (90.627 nas legais e 35.000 nas ilegais).
Gorjão Clara disse que o essencial é que as condições de assistência destes idosos sejam as melhores e que os médicos que os assistem tenham uma formação sólida em geriatria.
A AMIDI também pretende também, junto da Ordem dos Médicos e do Ministério da Saúde, fazer com que as regras de constituição das ERPI obriguem à contratação de um médico.
“Não há qualquer lei que obrigue as ERPI a contratar médico. Obriga a contratar enfermeiro, mas não obriga a contratar médico. Numas [o médico] vai uma vez por semana, noutras duas vezes, noutras vai quando é chamado e nalguns casos quando o doente precisa é enviado para as urgências. É esta a realidade”, explicou.
O especialista foi até outubro coordenador do grupo de estudos de geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, tendo coordenado e organizado formações em geriatria a médicos que dão assistência a idosos em lares.
“Sentia que os médicos que dão apoio aos idosos institucionalizados não têm formação especifica e, portanto, não podem otimizar essa assistência (…) que é muito particular”, considerou, recordando um estudo, publicado em 2018, que concluiu que os idosos institucionalizados têm maior taxa de depressão e solidão do que os que vivem na comunidade.
“Só isto já é preocupante, se a assistência médica não é otimizada isso agrava a situação”, acrescentou.
Segundo disse, a ADIMI será uma associação pioneira na Europa, pois só nos Estados Unidos existe uma instituição do género, que reúne médicos que dão apoio a idosos nestas instituições.
Lamentou que em Portugal não exista a especialidade de geriatria, como acontece na maior parte dos países da Europa. Os médicos que fazem formação nesta área e nela trabalham podem ter a competência em geriatria reconhecida pela Ordem dos Médicos.
Gorjão Clara recordou que, além de Portugal, só a Grécia não tem esta especialidade médica.
Contou que a criação da especialidade de geriatria teve sempre resistência de colegas de outras especialidades e que, se no início, quando a cadeira começou a ser lecionada na faculdade (em 2010) apareciam apenas sete ou oito alunos, a situação começa a ser diferente.
“É preciso ser muito resiliente”, reconheceu, acrescentando: “A pouco e pouco, sobretudo as gerações mais novas dos médicos, vão aprendendo que a geriatria é muito importante e que têm de ter formação sólida nesta área e vão aparecendo, quer nos cursos pós graduados que no núcleo de estudos de geriatria da SPMI organizamos, quer noutras ações de formação”.
E apesar da palavra geriatria ter 100 anos, dá um exemplo bem atual dos “anticorpos” que tem: “Ainda hoje, a cadeira [disciplina] na faculdade não se chama ‘Geriatria’, mas sim ‘Introdução às Doenças do Envelhecimento’”.
“Mas o que se aprende é exatamente o mesmo que em qualquer escola médica da Europa, em países onde a geriatria já é uma especialidade”, afirmou, acrescentando que, em Espanha, a Sociedade de Geriatria existe desde 1978 e, em França, desde o ano 2000.
LUSA/HN
16/03/2022
“A necessidade desta bolsa decorre do facto de identificarmos que, por um lado, para aprender e praticar Geriatria é fundamental haver uma componente de formação prática. Existindo poucos locais de formação é muitas vezes necessário que os médicos em formação se desloquem para locais fora das suas áreas de residência”, dentro ou fora do país, “o que representa elevado custo”, afirma Sofia Duque, coordenadora do NEGERMI, citada no comunicado enviado às redações.
Serão atribuídos até 3.000€, num total de 9.000€ destinados a este projeto.
“Reconhecendo que pode ser um obstáculo, o Núcleo de Estudos de Geriatria dispôs-se a ajudar, através da atribuição destas bolsas, os médicos que querem obter o grau de formação em Geriatria. Serão oferecidas aos médicos que de facto demonstrem um interesse especial pela área da Geriatria no seu percurso clínico e curricular”, acrescenta a responsável.
“A Fresenius Kabi, líder de mercado em Nutrição Clínica em Portugal, junta esforços com a Núcleo de Estudos de Geriatria – SPMI nesta importante e pioneira iniciativa de formação. Encaramos a formação, em especial na área da Geriatria, como um pilar para o desenvolvimento da nossa atividade. Em todas as áreas, mas em especial e por comparação na Nutrição Entérica, distinguimo-nos pela abordagem clínica e portfolio diferenciado, considerando que o nosso posicionamento enquanto empresa é Cuidados Intensivos e Patologia Crónica. Como tal, temos muito gosto em apoiar a Especialidade de Medicina Interna, a qual pela sua polivalência desenvolve um trabalho fundamental na prestação de cuidados de saúde em Geriatria”, diz João Carlos Serra, Sales & Marketing Manager Portugal Enteral Nutrition & Retail da Fresenius Kabi.
As candidaturas devem ser enviadas para o email [email protected] até dia 31. Podem inscrever-se internistas, especialistas ou internos de Medicina Interna com atividade ou forte interesse na área da Geriatria.
Mais informações aqui.
PR/HN/Rita Antunes